Viviane de Santana Paulo 
Translator

on Lyrikline: 8 poems translated

from: german to: portuguese

Original

Translation

Geweiharchiv

german | Ron Winkler

meine Eltern schlugen häufig das Buch
der leisen Streite auf. meist ging ich
in einem solchen Fall mit einem
der drei Hunde meiner Kindheit spazieren.
sie jaulten ganze Idyllen zusammen.
die Schwester spielte Großmutter und hörte
schlecht. die Großmutter selbst hörte gut,
galt aber praktisch als ständig verreist in die Welt
der Walzer. Großvater war bereits
sein eigenes stilles Buch. man las es
aus Fotoalben zusammen. das waren Nachmittage
schwer und verraucht wie die Brokatvorhänge
der guten Stube. grünkohlgrün mit goldener Borte:
jeder Gast lobte die Wahl, dann den Likör.
Besuche waren Friedensfahrten, man übte
Philanthropie und Freiheit: hier spielten Geweihe
die Rolle der Großen Vorsitzenden an der Wand.
nach der Schule begann das Bewusstsein
als Testbild (zweites Programm), es beruhigte,
wenn die Schwester einen ihrer Pickeltode starb
oder Großmutter den Plattenspieler
auf Tango beschleunigte. ich erntete Kleingeld
von ihr, für meine Geduld, und Pralinen.
erst verabscheute ich sie, später waren sie mir
die süßen Zweigstellen des Stammbaums.
sie ließen die Zunge fliehen.

© Schöffling & Co.
from: Fragmentierte Gewässer. Gedichte
Berlin: Berlin Verlag, 2007
Audio production: 2005, M.Mechner / Literaturwerkstatt Berlin

arquivo de chifre

portuguese

meus pais muitas vezes folhearam o livro

das silenciosas brigas. em casos assim

eu geralmente ia passear com um dos

três cães da minha infância.

juntos uivavam contra todo um idílio.

minha irmã brincava de avó e ouvia mal. minha avó mesmo

ouvia bem, mas era praticamente considerada muito viajada pelo mundo

da valsa. meu avô era o seu próprio livro

de silêncio. liamos juntos nos álbuns de fotografias.

eram tardes pesadas e enfumaçadas como as cortinas de brocados

de uma sala de estar. cor verde de repolho verde com as barras douradas:

cada convidado elogiava a escolha. depois o licor.

visitantes eram como ciclistas da paz.* praticávamos

filantropia e liberdade: brincávamos que o chifre pendurado na parede

possuía o papel do grande presidente.

depois da escola surgia a consciência

como um teste de imagem (a televisão), era tranquilizante

quando minha irmã morria uma de suas mortes de ácne

ou minha avó acelerava o disco

tocando tango. eu colhia dela os trocados

para a minha paciência e chocolates.

primeiro eu as odiava, depois elas eram

os ramos doces da árvore genealógica

derretiam na língua.


* Friedensfahrt/ Course de la Paix/ Peace Race: corrida de ciclismo em prol da paz muito comum na antiga Alemanha Oriental, foi realizada pela última vez em 2006.

Traduzido para o português brasileiro por Viviane de Santana Paulo

Fotomahlzeiten

german | Ron Winkler

Silbergeschirr war das Zaumzeug
des Sonntags, aus der Küche kamen
dampfende Speisen, aus Liebe
Servietten, nichts war uns so nah
wie der Tisch, der den Fortbestand
sicherte. geschlossene Hände beteten
unter ihm hungrige Magerunser,
echtes Stallfleisch, pure Brust,
zum Abschluss ging es immer
ans Eingemachte, die privaten Pflaumen
nach vorwiegend volkseigenen Kartoffeln:
kein Satz war so sauber
geschält, auch wenn die Gespräche
glänzten wie der Foto-
Vater in seinen besten Jahren;
nie zu verhindern am Ende
der Magenbitter einer Müdigkeit
wie von Eulen gemietet.

