Margarida Ferra

португальский

Odile Kennel

немецкий

Areeiro

O sinal vermelho, o carro
travado. À esquerda, a bomba de gasolina;
à direita, a gaiola equívoca.
Duram um minuto e meio,
a minha espera
e os contos que me visitam,
rápidos monogramas em ponto cruz
dessa louca sem nome.

Morou ali no tempo
em que a cidade acabava antes.
Gritava no corredor
que era um pássaro, nascia de manhã
com asas, as penas caíam-lhe à mesa.
Ao fim do dia, abria-se a porta
da varanda. Arrancou
e comeu todas as petúnias brancas.
Depois, o bordado caído
e os olhos atirados para o céu,
por onde hão-de passar estes aviões
agora. Presos: o tecido no bastidor e o ar no peito
(ao contrário daquele que ainda circula
– a única coisa que as grades não podem segurar).

© Margarida Ferra
Из: Curso Intensivo De Jardinagem
Lisboa: Ed. &etc., 2010
Аудиопроизводство: Câmara Municipal de Lisboa, 2012

Areeiro

Die Ampel rot, das Auto
verriegelt. Links die Zapfsäule;
rechts der zweifelhafte Käfig.
Genau anderthalb Minuten
dauert mein Warten, dauern
die Geschichten, die hochkommen,
flüchtige Monogramme als Kreuzstich
dieser namenlosen Verrückten.

Sie lebte hier in der Zeit
als die Stadt weniger ausgedehnt war.
Sie schrie auf dem Flur
dass sie ein Vogel sei, sie erwachte morgens
mit Flügeln, die Beine fielen am Tisch von ihr ab.
Am Ende des Tages öffnete sich die Tür
zum Balkon. Sie riss alle weißen
Petunien ab und verspeiste sie.
Dann die heruntergefallene Stickerei,
die Augen zum Himmel gerichtet,
wo heute vermutlich Flugzeuge
vorbeiziehn. Gefangen: der Stoff im Stickrahmen und die Luft in der Brust
(im Gegensatz zu dem, was noch immer behauptet wird –
das einzige, was Gitter nicht halten können)

Übersetzung aus dem Portugiesischen: Odile Kennel