Rosa Oliveira
el desierto
el desierto
continuamos a conduzir a comer a falar
avançamos no escuro
folhagem dentro
desabou mais um homem
um cartão que ruiu
paramos um instante
olhamos de lado
seguimos adiante
com a mão no volante
cantilena mental
avançamos entre o verde
na espessura da noite
um rapaz tresmalhado regressa a Beirute
vindo dos massacres
sacode o olhar
a cidade continua
a poeira é a mesma
dança e bebe no interior da guerra
estamos todos em guerra mesmo sem guerra
à medida que uns tombam
vacilamos e seguimos
ajeitamos a mortalha contra a brisa nocturna
persistimos na frente
repisamos a dança
o caminho não espera
o tempo decresce
em Beirute ou Little Indian todos vão cair
antes de nascer já estamos em guerra
por vezes uma pausa
e logo prosseguimos
mais um comprimido contra o medo
é certo que vamos cair
trituramos legumes
na sopa bóiam dedos
instalados para a morte soletramos a guerra
avançamos na folhagem
avançamos no medo
caminhamos seguros
maceramos fragmentos
escrevemos amamos
tingidos por dentro
as ogivas na praia
as ruas-estilhaços
a cabeça no deserto
as mãos a descoberto
toda repetición es una ofensa
y toda supresión es un olvido
quantas vezes morremos até descansar?