Rui Cóias
Canção de Brzezinka
Canção de Brzezinka
Leite negro da madrugada bebemo-lo ao entardecer
bebemo-lo ao meio dia e pela manhã bebemo-lo de noite
bebemos e bebemos
Paul Celan
Onde vieres também tu a sussurrar nas valas, nem que faminta esteja a tua voz e se teus olhos os vir de madrugada, perdidos pelos campos, em sítios que estremecem, eu regresso, «eu até nas ondas do meio-dia, na linha calma das cerejas, se te vejo, Margarete, eu «escureço, e escureço como o cabelo com o tom escuro dos violinos me escurece, como escurece o vento nos bosques frios em que morremos, escurecem as alamedas, escurece o leite negro que bebemos e bebemos.
Onde vieres também tu pelo adorno sublime do infortúnio, nem que franzido seja o teu sangue se teus lábios os vir ao entardecer, à hora mágica, lendo os poemas da Galícia, eu regresso, «eu até nos combóios que cavam um túmulo pelos ares, se te vejo, Sulamith, eu «escureço, e escureço como o entardecer nas horas mais pequenas me escurece, como escurecem as rugas pelos rostos que ardem sombriamente, escurecem os poemas, escurece o leite negro que bebemos e bebemos.