Dejan Stanković 
Translator

on Lyrikline: 5 poems translated

from: lituano, portugués, esloveno to: portugués, serbio

Original

Translation

KARTĄ PER METUS. VIEŠKELIS

lituano | Rimvydas Stankevičius

Žinau ko ateini mama
tam ir yra
nerakintos durys pernakt
negesinta šviesa kišanti
šiurkštų snukį
artyn

Tam ir yra šitas vieškelis
kuriuo tiktai tu
kuriuo tiktai eitum ir eitum
net prieš gaidgystę kai šerkšnas
stvarsto už
kojų

Žinau tai tavo samdyti
elegantiški skausmo
pirštai sutvarkantys patalą
užsagstantys marškinius
po to jau palangėn
barbenantys

Laukiu ir aš
imsim patręšim
žodžiais ramybę

– Kodėl, vaikeli, kodėl?
Kas gi tau šovė į galvą?

– Aš pats, mama.

© Rimvydas Stankevičius
Audio production: 2004 Books from Lithuania

UMA VEZ POR ANO. O CAMINHO

portugués

Sei por que vens mãezinha

Por isso está

a porta sem chave à noite

a luz sem apagar a enfiar

o seu áspero focinho

mais perto


Por isso existe este caminho

pelo qual só tu irias

somente  tu irias e irias

mesmo antes do galo cantar quando a geada

nos agarra pelos pés


Sei que os teus elegantes

dedos doloridos

por ti contratados estão a

fazer-me a cama

a abotoar-me a camisa

logo depois a dar golpezinhos na janela


Eu também estou à espera

Fertilizaremos a serenidade

com palavras


--Por quê, meu filho, por quê?

O que foi que te entrou na cabeça?


-- Eu mesmo, mãezinha

Translator: Dejan Stanković

Os significados

portugués | Pedro Mexia

Não sei como tudo começou: suponho
que havia uma figura que depois
se estilhaçou para formar um puzzle.
Mas se juntarem todas as peças
talvez não haja nenhuma figura, e então
de que origem intacta partiu tudo
o que depois se quebrou? É impossível
fazer estilhaços de estilhaços sem uma
coerência primeira, agora ausente.
Quando todas as peças se juntam
estaremos reduzidos ainda a uma peça
de uma figura maior, ou essa figura
é uma utopia pragmática, instrumental,
que permite algum sentido?
Ó significados, para vós, na infância,
tinha um caderno.

© Pedro Mexia
from: DUPLO IMPÉRIO
ed. autor, 1999
Audio production: Casa Fernando Pessoa, Lisboa 2004

Značenja

serbio

Kako je počelo, ne znam: slutim da  
je nekoć bila slika, što se potom,  
slupala i postala slagalica.  
Sve i da sastavimo te komade,  
do slike možda ne bi došli. Zato
pitamo: šta je netaknuto celo,
što je potom slupano? Ne može se
lomiti parče po parče, ako najpre  
ne beše celog, kojeg više nema.
Kad se okrajci spoje, hoćemo li  
imati komad jedne veće slike,   
ili je možda ta figura jedna  
praktična, udešena utopija
što jedva nudi ikakvo značenje?
O, značenja, za vas sam, u detinstvu,
otvorio svesku.

Preveli Dejan Stanković i Aleksandar Gatalica

OFÍCIO DE FOGO E ARTE

portugués | Cuti

nossa é esta saga desenhando o silêncio em cores
rebeldia e incenso

ainda que as batalhas
tenham talhado de tão-somente vermelho
lembranças de mar e terra
nosso é este futuro entre luz e sombra
este alto-relevo telúrico
agigantando-se no esboço de todas as madrugadas e no mosaico das tardes

em ondulação muscular galopam as tintas
ao comando de corações pensantes
enquanto gritos vão-se fazendo cantigas sábias
de ninar a memória e seus pincéis incandescentes

se ácidos céus de aço abafam a singela respiração onírica
um afro horizonte reabre seus vitrais
oxumarescendo a vida

nos cios dos séculos
banzaram aguadas lacrimais de anil
agora a mais sutil semelhança epidérmica da história
é linha que realça o elo
do mistério
ousadias de gingar o belo e semear vagalumes sobre as telas

oceânica
esta energia coletiva extrapola a cena de naturezas-mortas
transfigura a moldura
colore a parede branca
e mergulha em vários planos a perspectiva de seus vôos

verdeamarelas garatujas velhas ranzinzando a liberdade
a mão infinitiza em multiplicidade cromática, pele e paisagem de sobejos
desejos

tudo se emprenha de um incessante movimento
vários tons de melanina e a pulsação de um ritual aceso.

Cuti
(Sanga)

© Cuti (Luiz Silva)
from: Sanga Poemas
Mazza : Belo Horizonte , 2002
Audio production: 2002 M. Mechner, literaturWERKstatt berlin

ZANAT VATRE I UMETNOSTI

serbio

Ovo je naša saga što oslikava tišinu u boji,
bunu i tamjan.

Iako su bitke
jarkim crvenilom živopisale
sećanja na more i zemlju,
naša je budućnost između svetla i senke
ovaj zemljani duborez
što čuči na skici svih praskozorja i u mozaiku popodneva.

