Ângela Fernandes 
Translator

on Lyrikline: 3 poems translated

from: nemščina to: portugalščina

Original

Translation

der körper ist ein geschichtenband

nemščina | Carolin Callies

hier liegt ein punkt, von dem gehn fünf finger los
& kehren nur noch drei zurück.
was allseits vom fuß in den magen geriet:
wir erzählen’s im ziehn von tentakeln

& erzählen vom schweiß als vollem gefäß,
vom rausbrechen der fußstücke als leichtester übung.
wir trocknen die haut am stück
& hängen sie in beuteln auf, erzählen wir’s also in beuteln

& wo landen die beutel, auf den abort getragen?
in der tonne, in ’nem becher oder einem spucknapf gar?
in buchattrappen, vollen kehlen? wir haun darauf.
im losen, glaub’s mir, hörn die geschichten tentakelärmlig auf.

© Schöffling & Co. Verlagsbuchhandlung GmbH, Frankfurt am Main 2015
from: fünf sinne & nur ein besteckkasten
Frankfurt am Main: Schöffling & Co., 2015
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2016

o corpo é um volume de histórias

portugalščina

aqui está um ponto de onde saem cinco dedos
& voltam apenas três
o que por todo o lado veio do pé para o estômago:
contamo-lo puxando por tentáculos

& falamos do suor como um recipiente cheio,
do arrancar dos pedaços do pé como exercício mais fácil
secamos a pele inteira
& penduramo-la em sacos, contamo-la portanto em sacos

& onde vão parar os sacos, levados para o aterro?
ao barril, a uma caneca ou até a um cuspidor?
a armadilhas de livros, a gargantas cheias? damos-lhes um murro.
é à solta, acredita em mim, em mangas tentaculares que terminam as histórias.

Traduzido por Ângela Fernandes
Esta tradução foi concebida no âmbito de um seminário de Mestrado de Tradução Literária Alemão-Português, orientado por Claudia J. Fischer, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

(für I.

nemščina | Anja Kampmann

Er ist im letzten Jahr gegangen
in den Tagen danach
sahst du manchmal Schatten an den Ästen der Zweige
und das Meer
spülte Walfischknochen an, deren geheime Mitte
er suchte
Ein konstanter Abriss wie das Schwarz als Teil
des heller gestrichelten Asphalts oder
sagen wir Steine, kleinere Tänzer
unentwirrbar
das Mosaik der Zeit oder
sagen wir Muster, die ein Schwarm Saatkrähen
an den Himmel wirft
sagen wir November und schwächeres Licht
oder sagen wir Atemflocken und Erinnern
ein ewiges Rückwärtsgehen
wie der Chinese im Park von Paris
sagen wir an den Häusern der Wein
die Spatzen, ihre Schwingen, die Anatomie einer Handschwinge
an einem Frühherbsttag die Mitte
von jedem Geräusch
das durch uns durchgeht.

© Carl Hanser Verlag, 2016
from: Proben von Stein und Licht. Gedichte
München: Carl Hanser Verlag, 2016
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2015

(para I.

portugalščina

Ele foi-se embora no ano passado
nos dias a seguir
viste por vezes sombras nos ramos dos galhos
e o mar
trazia para terra ossos de baleia cujo centro secreto
ele procurava
Uma demolição constante como o negro enquanto parte
do asfalto claro tracejado ou
digamos pedras, dançarinos mais pequenos
impossíveis de desembaraçar
o mosaico do tempo ou
digamos padrões que um enxame de gralhas
forma no céu
ou digamos Novembro e uma luz mais fraca
ou digamos flocos de fôlego e recordação
um eterno recuo
como o chinês no parque de Paris
digamos a vinha junto às casas
os pardais, as suas penas, a anatomia de uma pena de voo
num dia em inícios de Outono o centro
de cada ruído
que nos atravessa.

Traduzido por Ângela Fernandes
Esta tradução foi concebida no âmbito de um seminário de Mestrado de Tradução Literária Alemão-Português, orientado por Claudia J. Fischer, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

als mir die sprache abhanden kam

nemščina | Maja Haderlap

vielleicht trank ich gerade kaffee
oder schlug eine zeitung auf.
vielleicht zog ich die vorhänge zu,
oder sah auf die straße, als sie
mich verließ. ich dachte noch,
was für ein röcheln
aus der tiefe der wand,
was für ein klirren in diesem raum.
kein fensterglas sprang,
kein sessel fiel um in der küche.
an den straßenschildern erloschen
namen zu buchstabenasche.
über den häusern fuhr der
worttanker davon, massig, lautlos.
meine zunge zuckte wie ein
gestrandeter wal im trockenen mund.

ich floh aus der stadt,
zog mich hinter die grenze zurück.
kein brief kam an und antworten
blieben aus. wo ich
war, klafft eine lücke.
wo ich bin, treibt
mein schatten ins kraut.

© Maja Haderlap
from: langer transit. Gedichte
Göttingen: Wallstein Verlag, 2014
ISBN: 978-3-8353-1378-1
Audio production: 2004, M.Mechner / Literaturwerkstatt Berlin

quando perdi a linguagem

portugalščina

talvez estivesse a beber café
ou a abrir um jornal.
talvez estivesse a fechar as cortinas,
ou a olhar para a rua, quando ela
me deixou. ainda pensei,
mas que último suspiro
da profundidade da parede,
mas que tilintar nesta sala.
nenhum vidro estalou na janela,
nenhuma poltrona caiu na cozinha.
nas placas das ruas desfizeram-se
os nomes em cinzas de letras.
o navio-cisterna das palavras
navegou sob as casas, maciço, silencioso.
a minha língua tremeu como uma
baleia encalhada na boca seca.

fugi da cidade,
isolei-me atrás da fronteira.
nenhuma carta chegou e respostas
ficaram por chegar. onde eu
estava, boceja um espaço vazio.
onde estou, projeta-se
a minha sombra na relva.

Traduzido por Ângela Fernandes
Esta tradução foi concebida no âmbito de um seminário de Mestrado de Tradução Literária Alemão-Português, orientado por Claudia J. Fischer, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.