Berthold Zilly 
Translator

on Lyrikline: 16 poems translated

from: 葡萄牙文 to: 德文

Original

Translation

[a mulher tem a química dos animais...]

葡萄牙文 | Gonçalo M. Tavares

a mulher tem a química dos animais e o pólen das plantas,
e da Grande Alma rouba o Apetite para multiplicar as coisas que nascem.
Os contágios são calmos.
Se uma flor voasse perdia o cheiro;
e se o pássaro tivesse aroma de rosa, de certeza seria coxo.
Porque o mundo se organizou todo de uma vez e depois calou-se.
Ficámos nós, sós, e a Filosofia.
A pedra calada, o animal grunhe,
a erva cresce tão lenta que só a vemos quando ela é adulta,
e os cães ladram debaixo do Sol.
Todos somos resíduos imperfeitos
e os organizadores do Baile saíram logo no início,
deixando a Música, mas não os passos.
Por isso tropeçamos,
partimos a unha má e boa,
apaixonamo-nos por uma mulher e depois já é outra,
e, no Fundo, o que queríamos era sossego e não dançar.
Do que temos medo é da solidão, temos de o reconhecer,
esse caixão que vem antes do tempo,
e nos fecha dos outros e do dia.
O que queremos é sossego;
nem Mistérios nem passos de dança,
apaguem a Música.

© Gonçalo M. Tavares
from: Investigações. Novalis
Editora Difel, (Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores),
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

[die Frau hat die Chemie der Tiere...]

德文

die Frau hat die Chemie der Tiere und den Pollen der Pflanzen
und von der Großen Seele raubt sie den Trieb das Geborene zu mehren.
Die Ansteckungen sind still.
Flöge eine Blume verlöre sie den Geruch;
und hätte der Vogel Rosenduft, gewiss würde er hinken. 
Denn die Welt ist in einem Zug veranstaltet worden und ist dann verstummt.
Übrig geblieben sind wir, allein, und die Philosophie.
Der Stein stumm, das Tier grunzt,
das Kraut wächst so langsam dass wir es erst erkennen, wenn es groß ist,
und die Hunde bellen unter der Sonne.
Wir alle sind unvollkommene Überreste
und die Veranstalter des Balls sind gleich zu Anfang gegangen,
haben die Musik dagelassen, doch nicht die Schritte.
Deshalb stolpern wir,
spalten uns den bösen und den guten Fingernagel,
verlieben uns in eine Frau und dann ist es plötzlich eine andere,
und, im Grunde, was wir wollten, war Ruhe und nicht tanzen.
Wovor wir Angst haben ist die Einsamkeit, wir müssen es zugeben,
dieser Sarg der vor der Zeit kommt,
und uns abschließt von den andern und vom Tag.
Was wir wollen ist Ruhe:
weder Geheimnisse noch Tanzschritte,
stellt die Musik ab!

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

[é evidente que podemos explicar.]

葡萄牙文 | Gonçalo M. Tavares

é evidente que podemos explicar.
é evidente que podemos concluir.
é evidente que podemos curar.
é evidente que podemos abrir 1 consultório e dizer: PAGA!
é evidente que podemos psicanalizar.
é evidente que podemos ter componentes.
é evidente que podemos começar pelo início.
é evidente que podemos ter emoção e razão e céu em cima e terra por baixo.
é evidente que podemos comer e não dar por isso, defecar e não dar por isso,
fornicar e fecundar e não dar por isso.
é evidente que podemos Regressar.
é evidente que podemos enumerar e dar os nomes certos às coisas erradas.
é evidente que podemos acertar.
é evidente que podemos ter 1 corpo sem falhas excepto a Falha Grande que é
MORRER e as outras falhas pequenas que são a dor a doença e a velhice.
é evidente que podemos fixar, explicar, concluir, exemplificar, começar, abrir
1 consultório, curar, receber e pagar, estruturar, desenvolver, ter ideias claras
e ideias claras,
é evidente que podemos pensar, dançar e depois pensar ou então o contrário
é evidente, enfim, de novo, insisto, que podemos explicar,
mas é melhor não.

© Gonçalo M. Tavares
from: Livro da Dança
Assírio & Alvim, Nove
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

[selbstverständlich können wir erklären]

德文

selbstverständlich können wir erklären.
selbstverständlich können wir schlußfolgern.
selbstverständlich können wir heilen.
selbstverständlich können wir ein 1 Praxis eröffnen und sagen: ZAHLEN!
selbstverständlich können wir Psychoanalyse betreiben.
sebstverständlich können wir Komponenten haben.
selbstverständlich können wir mit dem Anfang beginnen.
selbstverständlich können wir Gefühle haben und Recht und den Himmel über uns und die Erde unter
uns.  
selbstverständlich können wir essen und nicht darauf achten, Stuhlgang haben und nicht darauf
achten, vögeln und befruchten und nicht darauf achten.
selbstverständlich können wir Zurück.
selbstverständlich können aufzählen und den falschen Dingen richtige Namen geben.
selbstverständlich können wir es richtig machen.
selbstverständlich können wir 1 makellosen Körper haben außer dem Großen Makel zu
STERBEN und den kleinen Makeln Schmerz Krankheit und Alter.
selbstverständlich können wir festhalten, erläutern, schlussfolgern, veranschaulichen, beginnen,
1 Praxis eröffnen, heilen, einnehmen und bezahlen, strukturieren, entwickeln, klare Gedanken haben und klare Gedanken haben,
selbstverständlich können wir denken, tanzen und dann denken oder auch umgekehrt
und selbstverständlich können wir, ich wiederhole es mit Nachdruck, erläutern,
doch lieber nicht.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

Jardim

葡萄牙文 | Gonçalo M. Tavares

Não há pedras preciosas, não há cofres,
nem tesouros enterrados para brincar aos piratas.
Ninguém conversa entre si – mudos, dirás, ou desinteressados.
Os elementos presentes têm certas cores,
uma ou outra forma, cheiro, e nada mais.
Nenhum valoriza essa extraordinária invenção do alfabeto,
nem a última novidade da engenharia.
Por estes lados a palavra cimento é
uma indelicadeza.
Não falam, isso é certo, mas talvez ouçam.
Recebem, sim: água e palavrinhas que fazem crescer
(as menos inúteis do dicionário.)
E darão algo, certamente, que o mundo foi feito assim:
de trocas inumeráveis,
mas o que dão não se sabe, apenas se sente: dão beleza.
Flores, sim, pequenas ervas circunscritas ao seu sítio
- o da maldade inconsequente –
arbustos indecisos entre crescerem mais
ou ficarem ali a olhar de perto
formigas e outras espécies pacíficas.
E depois: quatro árvores altas. Eis o jardim.
Porém, a autoridade deste não vem das árvores,
mas sim de pequenos pormenores.
Por exemplo: o homem de negócios dá a volta
para não pisar uma flor minúscula.
Chegará atrasado à reunião?

