وە عالم خواب كا تها

© Harris Khalique
Producción de Audio: 2005, M.Mechner / Literaturwerkstatt Berlin

LIVRO PRIMEIRO, I

E sempre a claridade vem do céu:
é um dom: não se desvenda nas coisas
antes muito por cima, e as ocupa
fazendo disso a vida e o seu labor.
Assim alvora o dia; assim a noite
fecha o grande lugar das suas sombras.
E isto é um dom. Quem faz menos criados
cada vez mais os seres? Que alta abóbada
os tem no seu amor? Se já nos chega
e ainda é cedo, e chega em derredor
à maneira dos voos que são teus
e plana, e se afasta, e tão remota,
nada mais claro é que os seus impulsos.
Ó claridade sôfrega de forma,
de uma matéria para deslumbrá-la
queimando-se a si própria, a obra feita.
Como eu, como tudo isso que espera.
Se tu a luz a tens levado inteira,
como irei esperar algo da manhã?
Porém —isto é um dom— a minha boca
espera, espera a minh’alma, e tu me esperas,
ébria perseguição, só claridade
mortal como o abraço de uma foice,
Abraço até ao fim que nunca abranda.

Traduzido por António Salvado
In: CLAUDIO RODRÍGUEZ, CINCO POEMAS. poesía Hiperión
Madrid: Ediciones Hiperión, 2007