Ricardo Domeneck
Translator
on Lyrikline: 29 poems translated
from: portuguese, german, dutch, icelandic to: english, portuguese
Original
Translation
Linear
portuguese | Ricardo Domeneck
De boca em boca
o mundo mostra
os dentes e a garganta
infecciona-se em resposta.
Atento ao ambiente como
o ambiente ignora a
minha vontade.
Mesmo equivalências
geram colisões e o eixo
do sal denuncia
o doce na boca.
“.”
O herói contra
a corrente, o herói
à vela.
Não há apoteose
suficiente para todos,
a chuva muitas vezes
cai antes
da hora,
quer-se os créditos
e eles não sobem.
Beethoven
ludibriou-nos.
É claro que em Who´s
Afraid of Virginia Woolf?
Richard Burton, não,
George, recorre ao
útero vazio
de Elizabeth Taylor,
não,
Martha, para a
ofensa última.
A escala da
nutrição não
recomeça a cada
meia-noite, segue
a continuidade
do esôfago, do
termômetro, da
maré, da
infecção, da
ascensão e queda
dos efeitos
da cocaína, da cafeína.
Filiação da fome e
as ilusões da higiene.
from: Sons: Arranjo: Garganta
São Paulo: Cosac Naify, 2009
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin 2008
Linear
english
Mouth to mouth
the world shows
its teeth and the throat
responds with infections.
Attentive to the world
as the world ignores
my will.
Even equivalence
produces collision and the axis
of salt unmasks
the sugar in a mouth.
"."
The hero against
the stream, the sailing
hero.
Not enough apotheosis
for all, rain
falls often
before schedule,
we expect the credits
and they do not roll upwards.
Beethoven
had us fooled.
Of course in Who´s
afraid of Virginia Woolf?
Richard Burton, no,
George, resorts
to the empty womb
of Elizabeth Taylor,
no,
Martha, for the
final assault.
The scale of
nutrition does not
restart every
midnight, follows
the flow
of the esophagus, of
the thermometer, of
the tides, of
scars and its wounds, of
the rise and fall
of the effects
of cocaine, of caffeine.
The heredity of hunger
and the illusions of hygiene.
Tage
german | Max Sessner
Wo sind die Tage hin gibt es sie noch
irgendwo den Hochzeitstag all die
Geburtstage einen Friedhof für Tage
kann es nicht geben und wer sollte
dort auch die Gräber pflegen niemand
könnte je damit fertig werden Blumen
auf ein jedes zu pflanzen aber ich
habe gehört dass sie als kleine Häuser
in einer Vorstadt stehen dicht aneinander
die Straßen schlecht beleuchtet wie in
einem alten amerikanischen Film jemand
den der Zufall dorthin verschlug erzählte
die Türen waren nur angelehnt und
alle Häuser sahen gleich aus von außen
sodass man leicht die Orientierung
verlor auch gab es keine Geschäfte
nichts wo man ein bisschen plaudern
konnte so fuhr er mit Schrittgeschwindigkeit
immer weiter ließ das Radio laufen bis
ihm das Benzin allmählich knapp wurde
er hätte gern seinen zehnten Geburtstag
noch einmal erlebt von allen Tagen
konnte er sich an diesen am besten
erinnern aber wo sollte er suchen also
drehte er um dachte an diesen Tag vor
fünfundvierzig Jahren an seine Mutter
die dort womöglich immer noch stand
und bis in alle Ewigkeit den einen Satz
immer und immer wiederholen musste
Jetzt blas doch endlich die Kerzen aus
from: Langsame Männer
Wenzendorf: Stadtlichter Presse, 2015
Audio production: Haus für Poesie / 2017
DIAS
portuguese
Aonde foram os dias existem ainda
em algum lugar o dia do casamento
todos os aniversários um cemitério
para os dias não há como haver quem
cuidaria dos túmulos ninguém
conseguiria terminar de plantar flores
em cada um deles mas eu ouvi dizer
que eles existem como casas pequenas