© Gonçalo M. Tavares
from: A Bicicleta de A Capital
Julho, 2004
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

Garten

德文

Keine Edelsteine gibt es, keine Panzerschränke
noch vergrabene Schätze um Pirat zu spielen.
Niemand unterhält sich – stumm sie alle, wirst du sagen, oder teilnahmslos.
Die Anwesenden haben gewisse Farben,
die eine oder andere Form, Geruch, nichts weiter.
Keiner würdigt diese außerordentliche Erfindung des Alphabets,
noch den letzten Schrei der Ingenieurskunst.
In diesen Kreisen ist das Wort Zement
eine Taktlosigkeit.
Sie sprechen nicht, soviel steht fest, doch vielleicht hören sie.
Empfangen, jawohl: das Wasser und die Wörtchen die wachsen lassen
(die minder nutzlosen des Wörterbuchs).
Und etwas werden sie geben, gewiss, denn so wurde die Welt eingerichtet:
als Unzahl von Tauschgeschäften,
doch was sie geben weiß man nicht, man spürt es nur: sie geben Schönheit.
Blumen, jawohl, kleine Kräuter begrenzt auf ihren Ort
– den der inkonsequenten Bosheit –
Sträucher unschlüssig ob sie weiter wachsen
oder aus der Nähe betrachten sollen
Ameisen und andere friedfertige Arten.
Und dann: vier hohe Bäume. Dies der Garten.
Allerdings: seine Geltung kommt nicht von den Bäumen,
sondern von kleinen Dingen.
Zum Beispiel: der Geschäftsmann macht einen Umweg
um nicht auf eine winzige Blume zu treten.
Wird er verspätet zur Sitzung kommen?

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

o sol

葡萄牙文 | Gonçalo M. Tavares

Na infância o sol era um companheiro mais alto,
Que aparecera primeiro no campo de futebol, e aí, parado,
Guardava as costas da baliza e a erva que se tornava quente.
Como se o sol fosse de facto um instrumento de cozinha,
Aperfeiçoado, antigo, mas instrumento, matéria
Que os meninos agarravam com os dedos e cuja
Intensidade podiam por vontade própria regular.
Por exemplo: quando a luz era excessiva
Os dedos protegiam os olhos. Outras vezes
O corpo parecia a conclusão
Natural, instintiva, do calor que vinha de cima:
Recebíamos o sol como o ponto final recebe
Uma frase. Fazia mais sol quando eu tinha seis anos
(quem o fazia?) ou com o tempo e o tédio
Me fui distraindo?

© Gonçalo M. Tavares
from: Autobiografia
JL, 2004
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

Die Sonne

德文

In der Kindheit war die Sonne ein größerer Gefährte,
Der als erster auf dem Fußballplatz erschienen war und dort reglos
Den Rücken des Tores hütete und den sich erwärmenden Rasen.
Als wäre die Sonne tatsächzlich ein Küchengerät,
Vervollkommnet, uralt, doch ein Gerät, Zeug
Das die Kinder mit den Fingen faßten und dessen
Stärke sie nach Belieben regeln konnten.
Zum Beispiel: war das Licht zu heftig
Schützten die Finger die Augen. Andere Male
Schien der Körper der Abschluss
Natürlich, instinktiv, der Hitze die von oben kam:
Wir empfingen die Sonne wie der Schlusspunkt
Einen Satz empfängt. Mehr Sonne gab es als ich sechs war
(wer gab sie?) oder bin ich mit der Zeit und dem Überdruss
Immer zerstreuter geworden?

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

O livro

葡萄牙文 | Gonçalo M. Tavares

De manhã, quando passei à frente da loja
o cão ladrou
e só não me atacou com raiva porque a corrente de ferro
o impediu.
Ao fim da tarde,
depois de ler em voz baixa poemas numa cadeira preguiçosa do jardim
regressei pelo mesmo caminho
e o cão não me ladrou porque estava morto,
e as moscas e o ar já haviam percebido
   a diferença entre um cadáver e o sono.
Ensinam-me a piedade e a compaixão
mas que posso fazer se tenho um corpo?
   A minha primeira imagem foi pensar em
pontapeá-lo, a ele e às moscas, e gritar:
Venci-te.
    Continuei o caminho,
   o livro de poesia debaixo do braço.
Só mais tarde pensei, ao entrar em casa:
   não deve ser bom ter ainda a corrente
de ferro em redor do pescoço
depois de morto.
E ao sentir a minha memória lembrar-se do coração,
esbocei um sorriso, satisfeito.
   Esta alegria foi momentânea,
   olhei à volta:
tinha perdido o livro de poesia.

© Gonçalo M. Tavares
from: Hotel Parnassus
Poetry International, 2002
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

Das Buch

德文

Am Morgen, als ich am Geschäft vorbei kam
bellte der Hund
und griff mich nur deshalb nicht wütend an weil die Eisenkette
ihn hinderte.
Am Spätnachmittag,
ich hatte mir leise im Gartenschaukelstuhl Gedichte vorgelesen,
ging ich denselben Weg zurück
und der Hund bellte mich nicht an weil er tot war,
und die Fliegen und die Luft hatten schon
  den Unterschied zwischen Kadaver und Schlaf bemerkt.
Man lehrt mich Erbarmen und Mitleid
doch was kann ich tun, wenn ich einen Körper habe?
  Mein erstes Bild war der Gedanke
ihn zu treten, ihn und die Fliegen, und zu schreiben:
         Ich hab dich besiegt.
              Ich ging weiter,
   den Gedichtband unterm Arm.
Erst später dachte ich, als ich zu Hause eintrat:
       es ist wohl nicht gut, noch die Kette
aus Eisen um den Hals zu haben
       wenn man tot ist.
Und als ich spürte wie mein Gedächtnis sich ans Herz erinnerte,
       deutete ich ein Lächeln an, zufrieden.
            Diese Freude war kurz,
   ich schaute mich um:
         ich hatte den Gedichtband verloren.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

[Não falo de palavras, nem de goivos]

葡萄牙文 | Pedro Tamen

Não falo de palavras, nem de goivos,
mas de horas atadas ao pescoço.
Poema verdadeiro é sermos noivos:
saber tirar a pele e o caroço

ao grito entre a morte e outra morte
que nos mantenha lassos e despertos
até que venha o talhe que nos corte
e nos retire os poços e desertos.

Por isso, meu amor, o que te dou,
beijo beijado em corpo claro e vivo,
é mais que o verso que te dizem, ou
aliterante, agudo ou conjuntivo.

