Margarida Ferra

portugalščina

Timo Berger

nemščina

Escreve sempre que precisares

Escreve sempre que precisares de me dizer
que há gelo nas tuas mãos e nas paredes do frigorífico.
Os legumes que trouxe ontem
não sobrevivem a mais do que uma geada,
muito menos nós.

Escreve sempre que precisares, podes
dizer-me outra vez que nunca houve inverno,
que este ano não há verão,
que estamos aqui e não estamos porque não sabemos
se somos nós ou se somos aquelas
quatro pessoas que vão à rua agora,
encontraram a porta certa.

Escreve sempre que precisares, faz
uma lista de compras, uma lista de desejos,
anota todos os pedidos que deixaste
em poemas atrasados.
Escreve sempre que precisares
de mais um postal com selo e carimbo.
Escreve sempre que riscares
na tua agenda mais uma morada.

Sempre que eu precisar vais devolver-me
uma caligrafia rebuscada que não é a tua,
curvas a mais que não fazias na letra d.
Já não há desses manuscritos,
só eu e os carteiros aprendemos a decifrá-los
(e toda a gente sabe que nem isso é verdade).
Vai escrevendo. Sempre que eu precisar,
as frases podem desviar deixas decoradas,
repetidas como as mentiras,
demasiado gastas para serem inócuas.

Escreve em vez de costurares.
Mesmo que soubesses, não há remendos suficientes,
arranhaste sem possibilidade de cura os joelhos,
os cotovelos e as canelas
(dançar sempre foi um antídoto fora do teu alcance).
Escreve que eu vejo nas tuas as minhas quedas,
os meus soluços nessas curvas
a mais que não fazes na letra d:
as tuas linhas são rectas, verticais e justas,
as minhas letras são apenas caracteres.

Escreve sempre que puderes
só em vez de apenas,
recursos humanos em vez de
resíduos urbanos. Talvez sejamos mais
do que pessoas, temos tamanhos diferentes
e não servimos nos lugares que nos foram destinados.

Escreve sempre que precisares de uma porta
onde caibas,
nunca trago chaves comigo.

© Margarida Ferra
Iz: Magazine «Correntes d’Escritas 2011»
Póvoa do Varzim, 2011
Avdio produkcija: Câmara Municipal de Lisboa, 2012

Schreib, wann immer du willst

Schreib, wann immer du mir erzählen willst,
dass an deinen Händen Eis klebt und an den Kühlschrankwänden.
Das Gemüse, das ich gestern gebracht habe
überlebt nicht mehr als einen Frost
noch weniger wir.

Schreib, wann immer du willst, du kannst
mir noch einmal sagen, dass kein Winter war,
dass dieses Jahr der Sommer ausfällt,
dass wir hier sind und nicht, weil wir nicht wissen
ob wir es sind oder ob wir die
vier Personen sind, die jetzt hinausgehen,
die die richtige Tür gefunden haben.

Schreib, wann immer du willst, mach’
eine Einkaufsliste, einen Wunschzettel,
notiere alle Bitten, die du
in früheren Gedichten festgehalten hast.
Schreib, wann immer du
noch eine Postkarte mit Briefmarke und Stempel willst.
Schreib, wann immer du noch eine Adresse
aus deinem Telefonbuch streichst.

Wann immer ich es brauche, reichst du mir
eine ausgefallene Kalligrafie, die nicht deine ist
zu viele Kurven, die du beim Buchstabe D nicht machst.
Solche Handschriften gibt es schon nicht mehr,
nur ich und die Briefträger lernen sie zu entziffern
(und alle wissen, dass auch das nicht die Wahrheit ist).
Schreib weiter. Wann immer ich es brauche,
können Sätze verzierte Stichworte umgehen,
die wie Lügen wiederholt
zu verbraucht sind, um harmlos zu sein.

Schreib statt zu nähen.
Auch wenn du gewusst hast, dass es nicht genug Pflaster gibt,
hast du dir die Knie aufgekratzt, ohne Aussicht auf Heilung,
die Ellbogen und die Schienbeine
(Tanzen war immer ein Gegenmittel, über das du nicht verfügt hast).
Schreib, dass ich in deinen meine Stürze sehe,
meine Lösungen in den zusätzlichen Kurven,
die du beim Buchstaben d nicht machst:
deine Linien sind gerade, senkrecht und straff,
meine Buchstaben können kaum als Schriftzeichen gelten.

Schreib, wann immer du kannst
nur statt bloß,
menschliche Ressourcen statt
städtische Abfälle. Vielleicht sind wir mehr
als Personen, haben unterschiedliche Größen
und taugen für die Orte nicht, für die wir bestimmt waren.

Schreib, wann immer du eine Tür brauchst,
durch die du passt,
Schlüssel habe ich nie dabei

Übersetzung: Timo Berger