numa cidade satélite apertadas umas
às outras as ruas mal iluminadas como
num velho filme americano alguém
que acabou lá por acaso relatou que
as portas ficam só encostadas e todas
as casas pareciam iguais por fora
então se perdia muito fácil a orientação
também não havia qualquer comércio
lugar nenhum onde se pudesse fofocar
um pouco então ele dirigiu à velocidade
de um passo sempre adiante a rádio
ligada até que a gasolina foi acabando
ele teria adorado reviver seu décimo
aniversário de todos os dias vividos
era deste que ele mais se lembrava
mas onde deveria procurar ele se
virou e pensou outra vez neste dia
quarenta e cinco anos atrás na sua
mãe que provavelmente ainda estava
lá parada por toda a eternidade forçada
a repetir aquela mesma frase para todo
o sempre mas sopre logo estas velas
Der Goldzahn
german | Max Sessner
Wissen Sie das Glück ist ein
Idiot es weiß nie so recht
wohin es sich setzen soll sitzt
es endlich steht es oft gleich
wieder auf läuft durch die
Straßen als nicht mehr ganz
junger Mann in fadenscheiniger
Kleidung vorstellen kann man
sich dass er in Hauseingängen
schläft aber es gibt diesen
magischen Moment dieses
Aufblitzen eines Goldzahns
im Abendlicht wenn er sich
doch einmal niederlässt und
jemanden am Ärmel zupft
vielleicht ja doch kein Idiot nur
einer der zu schüchtern ist um
laut in die Hände zu klatschen
Audio production: Haus für Poesie / 2017
O dente de ouro
portuguese
Você sabia que a felicidade
é uma idiota ela nunca sabe
direito onde ela deveria se
sentar quando se senta quase
sempre logo se levanta anda
pelas ruas qual homem já não
tão jovem vestido em trapos
e farrapos pode-se imaginar
que ele durma diante das
entradas de prédios mas há
este momento mágico este
lampejo de um dente de ouro
na luz noturna dos postes
quando ele finalmente para
e puxa alguém pela manga
da camisa talvez idiota
nenhuma só alguém tímido
demais para bater palmas
Halbfertige Zeichnung
german | Max Sessner
Sterben niemals aber eins werden
mit dem Bezug des Sofas bietet
eine Möglichkeit des sanften
Verschwindens mit einem Lächeln
und die Hände in den Taschen bin
ich kaum mehr sichtbar nur die
mich lieben erkennen noch meine
Züge im Muster des Stoffes Abende
gibt es da sieht man mich etwas
deutlicher ob es am Wetter liegt ich
weiß es nicht dann sitzt du neben
mir die Hand auf meinem Knie und
kaum lesbar erscheint auf deinem
Handrücken eine winzige Schrift
du bewegst stumm deine Lippen
als du zu lesen versuchst dein Herz
klopft stark es klopft außerhalb von
dir irgendwo in diesem Zimmer
from: Langsame Männer
Wenzendorf: Stadtlichter Presse, 2015
Audio production: Haus für Poesie / 2017
DESENHO INACABADO
portuguese
Morrer nunca mas tornar-se
um com o forro do sofá
oferece a possibilidade do
sumiço macio com sorriso
e as mãos nos bolsos eu mal
permaneço visível só aqueles
que me amam ainda reconhecem
meus traços na estampa do tecido
há noites em que se me distingue
mais se depende do clima eu não
sei então você se senta ao meu
lado as mãos no meus joelhos e
quase ilegível aparece nas costas
das suas mãos um escrito minúsculo
você move em silêncio seus lábios
como se tentasse ler seu coração
bate com força ele bate fora de
você em algum lugar deste cômodo
Schiffe
german | Max Sessner
Spät ist es in den Wörtern wo
ganze Mannschaften träumen
wo man Lieder singt kurz
vorm Morgengrauen sprich
sie ruhig aus sie treiben die
Straße hinunter Schiffe die
Segel gebläht und am Mast
flattert der Totenkopf mit den
gekreuzten Säbeln sprich
sie ruhig aus oder aber sei