Colado a tudo, mesmo a contragosto,
o rio inventa o verso, e não assim
como se ao espelho visse o próprio rosto,
mas tu além-palavra, ao pé de mim.

© Pedro Tamen
from: Retábulo das Matérias
Lisboa: Gótica, 2001
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

[Nicht von Worten spreche ich...]

德文

Nicht von Worten sprech ich, noch von Levkojen,
vielmehr von Stunden um den Hals gehängt.
Ein wahres Poem ist’s, daß wir verlobt sind:
Haut und Obstkern zu entfernen wissen

beim Schrei zwischen Tod und anderm Tode
der uns wach und locker hält
bis der Schnitt kommt, der uns schneidet
und uns die Brunnen und Wüsten nimmt.

Daher, meine Liebe, was ich dir gebe,
ein Kuß geküsst auf hellen, lebendigen Leib,
ist mehr als der Vers den man dir sagt, ob
mit Alliteration, Konjunktiv oder stumpfer Kadenz.

An alles geschmiegt, selbst wider Willen,
erfindet der Fluß den Vers, doch nicht so
als sähe er im Spiegel das eigene Gesicht,
vielmehr du jenseitswortig, an meiner Seite.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

[A minha morte, não ta dou.]

葡萄牙文 | Pedro Tamen

A minha morte, não ta dou.
De resto, tiveste tudo
- a flor, a sesta, o lusco-fusco,
a inquietação do dia 8,
as órbitas das mães, das mãos,
das curiosas palavras de não dizer nadinha.
Tudo tiveste: estás contente?

Feliz assim por teres tudo o que sou?
Feliz por perderes tudo o que sei?

Só não te dou o que não serei.
Não, a minha morte, não ta dou.

© Pedro Tamen
from: Retábulo das Matérias
Lisboa: Gótica, 2001
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

[Meinen Tod, den geb ich dir nicht.]

德文

Meinen Tod, den geb ich dir nicht.
Ansonsten hast du alles bekommen
– die Blume, die Siesta, das Zwielicht,
die Aufregung vom 8. des Monats,
die Kreisbahnen der Mütter, der Hände,
der merkwürdigen Worte die rein gar nichts sagen.
Alles hast du bekommen: bist du zufrieden?

Bist also glücklich alles zu haben was ich bin?
Bist glücklich alles zu verlieren was ich weiß?

Nur was ich nicht sein werde, geb ich dir nicht.
Nein, meinen Tod, den geb ich dir nicht.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

Prometeu Prometeu

葡萄牙文 | Pedro Tamen

Entre cacto e gato há um vaso de versos,
no branco das palavras nasce a lua.

(Todos nós, minha amiga, somos irmãos conversos
virados para dentro, para a nossa rua;
só que nuns acontece ter o tejo aberto
um sossego inaudível que nunca será teu.)

No mais, é mais rochedo que deserto,
é mais arqueologia do que minicéu.
Por mim, transformo as letras numa sopa
- de cultura, ora pois, onde me nasço todo
sem rede e sem redil, só olhos e só boca:
nas palavras escavo cavernas segredadas,
concavidades mansas onde há barcos e couves.

Não agrado a ninguém. E tu, se agradas,
é neste meu martelo que não ouves.
No mais, é mais barulho que varejo,
a perna assim, um braço assado, ao fogo.
Porque eu é que te vivo e que te vejo.
Que te crio, que te mato, que te morro.

© Pedro Tamen
from: Retábulo das Matérias
Lisboa: Gótica, 2001
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

PROMETHEUS’ VERSPRECHEN

德文

Zwischen Kaktus und Katze steht ein Gefäß aus Versen,
in der Lücke zwischen den Wörtern geht der Mond auf.

(Wir alle, meine Freundin, sind bekehrte Brüder und Schwestern
nach innen gewendet, nach unserer Straße:
nur daß bei manchen der offene Tejo
eine unhörbare Ruhe hat, die du nie haben wirst.)

Im übrigen ist mehr Fels als Wüste,
ist mehr Archäologie als Minihimmel.
Ich für mein Teil verwandle die Buchstaben in Suppe
– aus Kultur, nun ja, wo ich mir geboren werde ganz
ohne Wiege und Weide, nur Augen und Mund:
in den Worten grabe ich heimliche Gruben
zahme Senken wo Boote und Kohlköpfe sind.

Ich gefalle niemand. Und du, wenn du gefällst,
dann in diesem meinem Hammer den du nicht hörst.
Im übrigen kreißt ein Berg und gebiert eine Maus,
das Bein im Feuer, ein Arm in der Flamme.
Denn ich bin’s der ich dir lebe und dich sehe.
Der ich dich großziehe, dich töte, dir sterbe.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

Ode

葡萄牙文 | Pedro Tamen

Agenda, meu desforço,
subtil celeridade com que esqueço
os termos de ser moço
nos tempos que feneço.

De que me vingas tu, senão
de não ser de compras e de festas
mas de ir comprando pão?
Agenda que me emprestas

mas não me dás nem vendes,
que me vestes gravatas e coletes,
me afagas, me consolas, me defendes.
Fecho-me a sete chaves nas retretes

e assento em ti palavras que desvivo
no rio de que rio aguadamente.
E assim me liberto se me esquivo
Habilidoso e rente.

© Pedro Tamen
from: Retábulo das Matérias
Lisboa: Gótica, 2001
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

ODE

德文

Notizheft, meine Genugtuung,  
subtile Raschheit womit ich vergesse
die Grenzen meiner jungen Jahre
in Zeiten zunehmender Blässe.

Du entschädigst mich reichlich dafür
daß ich statt Feiern und Kauferei
nur eben Brot kaufen gehe.
Notizheft, du leihst mir vielerlei

doch schenkst oder verkaufst mir nichts,
kleidest mich mit Westen und Krawatten,
streichelst mich, tröstest mich, schützest mich.
Ich sperr‘ mich ein im Toilettenschatten

und erricht’ in dir Worte die ich ablebe
im Strom worüber ich Ströme lache.
Und so komm‘ ich frei: entwinde mich
Geschickt und dicht an der Sache.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

16

葡萄牙文 | Pedro Tamen

De neve nada sei, de sol também,
de milhares de sossegos acordados,
da subida do teu rosto atrás dos ombros,
da mão ardente, da vista da sacada
nada sei.
Ponho palavras como coisas feitas:
só entre elas, enquanto jogam, leves,
seu rodado sem cor nem qualidades,
minha ciência existe, e já não minha,
ou só tão minha como tua e delas,
ar entre os dedos, sumo de verdades.

