Ricardo Aleixo 
Translator

on Lyrikline: 4 poems translated

from: nemščina to: portugalščina

Original

Translation

CAMBRIDGE, DEN 29.10.05

nemščina | Barbara Köhler

benannte dinge – am ende
der allerseelengasse der
friedhof zur himmelfahrt
an einem sommertag gegen
ende oktober autumn sagt
man hier & anderswo fall
in gleicher sprache eine
welt dreht sich sagt man
& turning leaves wie sie
tanzen die blätter & das
wetter umschlägt wie sie
schweben fallen auffahrn
mit dem wind: sie fallen
sie falln sind alles was
auffliegt laut gibt laub
was wirbelt was flüstert
sich wendet & dreht sich
um blatt um blatt sprich
ein name zwei zahlen ein
bindestrich eine winzige
leiter ins nichts an den
himmel gelehnt in ranken
in efeu verankert heiter
gestellt & nichts weiter
steht da der stein liegt
versunken im gras als ob
er & blühte die flechten

© Barbara Köhler
from: unpublished
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2012

CAMBRIDGE, 29/10/05

portugalščina

Coisas nomeadas – no fim do beco do Dia de Finados o Cemitério da Ascensão num dia de verão perto de fins de outubro como se diz autumn & em outros lugares fall na mesma língua dizem que um mundo gira & turning leaves como dançam as folhas  & o tempo muda como elas voam caem movidas pelo vento: caem caem são tudo o que voa que soa folhagem que rodopia sussurra gira e se vira folha a folha ou seja um nome dois números um hífen uma minúscula escada para o nada encostada ao céu alegre colocada ancorada abraçada à hera & não está lá mais nada a pedra mergulhada na relva como se florescesse musgo.

Tradução: Ricardo Aleixo
Versschmuggel, poesiefestival berlin 2012

SPELL BOUND

nemščina | Barbara Köhler

Einen satz machen: einen sprung von punkt A nach punkt Z einen
feinen riss eine grenze die eine verbindung ist und zwischen Z
und A – und U und B und E und R oder ICH und IHM oder IHR oder
MIR und IHNEN gesprungen: ein missklingen durch eine gerissene
wand ein durchdringen durchdringendes das nur gelingt falls es
den punkt verfehlt das ziel Z passiert es berührt trifft nicht
das wort das ver- das fehlende sagt was ist und nicht ist wäre
ein satz so ein grund- und bodensatz das ausgefallne –gefällte
kleinste gemeinsame vielfache teile vom gegenteil die lose die
boden- und grundlose vielleicht in der lösung treibende frage.

© Edition Korrespondenzen
from: Neufundland
Wien: Edition Korrespondenzen, 2012
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2012

SPELL BOUND

portugalščina

Construir uma frase: um salto do ponto A ao ponto Z, um rasgo breve, a fronteira que é uma ligação que entre Z e A - e F e E e I e T e I e Ç e O ou EU e ELE ou ELA ou ME e ELES salta:

uma dissonância através de uma parede rasgada, um penetrar penetrante que só resulta bem quando falha o ponto, passa pelo destino Z, toca nele, acerta não a palavra que falha, o que falta diz o que é e o que não é, e isto seria uma frase que fosse um princípio e uma borra, o mínimo múltiplo comum do seu oposto, a pergunta solta sem base e causa talvez pairando na solução.

Tradução: Ricardo Aleixo
Versschmuggel, poesiefestival berlin 2012

ELF 1/2

nemščina | Barbara Köhler

Selten erscheint etwas so anziehend, so stark wie oder sogar
stärker als der boden unter unsren füßen; selten enthebt uns
etwas der schwerkraft, löst uns aus der abhängigkeit von flä
chen, von denen wir abstehen auf zwei beinen, auf denen wir,
schritt und tritt, stehen und gehn. Selten. Wir ragen hinein
in den raum, die räume, bestehen aber immer auf gründen. Wir
reden davon, wir sitzen, wir liegen, wir gehn auf händen und
stehn auf dem kopf, wir stoßen uns ab, wir springen, wir fal
len dem erdkern zu, sind grenzfälle des raumes. Immerhin kön
nen wir schwimmen. Doch fürchten wir den boden unter den füs
sen zu verlieren; wir fürchten, so sagen wir, uns – als gäbe
es da und dafür auch einen grund.

