Érica Zíngano
os conservadores deveriam fazer alguma coisa de útil
os conservadores deveriam fazer alguma coisa de útil
Série inspirada na cantora Cláudia Leitte, que entrou para o Guinness Book por ter proporcionado o maior número de beijos simultâneos da História: 8.372 casais (que equivalem a 16.744 pessoas) se beijaram ao som do hit “Eu quero mais é beijar na boca”, durante o evento do Axé Brasil, realizado na cidade de Belo Horizonte, em 03/04/2009. Dedico estes poemas para a minha dentista, a Dra. Laura, como forma de agradecimento, por ter comentado tal fato e ter me dado matéria de poesia. E, para que a Meire, sua assistente, não fique com raiva de mim, dedico estes poemas para ela também.
1.
Há quem diga
que
a Poesia de Hoje
está perdida
que
Naquele Tempo
“os Áureos Tempos
da Poesia”
os Poetas
ao modo dos Gregos
eram mais Esportistas
(para entender a relação
entre Esporte e Corpo
na Antiguidade Clássica
Cf. Ilíada)
já que
o nosso Velho
e Bom
Luís de C’mões
banhando-se na Tradição
Greco-Latina
não deixou de lado
os Exercícios Físicos
Pelo contrário
C’mões era Soldado
e bastante influenciado
pelos Clássicos
tornou-se o maior Poeta
da Língua Portuguesa
na verdade
o maior Poeta
Nadador
da Língua Portuguesa
pois, para se salvar
de um Naufrágio
ele
e seus preciosos Versos
nadaram em Mar aberto
muito Crawl
de Estilo Livre
De certa forma
os conservadores
estão certos
não há quem bata
o Recorde de C’mões
que
de Corpo inteiro
e muita disposição
no Espírito
conseguiu salvar a nado
Os Lusíadas
Epopeia de 10 cantos
com 1.102 estrofes
nesse caso oitavas
por conter 8 versos
cada qual com 10 sílabas
poéticas
totalizando assim
8.816 decassílabos – dados
que
os conservadores
deveriam utilizar
para empreender
a digníssima campanha
“C’mões, um Poeta,
um Nadador:
do Cânone
ao Guinness Book”
com esses números
entraria de certeza
para o Livro dos Recordes
ainda mais se levarmos
em consideração
que
era caolho
nadou
e escreveu tudo isso
com um olho só
ó pá!
Não percamos tempo, pois,
Guinness Book já
para o caolho C’mões!
2.
Há pouquíssimos
escritores
no Guinness Book
e dentre eles figura
o Poeta gaúcho
Luiz Miranda
porque ele é
o único Poeta vivo
no Mundo
com um Busto
num Campo
de Futebol –
não sei o que farão
quando ele morrer
Decerto
Luiz Miranda
se tornará
o único Poeta morto
no Mundo
com um Busto
num Campo
de Futebol
(até então
e nunca se sabe
até quando)
Seguindo a Tradição
Clássica
que
valoriza Esportes
e Cultura
Luiz Miranda
foi jogador
do Uruguaiana
mas não se iludam
praticar esportes
não o salvou
da Boêmia
recebeu o Título
das mãos
de Lupicínio Rodrigues
de Secretário da Noite
além de ter sido
padrinho
do Clube da Farra
em Recife
(onde
- orgulhosos -
ostentam retratos
em sua homenagem)
Luiz Miranda
é o Príncipe dos Poetas
Rio-Grandenses
pela Casa do Poeta
Rio-Grandense
seguindo a Tradição
iniciada em 1916
quando Olavo Bilac
deu o Título a
Zeferino Brasil
É por essas e outras
que
os conservadores
deveriam empreender
a digníssima campanha
do caolho C’mões
para o Guinness Book
vocês não acham?
3.
Outra grata surpresa
(para não dizer
ilustre presença)
no Guinness Book
é a do Acadêmico
Paulo Coelho
que
por 2 vezes entrou
para o Livro
dos Recordes:
a primeira em 2003
por ter sido o escritor
que
mais assinou Livros
em edições diferentes
na Feira do Livro
em Frankfurt
e a segunda em 2008
por seu Livro
O Alquimista
ser o mais traduzido
do Mundo
(foi publicado
- até então
e nunca se sabe
até quando -
em 67 idiomas)
E no entanto
a graça de
Paulo Coelho
não para por aí
eleito para a Academia
Brasileira de Letras
no dia 25 de julho
de 2002
ocupa a Cadeira nº 21
sucedendo o economista
Roberto Campos
quando ganhou a eleição
por 22 votos a 15
(dados ao sociólogo
Hélio Jaguaribe)
Paulo Coelho
considera sua entrada
ao Mundo
dos Imortais
uma pergunta para
os críticos
especializados
que
o tacharam
de mau escritor
Dediquemos um pouco
de nossa atenção
às palavras
proferidas
em seu discurso
de posse
“E no entanto
é preciso cantar
mais que nunca
é preciso cantar.”
Vinícius de Moraes
é brilhante
nestas frases.
Lembrando
Gertrud [sic] Stein
no seu poema
“Uma rosa é
uma rosa, é uma rosa”
apenas diz
é preciso cantar.
Não dá explicações,
não justifica,
não usa metáforas.
Quando me candidatei
a esta Cadeira
ao cumprir o ritual
de entrar em contato
com os membros
da Casa de Machado
de Assis
ouvi do acadêmico
Josué Montello
algo semelhante. Disse-
-me ele:
“Todo homem tem o dever
de seguir a estrada
que passa pela sua aldeia.”
Se partirmos da premissa
de que
O Tejo é mais belo
que o rio que corre
pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é
mais belo
que o rio que corre
pela minha aldeia
Porque o Tejo não é
o rio que corre
pela minha aldeia
acredito
que
não preciso mais usar
argumentos plausíveis
para convencer
os conservadores
de que
eles deveriam fazer
alguma coisa de útil
e indicar O Grande caolho
C’mões
para o Guinness Book