© Pedro Tamen
from: Retábulo das Matérias
Lisboa : Gótica, 2001
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

16

德文

Von Schnee weiß ich nichts, noch von Sonne,
von Tausenden wacher Ruhestunden,
vom Aufstieg deines Gesichtes hinter den Schultern
von der brennenden Hand, von der Erkeraussicht
weiß ich nichts.
Worte setze ich wie Zauberdinge:
allein unter ihnen, während sie spielen, leicht,
ihren Reigen ohne Farbe noch Vorzüge,
existiert meine Wissenschaft, nicht mehr meine,
allenfalls so sehr meine wie deine und die der Frauen,
Luft zwischen den Fingern, Essenz aus Wahrheiten.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

Poema surdo

葡萄牙文 | Bernardo Pinto de Almeida

Chega a noite e surpreende
no meio do silêncio um longo bater de horas
num relógio que não ouves
mas desde sempre acompanhou todas as noites
num corredor que apenas vias
na obscuridade: o exacto retrato do teu medo
esse bater de um coração que traz o tempo
move o tempo
e mecânico
te retira em face da presença da morte
a escolha clara.

Segues caminhos vários
como sempre
todos eles conduzem até um rio inesperado mas de sempre conhecido
tal a tua sombra
tal a tua tumultuosa sombra de que foges
e procuras
como se apenas em vários movimentos
pudesses coexistir contigo mesmo.

Mas onde a doce escolha
a luz
a que haveria de trazer para debaixo dos teus olhos cansados
o acertado movimento
que os não conduzisse sempre para a cegueira?

Disse-o antes:
o amor sem amor devolve-te a ti mesmo
e tudo o que apenas se passou
insiste no horizonte dos teus olhos
e bate como se tivesse já acontecido há muito mais que cem anos
tens dentro de ti um século
e no entanto nada em ti se esqueceu
nem um vago momento rasga
a fotografia breve daquilo que foi
tudo parece impresso e és tu o papel
emaciado.

Queres dar sentido ao que não tem sentido
ou perceber um rosto no que já não tem rosto
e frágil pela noite que ainda te inunda os olhos
ver um fio condutor que lá não está.

E tudo à tua volta te desmente
nem a palavra exacta te soa nos ouvidos
nem a boca acompanha a forma das palavras:
como num filme mal dobrado as palavras descoincidem
com os movimentos dos lábios se estes falam. E tudo
te parece por dentro paisagem devastada
que semente alguma
o vento ainda trouxesse a visitar.

Há um tribunal em que és o réu e o advogado
e as testemunhas todas que perpassam
e és também o estrado e a balaustrada
e o juiz circunspecto que te escuta:
e o crime de que te acusam
jamais o perpetraste
mas ainda assim confessas
e pedes o castigo
para que nada reste do que foi a liberdade
para que de ti apenas fique um registo esquecido
num arquivo poeirento que jamais alguém visitará.

E pergunto-me o que havia no teu rosto
que animal demente prenunciava
na sua a voz mortal que preparava
entre sonhos o sem fim e sem lamento.

© Bernado Pinto de Almeida
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

Taubes Gedicht

德文

Die Nacht bricht an und überraschend
inmitten des Schweigens ertönen lange Stundenschläge
einer Uhr die du nicht hörst
doch immer schon hat sie die Nächte begleitet
in einem Flur den du kaum im Finstern
sehen konntest: genaues Abbild deiner Angst
dies Schlagen eines Herzens das die Zeit mitbringt
die Zeit bewegt
und mechanisch
dir nimmt im Angesicht des Todes
die eindeutige Wahl.

Du folgst verschiedenen Wegen
wie immer
führen sie alle zu einem unverhofften, doch schon immer bekannten Fluß
so dein Schatten
so dein tobender Schatten vor dem du fliehst
und den du suchst
als könntest nur in verschiedenen Bewegungen
du mit dir selbst zusammenleben.

Doch wo die liebliche Wahl
das Licht
das dir unter die müden Augen brächte
die abgesprochene Bewegung
damit sie nicht immer in Blindheit gerieten?

Ich hab es schon gesagt:
Liebe ohne Liebe führt dich auf dich selbst zurück
und alles kaum Vergangene
verharrt am Horizont deiner Augen
und schlägt als wär’s weit mehr als hundert Jahre vorbei
du hast in dir ein Jahrhundert
und doch hat nichts in dir vergessen
kein flüchtiger Augenblick zerreißt
die kurze Fotografie von dem was war
alles scheint gedruckt und du bist das Papier
ausgemergelt.

Sinn geben willst du dem was keinen Sinn hat
oder ein Gesicht erkennen in dem der kein Gesicht mehr hat
und zerbrechlich in der Nacht die dir noch die Augen flutet
einen roten Faden sehen der dort nicht ist.

Und alles um dich verleugnet dich
kein genaues Wort klingt dir im Ohr
kein Mund folgt der Form der Wörter:
wie in schlecht synchronisierten Filmen verfehlen die Wörter
die Sprechbewegung der Lippen. Und alles
scheint dir im Innern verwüstete Landschaft
wohin der Wind noch keinen Samen
zu Besuch geholt hätte.

Es gibt ein Gericht wo du Angeklagter und Anwalt bist
und all die Zeugen die nacheinander auftreten
und bist auch Podest und Balustrade
und der umsichtige Richter der dich anhört:
und das Verbrechen dessen man dich anklagt
hast du niemals verübt
und dennoch gestehst du
und bittest um Strafe
damit nichts fortbestehe von dem was Freiheit war
damit von dir nur bleibe eine vergessene Akte
in einem verstaubten Archiv das niemand je besuchen wird.

Und ich frage mich was stand dir im Gesicht
welch wahnsinniges Tier ertönte
wie die tödliche Stimme die uns gewöhnte
unter Träumen aufs Endlose, Klaglose.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

Hotel Spleen 2

葡萄牙文 | Bernardo Pinto de Almeida

Não. Não a ferida — dor de nós mesmos
condição corrente nos tempos que vão
a disfarçar numa sombra de estoicismo
o que se vê de longe à vista desarmada,
ainda que isso apenas forma ténue
passagem de um vapor no horizonte.

A mulher que da sala para a cozinha
leva nas mãos o peso que sustenta a casa
sua força hipotecada
a uma ordem qualquer do universo,
o gesto solícito do porteiro diante da gorjeta
criança que chora no berço.

Tudo isso — por consideração que se lhe deva —
por injusto que seja, conduta imperativa
jogo da finança fortuna nos casinos
acidentes vários combustão do mundo
não chega para assinalar o que parece impor
a tristeza que de dentro do mundo cobre o mundo.


Fina, subtil dor que nos renega nos rasga
nos deixa a braços com nada
presença do que foge do que ficou por dizer
sem mistério nem medo
mas ainda assim ao lado do que interessa
abaixo, acima do que interessa.

A forma que a tristeza toma tantas vezes
quando num olhar magoado que se ergue
um só fio de voz do outro lado
frágil segurança que numa teia se teceu.
Canção do cabaré voz gemida do travesti
voz nostálgica na rádio riso desbotado.
 
