Rui Cóias
[Que exíguo impulso se move e não esquecemos?]
[Que exíguo impulso se move e não esquecemos?]
Que exíguo impulso se move e não esquecemos?
Em que dádiva de chão dançamos com as mães cantantes,
onde estão as verdadeiras lágrimas, que as não vemos?
Após anos de retiro, lumes brandos, luz de círios,
decorrido que foi o langor de sons pela geada, que
bem remanesce no contorno puído de cidades
— que graça confessamos ter decididamente tocado? Viemos de longe, de patíbulos que ninguém contará, evocando pontos brumosos e vagas escolhas, a custo apartados da dor de uma época a outra sobrepondo-se, para ver enfim esquivas as mansardas donde partimos — ainda a maioria sorria nos terreiros, tantos anos — e perceber que o caminho se faz lançando mão ao que dele continuamente resvala, inaudível — apagando-se. O tempo vai sendo abolido, é o tempo da chama sobre a água, e fomos amiúde derivando do maior para o mais justo, imersos no ruído de fundo de uma escadaria, pouco a pouco premindo a vida ao tamanho último, a essa porção da biografia toda a vez mais nítida, na qual só um recolhimento, tal a subir-se um vão de escada, é a raiz do que em favor de nós fizemos, a alegria que emana após o cativeiro.