Paulo Teixeira

português

Sarita Brandt

alemão

Cidade ao nascer da lua

A toda a largura do pano vê-se a cidade
com o seu perfil a velar-se, bizantino,
no poente. Abismada está na própria imagem,
onde o brilho do crisólito lembra,
num relance, o seu esplendor perdido:
invólucro fetal lançado, noite calada,
na água que ressuma, lenta, junto às margens.

O ouro foi todo acrisolado na água
em que ferveram as cinzas e a escória
de metais. A chuva e o vento vão
exfoliando as paredes, moendo as tintas,
até se não reconhecer mais o festo às fachadas.
Entre a solidão hirta das duas torres
a lua, mormosa, insinua-se.

© Paulo Teixeira & Editorial Caminho
Extraído de: Túmulo de Heróis Antigos
Lisboa: Editorial Caminho, 1999
ISBN: 972-21-1264-3
Produção de áudio: 2006, M.Mechner / Literaturwerkstatt Berlin

Stadt bei Mondaufgang

Über die gesamte Leinwand erstreckt sich die Stadt,
mit ihrem byzantinischen Profil, sich verschleiernd,
im Westen. Versunken ist sie in ihr eigenes Abbild,
wo das Leuchten des Chrysoliths flüchtig
an ihren verlorenen Glanz erinnert:
Fruchtblase, in nächtlicher Stille ausgestoßen
ins Wasser, das gemächlich ans Ufer plätschert.


Das Gold gänzlich geläutert in dem Wasser,
wo einst Asche und eherne Schlacken
brodelten. Wind und Regen schälen langsam
den Putz von den Wänden, zersetzen die Farben,
bis der Fries an den Fassaden unkenntlich wird.
Zwischen zwei einsam aufragenden Türmen
erscheint verstohlen ein kränklicher Mond.

Aus dem Portugiesischen von Sarita Brandt