Pathos do medo ou da obscuridade
sorriso trémulo junto a um túmulo deserto
luzir dos olhos sob a lágrima, boca que estremece
diante do mundo trágico )cómico( até fúnebre
— não a alma as suas expressões
a compaixão do mundo.

A lucidez da real- politik o fausto das largas avenidas
seus transeuntes inebriados de luz, pobres, sem- abrigo
a dor compassiva dos gestos suburbanos
que se vestem à noite no silêncio dos quartos
deusas num cinema doméstico: ainda
a consciência deste fio de vida

gotejando como se por uma brecha.
O que avariou para sempre
passo em falso no trapézio
momento sem grandeza em que se fecha:
como chamar-lhe sem convocar num lapso
as formas heróicas do dizer?

Senão no braço magro de sida
que estende ao fio do candeeiro um gesto último
brutal a solidão que no berço anuncia o seu destino
mundo de dor e suspeita não mais escapável
náufrago que ao longe de uma vez se afunda
horizontes que contemplam deslumbrantes poentes.

Inevitável tragédia cobre-nos, dia após dia
cada vez que uma mão se solta de outra
riso não coincide com o riso que o suscita
olhar com o olhar que o procura
a casa  já não está onde ainda ontem parecia
sólida serena inexpugnável.

É então cósmico esse grave silêncio
que desce como um manto sobre as coisas
poeira de estrelas devastadas do arrefecimento
que aos pouco sobre todos vai caindo
obedecendo a princípios anteriores a tudo?
Caos reina em toda a parte.

Guerra em toda a parte:
fio de nada em volta da cabeça: negrume
indiferença para que todos trabalham sem descanso.
Está cansada a manhã se ao levantar-se
não surpreende o mundo como a rosa que foi
o mar que já não encontra areia mas um muro

a voz quando o telefone se desliga
ou se faz nela sentir o peso a dor contida
daqueles que envelhecem em silêncio?
Envelheceu o mundo:
reduziu-se ao pouco mais que nada
mesmo se por debaixo do maior barulho.

Ainda que de si a si nada atormente mais
o velho que morre abandonado sobre a cama
o que se asfixiou se pendurou na cela
em vez da estrada firme preferiu
momento sem nome sequer tempo lá dentro
a amplitude do salto sobre qualquer vazio?

Tudo então é silêncio?

© Bernado Pinto de Almeida
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

Hotel Spleen 2

德文

Nein. Nicht die Wunde – Schmerz um uns selbst
ständiger Zustand in diesen Zeiten
verhüllend in stoischem Schatten
was man von fern mit bloßem Auge sieht,
bilde es auch nur das zarte
Gleiten eines Dampfers am Horizont.

Die Frau die vom Wohnzimmer zur Küche
auf den Händen trägt die das Haus stützende Last
ihre Kraft verpfändet
irgendeiner Ordnung des Alls,
die beflissene Geste des Pförtners zum Trinkgeld
in der Wiege ein weinendes Kind.

Dies alles – wie achtenswert es sei –
wie ungerecht auch immer, zwingendes Verhalten
Spiel der Finanzen Fortuna in den Kasinos
verschiedene Unfälle Brand der Welt
zeigt längst nicht deutlich genug was zu gebieten scheint
die Traurigkeit die aus dem Weltinnern die Welt überzieht.

Feiner, subtiler Schmerz der uns verleugnet uns verreißt
uns im Stich läßt vor nichts
Gegenwart dessen was flieht was ungesagt blieb
ohne Geheimnis noch Angst
dennoch neben dem was betrifft
unter, über dem was betrifft.

Die Form in die Traurigkeit so oft sich kleidet
wenn in bekümmertem Blick sich erhebt
ein einzelner Stimmfaden auf der andern Seite
brüchige Sicherheit in Gespinst gesponnen.   
Variétéchanson Transvestitenseufzen
nostalgische Radiostimme verblichenes Lachen.
 
Pathos der Angst oder der Dunkelheit
zitterndes Lächeln an verlassenem Grab
leuchtende Augen unter der Träne, bebender Mund
vor tragikomischer, ja trauernder Welt
– nicht die Seele ihre Ausdrucksformen
das Mitleid der Welt.

Die Hellsicht der Realpolitik der Pomp der breiten Boulevards
ihre lichttrunkenen Passanten, arm, obdachlos
der mitleidige Schmerz der Vorstadtgebärden
die nachts sich ins Schweigen der Schlafzimmer hüllen
Heimkinogöttinnen: überdies
das Bewußtsein dieses Lebensfadens

tropfend wie durch eine Bresche.
Was für immer beschädigt hat
Fehltritt auf dem Trapez
glanzloser Augenblick worin eingeschlossen:
wie ihn nennen ohne irrtümlich einzuberufen
die heroischen Redeformen?

Wenn nicht im aids-mageren Arm
der zum Lampendocht eine letzte Gebärde streckt
roh die Einsamkeit die in der Wiege sein Schicksal kündet
Welt aus Schmerz und Verdacht nicht länger entrinnbar
Schiffbrüchiger der in der Ferne für immer untergeht
Horizonte beim Schauen blendender Sonnenuntergänge.

Unausweichliche Tragödie überzieht uns, Tag für Tag
jedesmal wenn eine Hand sich von der andern löst
Lachen stimmt nicht zum es erregenden Lachen
Blick nicht zum ihn suchenden Blick
das Haus steht nicht mehr wo es gestern schien
gediegen heiter uneinnehmbar.

Kosmisch dann dies ernste Schweigen
das herabsinkt wie ein Mantel auf die Dinge
Staub verwüsteter, erkalteter Sterne
der allmählich auf alle fällt
nach Prinzipien die älter sind als alles?
Chaos herrscht überall.

Krieg überall:
Faden aus nichts um den Kopf: Schwärze
Gleichgültigkeit alle arbeiten dafür unermüdlich.
Müde der Morgen wenn er beim Aufgehen
nicht die Welt überrascht wie die Rose die war das Meer
das nicht mehr auf Sand trifft sondern auf eine Mauer

die Stimme wenn das Telefon abbricht
oder man in ihr die Last spürt den verhaltenen Schmerz
derer die schweigend altern ?
Gealtert ist die Welt:
geschrumpft zu wenig mehr als nichts
selbst unter dem größten Lärm.

Auch wenn im Innersten nichts mehr quält
den Alten der auf dem Bett verlassen stirbt
der in der Zelle erstickte sich erhängte
statt der festen Landstraße wählte
einen namenlosen ja zeitlosen Augenblick dort drinnen
die Spanne des Sprungs über irgendeine Leere?

Ist alles dann Schweigen?

