Kalaf Epalanga
SARJETA (PROVAR O PECADO)
SARJETA (PROVAR O PECADO)
benvindos a Lisboa
ruas, noites, cheiros, madrugadas
becos, cores, espaços, avenidas
11H… a Lisboa para adolescentes curiosos
atraídos pelo fascínio do BA
turistas do pitoresco e seus amarelos sorrisos
rude boys exercitando o B-A-B-A
para fezadas a grande escala
a rua contínua a ser a melhor escola
dealers do Meskal quem os controla?
a lei aparentemente não se rala
o zé povinho fala fala
mas o circo passa
olha aí!? montou a tenda na praça
na figueira das pensões a 10 paus
putas sem dentes
e seus pimpos com caras de maus
mas os ventos do leste
são também os ventos da mudança
pimpos que mais parecem agentes
do KGB
vieram para saciar o apetite luso
por loiras e anoréxicas QB
Vem… prova deste pecado
Só mais um bocado
Vem… por mais um bocado
provar deste pecado…
Benvindos a Lisboa
janelas fechadas, ovelhas negras
segredos, boatos, outras regras
4h na lisboa dos que nunca dormem
taxistas discretos observam
o afundar da moral da nação
no banco de trás
taxistas zelosos evitam pretos
e viagens a bairros sociais
mas o mundo é dos espertos
o medo serve apenas para vender os jornais
que criam manchetes
com as fobias dessa gente
Enquanto o Jet 7 sorri contente
com as linhas na retrete
As mesma linhas paralelas
que separam esses dois mundos
dos inocentes e dos que vivem o sonho das estrelas
do crime, do sexo, das novelas
da política, da música, da bolsa
das construções, da noite, dos diamantes de angola
da sorte, do mundo da bola
Vem… prova deste pecado
Só mais um bocado
Vem… por mais um bocado
provar deste pecado
quero esse corpo nu!
Benvindos a lisboa
meia idade, pitbulls, tascas abertas fora de horas
emigrantes diplomados, silêncios, novas feras
aurora na Lisboa dos madrugadores
quarentões com mulatas nos braços
ou presas exóticas e seus predadores
abandonam a selva nos seus mercedes
cruzam a cidade que agora desperta
para trás deixam, alcoólicos, loucos, freaks
que amanhecem na sarjeta
com a mente noutro planeta
amanhecem no chão desta cidade
que não aparece nas páginas da Time Out
cheiro a vinho, vómitos, mijo nas paredes
imagens do paraíso e anúncios da Stout
poluindo a paisagem e o ar
será que conhecemos esse lugar?
e os corpos que se arrastam como fantasmas
maquilhagens desbotadas
rostos transfigurados, o despertar de comas
gorozan e outras drogas abençoadas
para sobreviver mais um dia na cidade
welcome to Lisbon!