einfach still dann tümpeln
die Schiffe im Hafen laufen
nicht aus Steuermänner
spucken ins Wasser und die
Leere im Frachtraum ist nicht
zu ertragen es liegt an dir
ob du hinabsteigst barfüßig
über die Planken läufst hin
und her immer wieder bis
du das Meer fühlst dunkel
und tief unter deinen Füßen
Audio production: Haus für Poesie / 2017
BARCOS
portuguese
É tarde nas palavras onde
tripulações inteiras sonham
onde você canta canções
logo antes do amanhecer
as pronuncie elas vagam
rua abaixo barcas as velas
cheias e no mastro
treme o crânio com os
sabres cruzados as pronuncie
baixinho ou fique só quieto
então empoçam os barcos
no porto não içam vela
e partem os timoneiros
cospem nas águas e o
vazio no porão de carga
não é tolerável depende
de você desembarcar ou
não descalço sobre as
pranchas de novo e de novo
até que você sinta o mar
escuro e pesado sob os pés
Ballade
german | Max Sessner
Dann geht man eines schönen
Tages verloren du hörst womöglich
eine Melodie kommst ab vom
Weg und plötzlich sitzt du bei den
Bauarbeitern mit am Grill es gibt
viel Bier und überm Feuer liegen
dicke Scheiben Fleisch so nach
der vierten Flasche erscheint auf
deinem Unterarm die Tätowierung
eines nackten Mädchens es scheint
dir unentwegt zu winken doch kannst
du jetzt nicht weg du machst ihr klar
dass du hier leben willst in einer
dieser stickigen Baracken die du
seit Monaten vom Sehen kennst
schon bald ist Herbst der Mond wird
langsam blasser und nur damit
du's weißt in diesem Männermief
wirst du zu Grunde gehen es sei
denn du besinnst dich wieder auf
das Mädchen noch vor dem ersten
Schnee wenn niemand euren Spuren
folgen kann und all die Kerle vor
Eifersucht ganz krank am Bauzaun
um ein schwaches Feuer stehen
from: Langsame Männer
Wenzendorf: Stadtlichter Presse, 2015
Audio production: Haus für Poesie / 2017
BALADA
portuguese
você um belo dia então se
perde talvez ouça uma melodia
se desvia do caminho e de
repente senta-se com pedreiros
frente a uma churrasqueira há
muita cerveja e sobre o fogo estão
fatias grossas de carne então após
a quarta cerveja aparece em seu
antebraço a tatuagem de uma
menina nua ela parece estar
acenando para você sem parar
mas você agora não pode sair
você deixa claro a ela é aqui que
você quer viver nesses muquifos
que há meses conhece de vista
em breve será outono devagar
a lua empalidece e saiba que
você há de perecer nessa morrinha
de machos a não ser que se
relembre da menina logo antes
da primeira neve quando ninguém
pode seguir o rastro de vocês
e todos os caras ficam nas grades
doentes de tamanha inveja
ao redor de um fogo brando
[was übrig bleibt, wenn man das fell gegen den strich bürstet]
german | Ronya Othmann
was übrig bleibt, wenn man das fell
gegen den strich bürstet: ich ordne die
plastiktüten der größe nach, schiebe den
karren. ich warte an still gelegten
bahnhöfen. meine katze ist in ein
anderes haus gezogen. ich bin zu müde,
um zu kontrastieren. mir fällt nichts ein,
außer-. dein geschorenes haar finde ich
an allen knotenpunkten. ausfallstraßen,
nahverskehrsadern. es ist die falsche
fährte. die karten beschreiben den weg
zur wassertränke. mir fehlen die kamele,
um zu bestreiten, dass-. ich hebe mich
auf und bespreche mit der kommunalen
landschaftspflege. hier gibt es nichts
zurechtzuschneiden, wegzufegen, in den
rinnstein, kopfstein, asphaltierstein. sie
hat sich zurechtgelegt einen schleich-
weg, meine treulose katze, durch den
park und weiter. ich sehe nicht durch.
meine flüche habe ich restlos
aufgebraucht.
