Rui Cóias

portugués

Catherine Dumas

francés

Canção de Brzezinka

Leite negro da madrugada bebemo-lo ao entardecer
bebemo-lo ao meio dia e pela manhã bebemo-lo de noite
bebemos e bebemos  
Paul Celan


Onde vieres também tu a sussurrar nas valas, nem que faminta esteja a tua voz e se teus olhos os vir de madrugada, perdidos pelos campos, em sítios que estremecem, eu regresso, «eu  até nas ondas do meio-dia, na linha calma das cerejas,  se te vejo, Margarete, eu «escureço, e escureço  como o cabelo com o tom escuro dos violinos me escurece,  como escurece o vento nos bosques frios  em que morremos, escurecem as alamedas, escurece o leite negro que bebemos e bebemos.

Onde vieres também tu pelo adorno sublime do infortúnio, nem que franzido seja o teu sangue se teus lábios os vir ao entardecer, à hora mágica, lendo os poemas da Galícia, eu regresso, «eu até nos combóios que cavam um túmulo pelos ares,  se te vejo, Sulamith, eu «escureço, e escureço como o entardecer nas horas mais pequenas me escurece,  como escurecem as rugas pelos rostos que ardem sombriamente, escurecem os poemas, escurece o leite negro que bebemos e bebemos.

© Rui Cóias
De: Europa
Edições Tinta da China, 2016
Producción de Audio: Gravado nos Estúdios da Bica em Abril de 2017. Produção Alexandre Cortez. / Recorded at Estúdios da Bica, April 2017. Produced by Alexandre Cortez.

Chanson de Brzezinka

Lait noir du petit jour nous le buvons le soir
nous le buvons midi et matin nous le buvons la nuit
nous buvons et buvons  
Paul Celan


Où que tu viennes toi aussi murmurant  dans les fosses, tout affamée soit ta voix et si tes yeux je les vois à l’aube,  perdus dans les champs, en des lieux qui tressaillent, moi je reviens, «moi jusque dans les vagues de midi, sur la ligne calme des cerisiers,  si je te vois, Margarete, moi «j’obscurcis, et obscurcis comme les cheveux avec le ton sombre des violons m’obscurcissent,  comme obscurcit le vent dans les bois froids  où nous mourons, obscurcissent les allées obscurcit le lait noir que nous buvons et buvons.

Où que tu viennes toi aussi par l’ornement sublime  de l’infortune, tout plissé soit ton sang et si tes lèvres je les vois le soir, à l’heure magique, en lisant les poèmes de Galice, moi je reviens, «moi jusque dans les trains qui creusent une tombe dans les airs,  si je te vois, Sulamith, moi «j’obscurcis, et obscurcis comme le soir aux heures les plus petites m’obscurcit, comme obscurcissent les rides sur les visages qui brûlent sombrement, obscurcissent les poèmes obscurcit le lait noir que nous buvons et buvons.

Traduit par Catherine Dumas