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

As mãos

葡萄牙文 | Bernardo Pinto de Almeida

Onde tu pousas as mãos,
naturalmente
eu vou pousar as minhas. Um silêncio
faz-se pela casa, uma luz coada vem da janela
e cobre os móveis de uma poalha
doirada. Os objectos estão quietos
como nunca.

Onde tu pousas as mãos,
onde tu pousas mesmo se brevemente as mãos,
torna-se íntima a percepção que se tem de cada hora,
de cada amanhecer,
de cada exacto momento. O entardecer
é só um vasto campo que se abre,
um rumor de folhas que restolham no jardim.

Escrever é ler,
ler é escrever - eu sei isso
porque em cada sítio onde [do meu corpo] tu pousaste as tuas mãos
ficou escrito - eu vejo-o:  nítido -
sobre o mais frágil espelho dos sentidos, uma palavra que se lê
de trás para diante. Quando te deitas eu sinto-lhe o perfume,
que é o da noite que entra pela janela.

E onde tu pousas as tuas mãos faz-se um rio
de prata e de quietude mesmo nas minhas mãos
que pousam onde as tuas foram antes procurar
a quietude, procurar as tuas mãos. São exactas as tuas mãos,
são necessárias, têm dedos
que são os filamentos de gestos que descrevem na penumbra
desenhos tão perfeitos que surpreendem.

Onde tu
pousares as tuas mãos
eu quero estar.
Exactamente como a sombra
cai na sombra. A água
na água. O pão  
nas mãos.

© Bernado Pinto de Almeida
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004
The audio version is based on a former version of the poem before called 'Maturidade 2'

Hände

德文

Wo du deine Hände ruhen läßt
natürlich
werde ich die meinigen ruhen lassen. Schweigen
wird ums Haus gefiltertes Licht kommt vom Fenster
und überzieht die Möbel mit feinem Staub
aus Gold. Die Gegenstände sind still
wie nie.

Wo du ruhen läßt
deine Hände
wo auch nur kurz du ruhen läßt
deine Hände
wird tiefinnerst
die genaue Wahrnehmung einer jeden Stunde
eines jeden Tagesanbruchs
eines jeden genauen Augenblicks. Der Tagesausklang
ist nur ein weites Feld das sich öffnet
ein Raunen von Blättern die im Garten rascheln.

Schreiben ist lesen
lesen ist schreiben – ich weiß
denn einer jeden Stelle wo auf meinem Körper
du deine Hände ruhen ließest
blieb eingeschrieben – ich sehe es
deutlich – im zerbrechlichsten
Spiegel der Sinne ein Wort zu lesen
von hinten nach vorn. Wenn du zu Bett gehst
spüre ich seinen Duft
den der Nacht die durchs Fenster kommt.

Und wo du deine Hände ruhen läßt
wird ein Fluß aus Silber und Stille
selbst in meinen Händen
die ruhen wo die deinen vorher waren
auf der Suche nach Stille
auf der Suche nach deinen Händen. Genau sind
deine Hände
sind notwendig
sie haben Finger die Staubfäden sind
von Gesten die im Halbschatten beschreiben
Skizzen so vollkommen daß sie verblüffen.

Wo künftig du deine Hände ruhen läßt
will ich sein
genau wie der Schatten
in den Schatten fällt. Das Wasser
ins Wasser. Das Brot
wird in den Händen.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly
Der Übersetzung liegt ein frühere Textfassung des Gedichtes zu Grunde, als es noch 'Reife 2' betitelt war.

Os mortos 1

葡萄牙文 | Bernardo Pinto de Almeida

Murmura-se pela casa
as crianças são afastadas para quartos
onde brincam e lhes pedem silêncio
graves criadas murmuram e restolham aventais
rangem as tábuas nos soalhos. Os mortos são assim
a tudo impõem sua regra de espanto
a morte é uma sucção de tudo à volta
como se a todos apontasse um dedo acusador.

Da sala para o quarto, do quarto para a cozinha
os passos avançam como se envergonhados. Morreu?
ainda está vivo? Ninguém sabe ao certo
quando as agulhas do relógio designam pontiagudas
horas que arrefecem nos cristais
sobre a toalha.

A mesa estava posta, os convidados próximos
vieram irmãos e familiares de longe
para saudar outra vez aquele que parte
não têm que dizer-se nesse encontro perplexo
que o tempo não ajustou senão por cerimónia
e olham-se uns aos outros numa vertigem cega
de se sentirem apoiados num qualquer sentimento,
um consentimento que os ligue a si, aos outros, ao seu tempo
porque aquele que morre os suga para dentro de outro tempo.

Assim a morte vai enchendo as nossas vidas
nem melhores nem piores, cada vez mais vazias,
vazias de si mesmas vazias de sentidos
que nos outros prolonguem o que já antes fomos:
numa fotografia entre laços, a infância,
nesta outra a correr e uma bola fugindo,
numa outra ainda um triciclo, depois no acampamento,
uma carta de curso, entre outros no quartel.

Mas inexorável o tempo nos apaga esses rostos
onde o espanto se fixava onde tudo era branco
nada se escrevia senão um gesto atento
uma delicadeza para com um outro olhar:
a mãe que se afastava, a namorada frágil
ou num grupo de amigos junto a um carro polido
um cigarro pendendo negligente dos lábios
um pull-over que ficou a preto e branco e
ela a sorrir ainda, a tia que se suicidou
antes do tempo.

Agora o morto está deitado sobre a cama
dir-se-ia que respira, dir-se-ia a sorrir,
mas no rictus imóvel ele já não está ali
partiu para qualquer lado deixa-nos de sobreaviso
vagos de nós mesmos como quartos devolutos
numa pensão de província que já ninguém frequenta.

Entre os vestidos pretos há um rosto que soluça
em que o silêncio faz de fogo cada lágrima
sob uma madeixa branca uma saudade traz
um qualquer suplemento a todo este vazio:
um filho que aproxima o corpo do pai ido
beijo que se troca de luto partilhado
abraço que ressoa do casaco apertado
da gravata com mofo no fundo de um armário.

A todos os convoca o morto neste dia
em que a todos dispensa silêncio por igual
pois todos se lhe tornam familiares na morte
mesmo o que passa ao acaso para entregar uma carta.

E uma porta se abre, uma janela que passa
deixa entrever um breve clarão de azul
um sol que cai a pique na hora do meio dia
faz destas horas graves um tempo quase esférico
de tão redondo, tão vazio,  
tão, para sempre, inapreensível.

© Bernado Pinto de Almeida
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

Die Toten 1

德文

Geflüster im Haus
die Kinder werden auf ihre Zimmer geschickt
wo sie spielen und still sein sollen
ernste Hausmädchen flüstern es und Schürzen rascheln
Dielen knarren. So sind die Toten
allem drücken sie ihre bestürzende Satzung auf
der Tod ist ein Saugen an allem ringsum
als zeigte er auf alle mit Anklagefinger.