Audio production: Haus für Poesie, 2018
[o que sobra quando se escova o pelo]
portuguese
o que sobra quando se escova o pelo
contra o risco: eu organizo as
sacolas de plástico por tamanho, empurro
as carroças. eu espero em estações
de trem desativadas. minha gata
mudou-se para outra casa. estou cansada
demais para contrastar. nada me ocorre,
a não ser: teus cabelos tosados encontro
em todas as intersecções. Rodovias marginais,
as artérias viárias. é a via falsa.
os mapas descrevem o caminho
ao bebedouro. faltam-me os camelos
para contestar, que: eu me ergo
e dialogo com o paisagismo
comunal. nada há por aqui
para endireitar à tosa, à vassoura, no
meio-fio, no paralelepípedo, no asfalto. ela
preparou para si um escape,
minha gata infiel, pelo
parque e além. minha visão embaçou-se.
inquieta gastei minhas
maldições.
[draußen geht der wind wie fliehende gänse]
german | Ronya Othmann
draußen geht der wind wie fliehende
gänse. es fehlt mir der regen, um das zu
erklären. ich brauche ihn, um die
atemlücken zu füllen. ich frage mich,
wie ordnet man seine zähne im schlaf.
was tut man gegen den hohlraum, den
mund. wohin mit der zunge. es gibt
keine ordnung im blau. das wetter ist
durcheinander geraten. ich klopfe in den
putz. du hörst nicht zu. mir fehlt der
hunger am abend. ohne ihn kann ich
tagsüber nicht schlafen.
Audio production: Haus für Poesie, 2018
[lá fora há o vento como gansos]
portuguese
lá fora há o vento como gansos
em voo. faz falta a chuva para poder
explicar. preciso dele para preencher
as pausas na respiração. eu me pergunto
como organizar seus dentes no sono.
o que fazer contra as cavidades, a
boca. para onde com a língua. não
há ordem no azul. o clima
acabou confundido. dou batidas
no reboco. Tu não ouves. Faz-me falta
a fome à noite. sem mim não posso
dormir durante o dia.
[aus dem naturkundemuseum weiß ich]
german | Ronya Othmann
aus dem naturkundemuseum weiß ich:
zerreibe ich sand zwischen meinen
fingern, erde und kohle, ziert das die
rebe nicht, der eber reizt sich, zeigt sich,
schert zeit um sich. wie sind diese
bäume zu verstehen. und machen die
haare auf meinem körper schon eine
wiese. am einfachsten liebt es sich
rückwärts. nimmt man beim singen
einen vogel hinzu, kann man den
pfeifton weglassen. aus dem naturkunde-
museum weiß ich nicht: ist das mein
wald oder deiner. und ein rückstoß der
sich in den gräsern zeigt, wie ein
geräusch, in einer esche grau, eine
scherge auch, einen sucher, schauer, eine
ursache aus. wohin mit dem schorf.
Audio production: Haus für Poesie, 2018
[do museu de história natural eu sei]
portuguese
do museu de história natural eu sei:
se esfrego areia entre meus
dedos, solo e carvão, a videira
não se enfeita, se espicaça o porco, mostra-se,
tosa o tempo ao redor. como se compreende
essas árvores. e bastam os pelos
do meu corpo para formar
um relvado. a maneira mais fácil de amar
é de marcha à ré. adiciona-se ao canto
um pássaro, pode prescindir
do assovio. do museu de história
natural eu não sei: essa é minha
floresta ou a sua. e um solavanco
que se mostra no relvado como um
som, em um freixo cinza, também
um algoz, um argaço, aguaceiro, um
ardil a menos. onde por a crosta.
