Rui Cóias
[Nos olhos de quem, sem imaginares, se enternece]
[Nos olhos de quem, sem imaginares, se enternece]
Nos olhos de quem, sem imaginares, se enternece, no meio dos homens que em peregrinação partem e a quem um outro chama, acenando, ao longe,
no fosso a dividir a despedida da paz almejada,na culpa que assiste o abandono e os seus escombros, na comoção da estrada para qualquer parte, na cálida vela acendendo a noite que nascera clara,
quão delicada é a debilidade para morrer.
E quando chega a hora, parece pausada a terra, que nada por ela corre que se aviste e destoe senão o rumor estropiado na fábula de um velho ou o fúnebre desfile debaixo dos frescos de Beram, onde a trombeta três vezes ressoa exuberante no meio da dança que nunca o é realmente. Mas ao menos bate-nos a luz que contunde com a clareza dos flocos escorridos no vento, ao menos sentimos o vento mudar, e de novo sumir, e contra ele corremos até os lábios descorarem em toda a pujança empurrada para a frente:
ao menos uma voz chamará dentro do vento e saberemos que acolá alguém nos espera, também ela nos dando a cheirar a folha de cedro, também ela pisando a erva dispersa
— para não confessarmos a sós esta fraqueza
— para darmos bênção pela nossa graça.