Gabriel Gbadamosi 
Translator

on Lyrikline: 3 poems translated

from: portuguese to: english

Original

Translation

DENTE-DE-LEÃO

portuguese | Daniel Jonas

A juba encanecida do dente-de-leão.
Eu soprei-a como velas
de aniversários
e ele envelheceu anos.

Ali, tão calvo agora, o ancião,
um leão glabro
entupido de testosterona,
um Sanção

com a sua cerviz rente
descravando
dos quadris da fêmea
a fome de uma semente.

© Daniel Jonas
from: Passageiro Frequente
Língua Morta, 2013
Audio production: Gravado nos Estúdios da Bica em Abril de 2017. Produção Alexandre Cortez. / Recorded at Estúdios da Bica, April 2017. Produced by Alexandre Cortez.

Dandelion

english

A ring of birthday candles,
I blew
the dandelion’s hoary mane
and how much older he grew.

There he is now, an old
bald smooth lion
clogged with testosterone,
a Samson

with a shaven neck
unloosing
from female hips
the hunger of seed.

© Translated by Ana Hudson with Gabriel Gbadamosi, 2014

[Lê, são estes os nomes das coisas que]

portuguese | Maria do Ros

Lê, são estes os nomes das coisas que
deixaste – eu, livros, o teu perfume
espalhado pelo quarto; sonhos pela
metade e dor em dobro, beijos por
todo o corpo como cortes profundos
que nunca vão sarar; e livros, saudade,
a chave de uma casa que nunca foi a
nossa, um roupão de flanela azul que
tenho vestido enquanto faço esta lista:

livros, risos que não consigo arrumar,
e raiva – um vaso de orquídeas que
amavas tanto sem eu saber porquê e
que talvez por isso não voltei a regar; e
livros, a cama desfeita por tantos dias,

uma carta sobre a tua almofada e tanto
desgosto, tanta solidão; e numa gaveta
dois bilhetes para um filme de amor que
não viste comigo, e mais livros, e também
uma camisa desbotada com que durmo
de noite para estar mais perto de ti; e, por

todo o lado, livros, tantos livros, tantas
palavras que nunca me disseste antes da
carta que escreveste nessa manhã, e eu,

eu que ainda acredito que vais voltar, que
voltas, mesmo que seja só pelos teus livros.

© Maria do Rosário Pedreira
from: Nenhum Nome Depois
Gótica, 2004
Audio production: Casa Fernando Pessoa/CML

[Read this, these are the names...]

english

Read this, these are the names of the things you
left – me, books, your smell filling
the room; half the dreams and twice
the pain, kisses all over my body
like deep cuts which will
never heal; and more books, loss,
the key of a house that was never
ours, a blue flannel dressing gown
I’m wearing as I write this list:

books, laughter I can’t put away,
and rage – a pot of orchids you loved
so much without my knowing why and I
haven’t watered since; and
books, the bed unmade for so long,

a letter on your pillow and so much
sorrow, so much loneliness; and in a drawer
two tickets for a romantic film you
didn’t watch with me, and more books, and also
a discoloured old shirt I wear for sleeping
to be close to you; and every-

where, books, so many books, so many
words you never said before the letter
you wrote that morning, and me,

me still believing you’ll be back, you will
be back, if even only for your books.

Translated by Ana Hudson with Gabriel Gbadamosi, 2012
first on: http://www.poemsfromtheportuguese.org/Maria_do_Rosario_Pedreira" ">www.poemsfromtheportuguese.org

[Vem ver-me antes que eu morra de amor — o sangue]

portuguese | Maria do Rosário Pedreira

Vem ver-me antes que eu morra de amor — o sangue
arrefece dentro do meu corpo e as rosas desbotam
nas minhas mãos. Da minha cama ouço a tempestade
nos continentes; e já quis partir, deixar que o vento
levasse a minha mala por aí; fiz planos de correr mundo
para te esquecer — mas nunca abria a porta.

Vem ver-me enquanto não morro, mas vem de noite —
a luz sublinha a agonia de um rosto e quero que me recordes
como eu podia ter sido. Da minha cama vejo o sol
tatuar as costas do meu país; e já sonhei que o perseguia,
que desenhava o teu nome no veludo da areia e sentia
a vida pulsar nessa palavra como um músculo tenso
escondido sob a pele — mas depois acordava e não ia.

Vem ver-me antes que morra, mas vem depressa —
os livros resvalam-me do colo e o bolor avança
sobre a roupa. Da minha cama sinto o perfume das
folhas tombadas nos caminhos, O outono chegou. E o quarto
ficou tão frio de repente. E tu sem vires. Agora
quero deitar-me no tapete de musgo do jardim e ouvir
bater o coração da terra no meu peito. Os vermes
alimentam-se dos sonhos de quem morre. E tu não vens.

© Maria do Rosário Pedreira
from: O Canto do Vento nos Ciprestes
Lisboa: Gótica, 2001
Audio production: Casa Fernando Pessoa/CML

[Come to me before I die of love...]

english

Come to me before I die of love – blood
is cooling inside my body and roses are fading
in my hands. From my bed I hear the storms
on the continents; I’ve already felt like leaving, letting the wind
randomly carry my suitcase; I planned to travel the world
to forget you – but I never opened the door.
Come to me while I’m not dead, but come by night –
light only underlines the sorrows of a face and I want you to remember me
as I might have been. From my bed I see the sun
tattooing my country’s coasts; and I dream I’m chasing it,
drawing your name on velvet sands and feeling
life pulsating in the word like a tensed muscle
buried beneath the skin – but then I’d wake up and never do it.
Come to me before I die, but come fast –
books are falling off my lap and mold is spreading
through my clothes. From my bed I scent the leaves
fallen on the paths. Autumn is here. And the room
has suddenly turned cold. And you don’t come. Now
I want to lie on the mossy carpet of the garden and hear
the earth’s heart beating in my breast. Worms feed
on the dreams of the dying. And you won’t come.

Translated by Ana Hudson with Gabriel Gbadamosi, 2012
first on: http://www.poemsfromtheportuguese.org/Maria_do_Rosario_Pedreira" ">www.poemsfromtheportuguese.org