[wirf die löwenmäulchen hinter dich]
german | Ronya Othmann
wirf die löwenmäulchen hinter dich. du
darfst dich nicht umdrehen. lass alles
zurück, was dich an sie erinnert. den
kehricht vor dem tor, den buchstabierst
du im winter, wie ein sperling den märz.
schon weißt du nicht mehr, was es war.
schnee, als wäre er nie hier gewesen.
leere hofeinfahrten, eine fälschliche
behauptung, die schwarzäugige susanne
hinter deinem rücken. kein name für
dein mädchen. das dorf hat kein haus für
dich. nicht einmal im wald lässt es sich
wohnen. du fragst dich, während du
gehst, ob es das pflaster ist, das deine
schuhe nicht trägt oder deine schuhe
nicht das pflaster.
Audio production: Haus für Poesie, 2018
[joga para trás as bocas-de-leão]
portuguese
joga para trás as bocas-de-leão. tu
não podes virar o rosto. deixa tudo
para trás o que te lembra delas. dejeto
frente ao portão que soletras
no inverno, como um pardal soletra março.
já não sabes mais sequer o que era.
neve como se nunca houvesse ali.
entradas de pátio vazias, afirmação
equivocada, susanne de olhos pretos
às tuas costas. nome nenhum
para tua menina. casa nenhuma na vila
para ti. nem mesmo na floresta pode-se
morar. tu te perguntas, ao partir,
se é o pavimento que não veste
teus sapatos, se teus sapatos
é que não vestem o pavimento.
[womit soll man beginnen]
german | Ronya Othmann
womit soll man beginnen, wenn man die monde
abgelaufen ist wie ein alphabet. mit diesem weiler, dieser
hofleere, zwischen scheune und wald, nicht mal wind und.
was der nebel hervorwürgt, hängt am morgen in den gräsern.
eine feuchte, eine schwere, dein in der mitte geteiltes haar. es sickert
und ich streiche aus, fades licht. ich schlucke nicht. worauf ich warte,
tritt nicht ein. mit welchem pronomen soll ich dich versehen und
zu welchem ende soll ich atmen. ein zucken in den halmen, bevor ich vergesse,
von welchem tier oder war da eins. in der ferne ein gewitter, das sich in sich
zusammenzieht und wohin. du zählst, ein abgebranntes haus und darin
war nichts außer ein bett, ein stuhl, ein tisch und mein bett, mein stuhl,
mein tisch. mein schlaf ist in eine schieflage geraten. von da an
lässt sich nicht bleiben, nur fragen. wohin trägt man diese gegend.
und womit füttert man den nebel.
Audio production: Haus für Poesie, 2019
[começar com o quê, se decorremos as luas]
portuguese
começar com o quê, se decorremos as luas
como a um alfabeto. com esse vilarejo, esse
vazio de pátio, entre celeiro e floresta, nem mesmo vento e.
o que a neblina esgana pra fora pendura-se de manhã nos gramados.
uma umidade, um peso, teu cabelo repartido no meio. infiltra-se
e eu aliso, luz opaca. não engulo. aquilo pelo que espero
não se dá. com qual pronome devo prover-te e
por qual razão devo respirar. os caules tremem, antes que me esqueça,
por causa de qual animal e se havia um. ao longe um temporal que em si se
congrega e qual seu destino. tu contas, uma casa queimada e nada nela
além de uma cama, um cadeira, uma mesa e minha cama, minha cadeira,
minha mesa. meu sono entorta-se. daí por diante
não se fica, só se questiona. Aonde levar essa região.
e com o que se alimenta a neblina.
[Ich bin kein ElitePartner]
german | Martin Piekar
Ich bin kein ElitePartner, wusstest du,
Dass Ameisen Mikrowellenstrahlung sehen
Und überleben. Wenn ich dich
Zerstückelte und in die Mikrowelle steckte
Würdest du es nicht ausnutzen
Mir an die Wäsche zu gehen? Ich bin
Derart prätentiös unelitär, dass ich gerne
Saufe und Freunden dann sage, wie sehr
Ich sie liebe. Ich streite gern, auch nüchtern.