Talasi mišica, galop boja
pod komandom zamišljenih srca;
iz krika se sklapaju mudre pesme
uspavanke uspaljenih kičica.

Ako kiseločelično nebo guši prečisto disanje u snu
afrikanski nedogled otvori svoje vitraže
i životu vrati život

U teranju vekova
zaprepasti se razvodnjeno plavilo suza
sad još suptilnije epidermičnom sličnošću istorije
što jeste linija koja podvlači vezu
sa misterijom
drskosti kormilarenja i sejanjem svitaca po platnu

Okeanska,
ova zajednička energija pretače se u scenu mrtve prirode,
vitoperi ram,
živopiše beli zid
i tone po raznim dubinama perspektive svojih letova.

stare žutozelene škrabotine inate se sa slobodom,
ruka ovekovečuje u hromatskom mnogobroju, kožu i pejsaže
ostataka strasti.

Sve se oplođuje od jednog pokreta
raznih tonova melanina i pulsiranja jednog upaljenog ritma.

Cuti
(Sanga)

Prevod sa portugalskog Dejan Stanković

MEJE

esloveno | Boris A. Novak

To isto polno luno gledava… obzorja
daleč, predaleč drug od drugega. Med nama
se pno gorovja. Mehka mahovnata skorja
zarašča najine stopinje. Čisto sama

si prečkala vse meje in prišla na tuje,
v domovino mojih rok. Nevarno sam
se plazim mimo varuhov mejá: potujem
na severozahod, kjer me je bridko sram

škripanja duše sredi gladkih, strašnih sten.
Stojim pred njimi, temni moški z jugovzhoda,
sumljivega imena, drhteč, gol kot plen.
Ne morem pobegniti. Meja je usoda.

Zdaj veš: čeprav prestopiš mejo, je ne zbrišeš.
Še višja bo krojila tvoj korak, kot dvom.
Zemljevid ni privid. Zato govôri tiše.
Onstran vseh mejá so tvoje ustnice moj dom.

                                  (Alba, 1999)

© Boris A. Novak
from: Alba
Ljubljana : Mladinska knjiga, 1999
Audio production: Študentska založba

Fronteiras

portugués

Olhámos para a mesma lua cheia … horizontes
longínquos, demasiadamente afastados uns dos outros.
Entre nós sobem montanhas. Um tapete de musgo fofo
tapa os sopés. Completamente sozinha

correste através da fronteira, foste para o que não é teu,
para a pátria das minhas mãos. Perigosamente só
rastejo evitando os guardadores das fronteiras:
viajo para o noroeste, onde tenho terrível vergonha do

ranger da alma entre paredes lisas e assustadoras.
Estou perante eles, os homens morenos de sudeste
com nomes esquisitos, e tremo, nu como uma presa.
Não posso fugir. A fronteira é a sina.

Agora sabes: ao atravessar uma fronteira, não a apagas.
Cresce ainda mais e vai moldando o teu passo, como um dilema.
Um mapa não é uma aparição. Por isso fala baixinho.
Para lá das fronteiras ficam os teus lábios, o meu lar.

Translator: Dejan Stanković

A PALAVRA NEGRO

portugués | Cuti

a palavra negro
tem sua história e segredo
veias do São Francisco
prantos do Amazonas
e um mistério Atlântico

a palavra negro
tem grito de estrelas ao longe
sons sob as retinas
de tambores que embalam as meninas
dos olhos
a palavra negro
tem chaga tem chega!
tem ondas fortessuaves nas praias do apego
nas praias do aconchego

a palavra negro
que muitos não gostam
tem gosto de sol que nasce

a palavra negro
tem sua história e segredo
o sagrado desejo dos doces vôos da vida
o trágico entrelaçado
e a mágica da alegria

a palavra negro
tem sua história e segredo
é o bálsamo para o medo
em chagas aberto no corpo de nosso país

a palavra negro
sumo deste solo
nos neurônios da raiz.

Cuti
(Batuque de Tocaia)

© Cuti (Luiz Silva)
from: Batuque de Tocaia ,
São Paulo: Ed. do Autor, 1978
Audio production: 2002 M. Mechner, literaturWERKstatt berlin

REČ CRNAC

serbio

Reč crnac
ima svoju prošlost i tajnu,
vene Svetog Franciska,
lelek Amazona
i misterija Atlantika.

Reč crnac
nosi vrisak zvezda u daljinu,
zvuke pod dužicama
doboša što uspavljuju najmilije
devojčice.
Reč crnac
nosi rane i dosta mu je!
Nosi tihobučne talase na žala prijateljstva,
žala ušuškanosti.

Reč crnac
koju mnogi ne vole
ima ukus na sunce što se rađa

Reč crnac
ima svoju prošlost i tajnu
svetu želju slatkih životnih letova
isprepletenu tragiku
i magiju radosti

Reč crnac
ima svoju prošlost i tajnu
melem je za strah
u otvorenim ranama na telu ove zemlje

Reč crnac
Sok ovog tla
U neuronima korena.

Cuti
(Batuque de Tocaia)

Prevod sa portugalskog Dejan Stanković