© Schöffling & Co.
from: Fragmentierte Gewässer. Gedichte
Berlin: Berlin Verlag, 2007
Audio production: 2005, M.Mechner / Literaturwerkstatt Berlin

refeições como nas fotos

portuguese

talheres de prata eram as rédeas

do domingo, da cozinha surgiam

os pratos fumegantes, do amor

os guardanapos, nada nos era tão próximo

como a mesa, que garantia a procriação

mãos fechadas rezavam entre os famintos

da magreza nossa

e a carne autêntica de curral, puro peito

no final tudo dava na coisa feita em casa

nas ameixas particulares,

nas batatas na maioria nacionais:

nenhuma frase era tão limpa

descascada mesmo que a conversa

brilhasse como a foto

do pai em seus melhores anos

no final não era nunca de se evitar

os amargos de um cansaço

como que emprestado das corujas.

Traduzido para o português brasileiro por Viviane de Santana Paulo

ein Tag wie Dezember

german | Ron Winkler

dieser Tag hat glazialen Charakter.

wie könnte es anders sein: ihm liegt Winter zugrunde.

das Couvert der Wolken ist noch nicht geöffnet.

obwohl mich diese Sendung sehr angeht, par avion.

der Himmel gehört einer Graubranche an.

es herrscht ein neuer Ton irgendwie: diätetisches Licht.

wenigstens wahrt die Sonne den Anschein.

die Pappeln am Horizont Irokesengestrüppe.

Alleen führen noch immer ins Labiale.

auch sie sind von Schneefall punktiert.

was bisher fiel, lässt einen Reifrock vermuten.

die Landschaft so landschaftlich wie lange nicht mehr.

wovon ich auch noch weiß:

einige Tümpel verleihen sich Wäldern als glasige Orden.

aber die Wärmeflocken der Vögel täuschen

darüber hinweg.

© Schöffling & Co.
from: Fragmentierte Gewässer. Gedichte
Berlin Verlag , 2007
Audio production: 2005, M.Mechner / Literaturwerkstatt Berlin

um dia como dezembro

portuguese

este dia possui aspecto gélido.

 

não poderia ser diferente: há inverno no fundamento.

 

o envelope das nuvens ainda não se abriu.

 

embora este envio muito me interesse, par avion.

 

o céu pertence a um empreendimento cinza.

 

de alguma forma rege uma nova ordem: luz dietética.

 

pelo menos o sol mantém a aparência.

 

os álamos no horizonte como moitas iroqueses.

 

as alamedas ainda seguem ao labial.

 

também elas são pontuadas pela neve.

 

o que caiu até agora sugere uma crinolina branca.

 

a paisagem tão paisagística como há muito tempo não era.

 

o que ainda posso dizer:

 

alguns charcos se entregam às florestas como medalhas vítreas.

 

mas os flocos de calor dos pássaros

 

enganam.

Traduzido para o português brasileiro por Viviane de Santana Paulo

Ansichtskarte von einer See

german | Ron Winkler

wir badeten schräg in der Zeitform des Tauchens
bis die Städte ihre Wirkung verloren. wenigstens scheinbar
stauten wir Küsten in unserem Staunen. und Vorschläge
zu ihrer Umgehung. manchmal schien die Sonne
alles zu sein. dann wieder verrohten die Dinge
in ihren Substantiven. ansonsten ging es uns
eigentlich irgendwie.

© Schöffling & Co.
from: Fragmentierte Gewässer. Gedichte
Berlin: Berlin Verlag, 2007
Audio production: 2005, M.Mechner / Literaturwerkstatt Berlin

cartão postal de um lago

portuguese

banhávamos oblíquo no formato temporal do mergulho

até as cidades perderem o seu efeito. pelo menos aparentemente

empilhávamos encostas em nosso assombro. e propostas

para desviá-las. às vezes o sol parecia

ser tudo. depois as coisas se embruteciam de novo

em sua substância. no mais levávamos a vida

assim de algum jeito.

