Gonçalo M. Tavares
Jardim
Jardim
Não há pedras preciosas, não há cofres,
nem tesouros enterrados para brincar aos piratas.
Ninguém conversa entre si – mudos, dirás, ou desinteressados.
Os elementos presentes têm certas cores,
uma ou outra forma, cheiro, e nada mais.
Nenhum valoriza essa extraordinária invenção do alfabeto,
nem a última novidade da engenharia.
Por estes lados a palavra cimento é
uma indelicadeza.
Não falam, isso é certo, mas talvez ouçam.
Recebem, sim: água e palavrinhas que fazem crescer
(as menos inúteis do dicionário.)
E darão algo, certamente, que o mundo foi feito assim:
de trocas inumeráveis,
mas o que dão não se sabe, apenas se sente: dão beleza.
Flores, sim, pequenas ervas circunscritas ao seu sítio
- o da maldade inconsequente –
arbustos indecisos entre crescerem mais
ou ficarem ali a olhar de perto
formigas e outras espécies pacíficas.
E depois: quatro árvores altas. Eis o jardim.
Porém, a autoridade deste não vem das árvores,
mas sim de pequenos pormenores.
Por exemplo: o homem de negócios dá a volta
para não pisar uma flor minúscula.
Chegará atrasado à reunião?