Vom Wohn- zum Schlafzimmer, vom Schlafzimmer zur Küche
tasten die Schritte sich fast schamhaft vor. Ist er tot?
lebt er noch? Niemand weiß genau
wann die Uhrzeiger spitzig bezeichnen
Stunden die in kristallenen Gläsern erkalten
auf dem Tuch.

Der Tisch war gedeckt, die nächsten Gäste
kamen Geschwister und Verwandte weither
um den noch einmal zu grüßen der fortgeht
sie müssen sich bei dieser ratlosen Begegnung nicht sagen
die Zeit sei nur rein äußerlich vergangen
und betrachten einander blind benommen
getragen von irgendeinem Gefühl
einem Miteinandergefühl das soll sie verbinden mit sich, miteinander, mit ihrer Zeit
denn der Sterbende saugt sie in eine andere Zeit.

So füllt allmählich der Tod unsere Lebensläufe
die weder besser noch schlechter sind, immer leerer,
leer von sich selbst leer von Bedeutungen
die in anderen verlängern sollen was wir einst waren:
auf einer Fotografie voller Schleifen die Kindheit,
auf dieser andern beim Laufen nach einem fortrollenden Ball,
auf einer dritten ein Dreirad, dann beim Zelten
ein Diplom, mit anderen in der Kaserne. 

Doch unerbittlich löscht die Zeit uns diese Gesichter
wo eben Bestürzung sich eingrub wo alles weiß war
nichts wurde geschrieben als eine wache Geste
Augenmerk auf einen andern Blick:
die Mutter als sie ging, die zarte Geliebte
oder mit Freunden an einer blanken Limousine
eine nachlässig an den Lippen hängende Zigarette
ein schwarz-weiß erscheinender Pullover und
sie noch lächelnd, die Tante, die später sich das Leben nahm
vor der Zeit.

Jetzt liegt der Tote auf dem Bett
als atmete er, als lächelte er,
doch mit dem reglos verzogenen Mund liegt er nicht mehr dort
fortgegangen irgendwohin läßt er uns gewarnt zurück
leer von uns selbst wie geräumte Zimmer
in einer Provinzpension die niemand mehr aufsucht.

Zwischen den schwarzen Kleidern ein schluchzendes Gesicht
worin das Schweigen aus jeder Träne Feuer schlägt
unter einer weißen Strähne bringt Wehmut
etwas wie Ergänzung zu all dieser Leere:
ein Sohn der zur Leiche des Vaters tritt
ein Kuß in gemeinsamer Trauer getauscht
eine Umarmung die von der Jacke raschelt
von der Krawatte voll Muff aus der Tiefe des Schrankes.

Sie alle ruft der Tote an diesem Tag zusammen
ihnen allen spendet er gleichermaßen Stille
denn alle werden ihm nah verwandt im Tode
selbst einer der nur vorbeikommt einen Brief abzugeben.

Und eine aufgehende Tür, ein flüchtiges Fenster
läßt einen kurzen blauen Schimmer erspähen
eine senkrecht stürzende Sonne in der Mittagsstunde
wandelt diese ernsten Stunden zu fast sphärischer Zeit
vor lauter Rundheit, lauter Leere,  
vor lauter – immerwährender – Unfaßlichkeit.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

O Deus da minha infância

葡萄牙文 | Bernardo Pinto de Almeida

O Deus da minha infância
era verde
verde como um fruto
amargo como um campo extenso
alargando-se até para lá do horizonte
corria montanhas e rios
descia suave pelas colinas
detinha-se nas ervas
nos riachos
anunciava nas árvores jovens
o rebentar da primavera.

O Deus da minha infância
era loiro
como trigo sereno ondulante
cavava fundo a terra
adormecida e as cigarras
cantavam nela ao fim da tarde:
explodia vivamente
em cada sol
nascia pela manhã e velava de noite
o meu sono
a solidão tranquila
do rosto moldado na almofada.

O Deus da minha infância
era azul
estava em todo o céu como o azul
era as gotas de orvalho
sobre as folhas
o ar muito fino e respirável
que a cada hora atravessava a folhagem
os ramos muito altos
e os enaltecia de verde.

O Deus da minha infância
era breve
colhia-se na tarde
ao calor
sob as árvores generosas como frutos
e apertava-se frio contra os dentes
imaturos
tornando-os rijos e brancos
luminosos
passando em cada gesto
como um sinal intenso.

O Deus da minha infância
ao descer da voz
ouvida ao longe
era um cavalo de prata
junto à minha janela
era um olhar fugaz
que se voltava para a sombra
e que julgava ver nela
todo o mistério do mundo
toda a violência das tardes
toda a ordem plasmada no cosmos
muito amplo
acima de todos
de cada um de nós.

O Deus da minha infância
brincava
com os gatos que saltavam dos telhados
com os cães que adormeciam ao sol
com as crianças
que rodopiavam em rodas
em torno do pião
que rodava.

O Deus da minha infância
era pobre
escutava as vozes das lareiras
comia a broa âzima
pousava sobre a mesa de castanho velho
e detinha-se nas linhas
fundas da madeira
nos seus nós escurecidos:
assomava às janelas
de vidro barato
coalhadas da humidade
descia pela garrafa de azeite espesso
misturava-se com o vapor acre do vinho
crepitava nas brasas entre castanhas e fumo
afundava-se nas rugas dos velhos
de mãos encarquilhadas
pelo frio e pela usura.

O Deus da minha infância
se acaso me visita
fala-me das vezes temerárias
em que me aventurava nas águas agitadas
de um rio
em que afundava o corpo
na terra ainda quente
e abraçando-me a ele
leva-me de volta ali
a esse lugar remoto de onde nunca parti
a essa funda origem
aonde O conheci.

© Bernado Pinto de Almeida
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

Der Gott meiner Kindheit

德文

Der Gott meiner Kindheit
war grün
grün wie eine Frucht
bitter wie ein weites Feld
das sich dehnt bis hinter den Horizont
er lief über Berge und Flüsse
stieg sanft die Hügel herab
verweilte in den Gräsern
an den Bächen
kündigte in den jungen Bäumen
den Aufbruch des Frühlings an.

Der Gott meiner Kindheit
war blond
wie Weizen heiter gewellt
grub tief die Erde
die schlummerte wo die Grillen
spätnachmittags zirpten:
ein Ausbruch von Lebendigkeit
mit jedem Tag
morgens geboren und nachts ein Hüter
meines Schlafs
der ruhigen Einsamkeit
des kissengestalten Gesichts.