Vögel und fische, die sich unabhängig von flächen im raum be
wegen können, haben die differenz im blick, sie sehn wie wir
hören: nach 2 seiten, ohne überlagerungsbereich, interferenz
zone der bilder, ohne ein „vorn“, ohne fokus: weite. Wir kön
nen höchstens weit sehen, was (in bestimmter hinsicht) einem
gehen gleichkommt, aber dennoch zu kurz. Weite sehn wir eher
als akustisches phänomen; vielleicht nehmen vögel und fische
raum ja wahr wie wir musik… Und vielleicht machen wir musik,
weil wir das weite suchen; etwas, das so stark wäre wie oder
stärker als der boden unter unsren füßen, stärker als schwer
kraft. Etwas das uns aufwiegt. Vielleicht ist das die kunst,
ist das glück: ein vielleichtes.

© Edition Korrespondenzen
from: Neufundland.
Wien: Edition Korrespondenzen, 2012
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2012

ONZE E MEIO

portugalščina

Raramente uma coisa parece atrair-nos tanto, ser tão forte ou mais forte do que o chão por baixo dos nossos pés. Raramente uma coisa nos desprende da força da gravidade, nos desliga da dependência de superfícies, das quais nos destacamos sobre duas pernas, sobre as quais, a cada passo, ficamos de pé e andamos. Raramente. Erguemo-nos para dentro do espaço, dos espaços, mas insistimos sempre nas causas. Falamos sobre isto, estamos sentados, deitados, andamos sobre as mãos e de ponta-cabeça, rejeitamo-nos, saltamos, caímos em direção ao grão da terra, somos casos-limite do espaço. Pelo menos sabemos nadar. Mas temos medo de perder o chão por baixo dos pés; sentimos medo, por assim dizer – como se também houvesse uma razão para isto e aquilo.

Pássaros e peixes, que se movimentam no espaço sem respeitar superfícies, têm em vista a diferença, eles veem como nós ouvimos: para os lados, sem área de sobreposição, sem zona de interferência das imagens, sem um “à frente”, sem foco: vastidão. Quando muito somos capazes de olhar para longe, o que (de certa forma) é o mesmo que ir até lá, mas mesmo assim é demasiado curto. Percebemos a distância como um fenômeno acústico; talvez os pássaros e os peixes compreendam o espaço assim como nós a música... e talvez façamos música porque procuramos o distante; algo que fosse tão forte ou mais forte do que o chão por baixo dos nossos pés, mais forte do que a gravidade. Algo com peso igual ao nosso. Talvez seja essa a arte, a felicidade: um talvez.

Tradução: Ricardo Aleixo
Versschmuggel, poesiefestival berlin 2012

LÖSUNG: TURNER

nemščina | Barbara Köhler

Langsam löst sich das bild
auf vor den augen. Langsam
löst es sich von der wand.
Löst sich langsam in nebel
licht und bewegung langsam
liegt’s nicht mehr auf der
hand. Langt nicht mehr hin
hält nicht mehr fest sieht
nicht mehr stellt es nicht
her weht geht in die augen
kreisen und fallen wirbeln
weisses wie schnee und wie
dunkel es fällt kristallen
so kalt ein sturm ein halt

© Barbara Köhler
from: unpublished
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2012

SOLUÇÃO: TURNER

portugalščina

A imagem dissolve-se lentamente perante o olhar. Descola-se da parede lentamente. Dissolve-se lenta em névoa, luz e movimento. Contudo isto já não é tão evidente. Já não alcança, já não agarra, já não realiza, apenas sopra para os olhos, entra neles. Rodam e caem, levantam algo branco como neve. E cai, escuro, frio como o cristal, uma tempestade, uma paragem.

Tradução: Ricardo Aleixo
Versschmuggel, poesiefestival berlin 2012