Traduzido para o português brasileiro por Viviane de Santana Paulo

botanischer garten

german | Jan Wagner

dabei, die worte an dich abzuwägen -
die paare schweigend auf geharkten wegen,
die beete laubbedeckt, die bäume kahl,
der zäune blüten schmiedeeisern kühl,
das licht aristokratisch fahl wie wachs -
sah ich am hügel gläsern das gewächs-
haus, seine weißen rippen, fin de siècle,
und dachte prompt an jene walskelette,
für die man sich als kind den hals verdrehte
in den museen, an unsichtbaren drähten,
daß sie zu schweben schienen, aufgehängt,
an jene ungetüme, zugeschwemmt
aus urzeittiefen einem küstenstrich,
erstickt an ihrem eigenen gewicht.

© 2016 Hanser Berlin im Carl Hanser Verlag GmbH & Co. KG, München
from: Selbstporträt mit Bienenschwarm. Ausgewählte Gedichte 2001- 2015
München: Hanser Berlin, 2016
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin 2010

jardim botânico

portuguese

as palavras pesando em ti
casais silenciosos vagando para lá e para cá
os canteiros cobertos de folhas, as árvores nuas
o gélido brotando das cercas de ferro forjado
a luz aristocrática pálida como cera
avistei no alto do morro os vidros da estufa
suas costelas brancas, fin de siècle,
e logo pensei naquele esqueleto de baleia
para o qual se vira a cabeça quando criança
no museu, preso nos cabos invisíveis,
parecendo flutuar, suspenso,
nesses monstros alagados, encalhados
saídos das remotas profundezas insondáveis da encosta
sufocados com o seu próprio peso

Tradução: Viviane de Santana Paulo

nature morte

german | Jan Wagner

ein großer fisch, gebettet auf eine zeitung,
 ein tisch aus holz in einer hütte in
 der normandie. ganz still, ganz warm - die luft
 strickt wollene socken. du kannst ihn berühren oder
 auch nicht, seine silbrigen schuppen gleich langen reihen
 von noten einer kühlen symphonie. sein kopf
 ist ab, sonst könnte er, gesetzt den fall
 daß fische lesen können, lesen
 was über seiner rückenflosse steht
 und ihm souffliert: "was tun sie, diese leute?"
 das licht entzieht sich leise, das papier
 nimmt tropfenweise meere in sich auf.
 au fond de l'image drischt der atlantik dröhnend
 die jüngsten vermißtenanzeigen in den strand.

© 2016 Hanser Berlin im Carl Hanser Verlag GmbH & Co. KG, München
from: Selbstporträt mit Bienenschwarm. Ausgewählte Gedichte 2001- 2015
Berlin: Hanser Berlin, 2016
Audio production: 2002, literaturWERKstatt berlin / Haus für Poesie

natureza morta

portuguese

um grande peixe, embrulhado em um jornal,
uma mesa de madeira em uma cabana na
normandia. totalmente parado, quente – o ar
tece meias de lã. você pode tocá-lo ou
não, suas escamas prateadas como uma longa pauta
de notas de uma sinfonia fresca. sua cabeça
está cortada, senão ele poderia, supondo
que peixes pudessem ler, ler
o que estaria escrito sobre a barbatana dorsal
assoprando-lhe: “o que fazem estas pessoas?”
a luz se retrai suave, o papel
absorve mar gota por gota.
ao fundo da imagem debulha o atlântico vibrando
os anúncios mais recentes de desaparecidos na praia.