Der Gott meiner Kindheit
war blau
war am ganzen Himmel wie das Blau
war die Tautropfen
auf den Blättern
die hochfeine Atemluft
die immerzu durchs Blattwerk wehte
die hochragenden Äste
und sie grün erhöhte.

Der Gott meiner Kindheit
währte kurz
wurde nach Mittag gepflückt
zur Hitze
unter den freigebigen Bäumen als Obst
und drückte kalt gegen die unreifen
Zähne
machte sie fest und weiß
leuchtend
legte in jede Gebärde
gleichsam ein kraftvolles Zeichen.

Der Gott meiner Kindheit
wenn in der Ferne
eine Stimme verhallte
war ein Silberpferd
an meinem Fenster
war ein flüchtiger Blick
zum Schatten
worin er zu sehen meinte
das ganze Geheimnis der Welt
die ganze Gewalt der Nachmittage
die ganze in den Kosmos geprägte Ordnung
der weit sich dehnt
über allen
über einem jedem von uns.

Der Gott meiner Kindheit
spielte
mit den Katzen die von den Dächern sprangen
mit den Hunden die in der Sonne schlummerten
mit den Kindern
die im Kreise wirbelten
rund um den
Kreisel.

Der Gott meiner Kindheit
war arm
hörte die Stimmen der Kamine
aß das ungesäuerte Maisbrot
saß nieder auf dem Tisch aus alter Kastanie
und weilte in den tiefen
Rillen des Holzes
in seinen gedunkelten Aststellen:
erschien in den Fenstern
aus billigem Glas
die geronnen aus Feuchte
stieg aus der Flasche voll zähen Olivenöls
verschmolz mit dem herben Hauch des Weines
knisterte im Feuer zwischen Kastanien und Rauch
tauchte in die Runzeln der Alten
mit ihren Händen schrundig
vor Kälte und Abnutzung.

Der Gott meiner Kindheit
wenn er mich bei Gelegenheit besucht
erzählt mir von den verwegenen Abenteuern
da ich in die wilden Wasser sprang
eines Flusses
da ich den Körper tauchte
in die noch heiße Erde
und wenn ich ihn umarme
bringt er mich dorthin zurück
zu diesem fernen Ort der mich bannte
zu diesem tiefen Ursprung
wo ich Ihn erkannte.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly

No bicentenário de Kant

葡萄牙文 | Bernardo Pinto de Almeida

Sim —
digo que foi sublime. Mas
não desse carácter que certas coisas tomam —
pores de sol numa paisagem vasta
como queria Kant
no seu entendimento extenso
quando se avolumam quando se tornam
grandes como se crescessem para lá do mensurável
e do humano. Antes um sublime
de modéstia ou de pensão barata
de cerveja
tépida num bar em rua lateral às avenidas.

Seja —
nem gestos maiores do que os mais simples
nem outra coisa que os corpos
a sua lividez
a sua bela doçura contra um fundo de ruídos
quotidianos
a sua fome sangrenta e manchada
de culpa
de pecado. Assim nada
que se comente em círculos mais híbridos
ou se diga fora de outro modo de dizer
do que esse que os mesmos corpos pedem
ansiosos
logo se reconhecem.

Na pintura talvez —
por exemplo o sábio Tiziano
velho pintor ousando
toda aquela nudez desfigurada
como se pintasse com o próprio sexo
debaixo das poses voluptuosas
de cânones ainda consentidos
em paganismo de entreter salões
outros segredos que as imagens conservaram.

Sublime então —
não de grandeza ou de terror
mas o da pele
a sibilina pele arrepiando-se
contra um frio mosaico
os joelhos nus
ajoelhando-se uma boca ávida
uma língua a inclinar-se dos dentes
como num quadro de Bacon. Ou
estremecendo um sexo
quando tocado de outro
um do outro
um no outro
um contra o outro
talvez
porque esta guerra é sublime
porque um abraço é sublime quando
transporta ao mesmo tempo a vida e a morte. Quando
contém na vida a própria morte
um espasmo — um retesar dos músculos
que se querem ainda impetuosos
mesmo se já feridos do cansaço —
isso é o sublime. O da matéria. O dos pobres
também porque de repente iguais
todos iguais a todos quando
na morte como no gesto nu
despedaçando urgente extremo
exacto o arco que se tende —
isso —
é o mais mortal
porque o mais verdadeiro.

© Bernado Pinto de Almeida
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

Kants zweihundertster Todestag

德文

Ja –
gewiß war es erhaben. Doch
nicht nach der Art gewisser Dinge –
Sonnenuntergänge vor weiter Landschaft –
wie Kant sie wollte
in seinem ausgreifenden Verstand
wenn sie anschwellen wenn sie groß
werden als wüchsen sie übers Meßbare
und Menschliche hinaus. Vielmehr das Erhabene
der Bescheidenheit oder einer billigen Pension
des lauwarmen
Biers einer Bar seitab der Boulevards.

Es sei –
weder größere Gesten als die einfachsten
noch anderes als die Körper
ihre Blässe
ihre schöne Milde vor dem Hintergrund
von Alltagsgeräuschen
ihr Hunger blutig und befleckt
von Schuld
von Sünde. Nichts also
was man bespräche in hybrideren Kreisen
oder redete außerhalb einer anderen Redeweise
als derjenigen die ebendiese Körper verlangen
sehnsüchtig
sogleich sich erkennend.

In der Malerei vielleicht –
zum Beispiel der weise Tizian
ein alter Maler voll Wagemut
zu all jener entstellten Nacktheit
als malte er just mit dem Geschlecht
unter den wollüstigen Posen
noch anerkannter Kanons
heidnisch geführter Salons
andrer Geheimnisse in den Bildern bewahrt.

Erhabenheit also –
nicht der Größe oder des Schreckens
sondern der Haut
sibyllinische Haut die sich sträubt
gegen kaltes Mosaik
die nackten Knie
niederkniend ein gieriger Mund
eine Zunge aus den Zähnen geneigt
wie auf Bildern von Bacon. Oder
ein erbebendes Geschlecht
wenn vom andern berührt
voneinander
ineinander
gegeneinander
vielleicht
denn dieser Krieg ist erhaben
denn eine Umarmung ist erhaben wenn
sie Leben und Tod zugleich befördert. Wenn
sie im Leben den Tod selbst enthält
eine Zuckung – ein Straffen der Muskeln
die sich noch stürmisch begehren
selbst wenn schon wund vor Ermüdung –
dies ist das Erhabene. Das der Materie. Das der Armen
auch weil sie plötzlich gleich
alle allen gleich sind dann
im Tod als der nackten Geste
zerstückelnd dringlich extrem
genau der Bogen beim Spannen
– dies –
ist es das Tödlichste
weil das Wahrhaftigste.

Aus dem Portugiesischen von Berthold Zilly