francés

A Ilha Dos Mortos

Nunca, entre tanta serenidade,
Poderia pousar uma crispação, uma recusa
ou um brusco estremecimento do coração
desmedido. Não conhecer a paixão
é o privilégio dos mortos. Entre a mão e a barca,
entre o silêncio e a aridez,
entre a claridade
e o tremor
caem as sombras sobre a água como
a roupa se desprende e cai do corpo desejado,
entrevisto,
como de tanto amor se tece a Morte!

© Luís Filipe Castro Mendes
De: A Ilha Dos Mortos
Lisboa: Quetzal Editores, 1991
Producción de Audio: Casa Fernando Pessoa / RDP

L'île des morts

Jamais, parmi tant de sérénité,

un refus ou un soudain frémissement d'un cœur démesuré

ne pourrait subsister. Le privilège des morts

est de ne pas connaître

la passion. Entre la main

et la barque,

entre le silence et l'aridité,

entre la clarté

et le frisson

les ombres tombent sur l'eau comme

le linge se détache et glisse du corps désiré,

entrevu,

Mort tissée de tant d'amour !

Aus: 18+1 poètes contemporains de langue portugaise.
Lisboa/Paris: Institut Camões/Chandeigne 2000