Tradução: Viviane de Santana Paulo

der westen

german | Jan Wagner

der fluß denkt in fischen. was war es also,
das sergeant henley ihm als erster
entriß, die augen gelb und starr, die barteln
zwei schürhaken ums aschengraue maul,
das selbst die hunde winseln ließ?

die stromschnellen und ihre tobende
grammatik, der wir richtung quelle folgen.
die dunstgebirge in der ferne,
die ebenen aus gras und ab und zu
ein eingeborener, der amüsiert
zu uns herüberschaut und dann
im wald verschwindet: all das tragen wir
in adams alte karte ein, benennen
arten und taten. fieber in den muskeln
und über wochen die diät aus wurzeln
und gottvertrauen. unterm hemd die zecken
wie abstecknadeln auf der haut: so nimmt
die wildnis maß an uns.

seltsames gefühl: die grenze
zu sein, der punkt, an dem es endet und
beginnt. am feuer nachts kreist unser blut
in wolken von moskitos über uns,
während wir mit harten gräten
die felle aneinander nähen, schuhe
für unser ziel und decken für die träume.
voraus das unberührte, hinter uns
die schwärmenden siedler, ihre charta
aus zäunen und gattern; hinter uns
die planwagen der händler,
die großen städte, voller lärm und zukunft.

© 2016 Hanser Berlin im Carl Hanser Verlag GmbH & Co. KG, München
from: Selbstporträt mit Bienenschwarm. Ausgewählte Gedichte 2001- 2015
Berlin: Hanser Berlin, 2016
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin 2010

o ocidente

portuguese

o rio imagina peixes. o que foi aquilo
que o sargento henley lhe arrancou logo
de início, os olhos amarelos e hirtos, os bigodes
dois colchetes à volta do focinho cinza
que fazem até o cão gemer?

a velocidade da correnteza e a sua relutante
gramática que nos segue em direção à fonte.
as montanhas sedentas ao longe,
a planície de grama e aqui e ali
um nativo que se diverte
em nos observar e depois
desaparece na floresta. registramos tudo
no velho mapa de adam, classificando
espécies e atitudes. a febre nos músculos
e durante semanas manter-se com a dieta de raízes
e a confiança em deus. debaixo da camisa os carrapatos
dando alfinetadas na pele: assim captamos
a dimensão do selvagem em nós.

estranho sentimento: ser
a fronteira, o ponto, no qual se finda e
começa. ao redor do fogo, à noite, nosso sangue circulando
sob as nuvens de mosquitos
enquanto costuramos com espinhas duras
os couros dos sapatos
para o nosso destino e das cobertas para os sonhos.
adiante o inatingível, atrás de nós
as aldeias dispersas, suas escrituras
de cercas e portões, atrás de nós
os transportes dos comerciantes,
as grandes cidades, cheias de ruídos e futuro.

Tradução: Viviane de Santana Paulo

champignons

german | Jan Wagner

wir trafen sie im wald auf einer lichtung:
zwei expeditionen durch die dämmerung
die sich stumm betrachteten. zwischen uns nervös
das telegraphensummen des stechmückenschwarms.

meine großmutter war berühmt für ihr rezept
der champignons farcis. sie schloß es in
ihr grab. alles was gut ist, sagte sie,
füllt man mit wenig mehr als mit sich selbst.

später in der küche hielten wir
die pilze ans ohr und drehten an den stielen -
wartend auf das leise knacken im innern,
suchend nach der richtigen kombination.

© 2016 Hanser Berlin im Carl Hanser Verlag GmbH & Co. KG, München
from: Selbstporträt mit Bienenschwarm. Ausgewählte Gedichte 2001- 2015
Berlin: Hanser Berlin, 2016
Audio production: 2002, literaturWERKstatt berlin / Haus für Poesie

champinhons

portuguese

encontramo-os na floresta em uma clareira
duas expedições atravessando o crepúsculo
que se contemplavam caladas. entre nós o inquietante
zumbir telegráfico do enxame de mosquitos

minha avó era famosa pela sua receita
de champinhons recheados que ela levou junto
ao túmulo. tudo que é bom, dizia ela
precisa ser recheado com pouco mais do que de si mesmo

mais tarde na cozinha levávamos
os cogumelos ao ouvido e partíamos o cabo
esperando o ruído suave do seu quebrar lá dentro
na procura da combinação certa

Tradução: Viviane de Santana Paulo