Ich will am Valentinstag zurückgelassen
Dieses Gedicht schreiben und mich
Ungeliebt fühlen. Ich baue nämlich nicht
Auf die Zukunft. Ich trage schwarz und nur.
Ich trage es ästhetisch und nur. Am besten
Trägst du es auch und nur, weil es dir gefällt.
Du sollst mir nicht gefallen, gefalle mir.
Wenn du einen Mann vergewaltigtst, dann
Ausdrücklich und lang, er könnte ein
Potential Rapist sein. Besser ist es.
Denn wenn wir Hobbys tauschen, hast du
Mir am besten eins verschwiegen, behalts
Für dich. Beziehungsstatus sollst du nicht
Teilen, du sollst ihn leiden. Leide mit mir
Einen. Verkupplung ist nur die Ausrede,
Wenn man nicht mehr voneinander loskommt.
Für Trotzficken hab ich keine Zeit übrig.
Wer will schon Krötenlecken statt
Der Partnerin. Und im Horoskop finde ich nur
Weitere Gründe gegen Online-Dating.
Wenn ich meine Ängste teile, möchte ich
Das du dich mit mir fürchtest.
Autophobie: die Angst alleine
Auf sich selbst gestellt zu sein. Liebe ist eine.
Die Wahrheit ist immer eine andere.
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2015
Eu não sou ElitePartner
portuguese
Eu não sou ElitePartner algum, você sabia
Que formigas veem radiação micro-ondas
E sobrevivem. Se eu a picasse
Em pedaços e a pusesse no micro-ondas
Você não abusaria disso para
Abrir minha braguilha? Eu sou tão
Pretensiosamente antielitista que gosto
De beber e dizer aos meus amigos o quanto
Os amo. Brigo com gosto, mesmo sóbrio.
Quero, abandonado no Dia dos Namorados,
Escrever este poema e sentir-me
Desamado. Eu não deposito confiança
No futuro. Eu me visto de preto e só.
Eu me visto por estética e só. Melhor
Que você se vista assim porque gosta, e só.
Você não precisa me agradar, eu me agrado.
Se você estuprar um homem, então
Que seja explícito e forte, ele poderia
Ser um estuprador em potencial. É melhor.
Pois se trocarmos passatempos, eu prefiro
Que você me esconda um deles, guarde
Para si. Estado civil não se compartilha,
Tolera-se. Tolere um deles
Comigo. Namoro é apenas a desculpa
Quando dois já não se livram um do outro.
Não tenho mais tempo para trepar por despeito.
Quem quereria lamber sapos em vez
Da parceira. E no horóscopo acho apenas
Mais argumentos contra online dating.
Quando compartilho meus medos, quero
Que você tenha medo deles comigo.
Autofobia: o medo de sozinho
Acabar por conta própria. Amor é uma coisa.
A verdade é sempre outra coisa.
Hauptbahnhof Frankfurt am Main I
german | Martin Piekar
I
Meine Perspektiven enden dort
Die Mutter meiner Bahnhöfe
Was hier keimte, kam immer zurück
Zu oder mit mir (immer hat
Eine blinde Quote, aber eine Quote)
A million faces, each a million lies
Schrieb ich im ICE, dann kommen
Die Brücken, die Boote, ich glaube
Sie fahren immer im Kreis – fast
Im geometrischen – Ich schwöre
Bei all meinen Fetischen: Frankfurt
Spiegelt sich nicht im Main
Der Fluss spiegelt sich hier in der Stadt
from: Bastard Echo
Berlin: Verlagshaus Berlin, 2014
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2015
Ferroviária Central de Francoforte do Meno I
portuguese
I
Meus pontos de vista acabam ali
A mãe de todas as minhas estações
O que aqui floresceu, sempre voltou
Para mim ou comigo (há sempre
Uma taxa cega, mas uma taxa)
A million faces, each a million lies
Eu escrevi num ICE, então vêm
As pontes, os botes, eu creio
Que sempre andem em círculo – quase
Geométricos – eu juro
Por cada fetiche meu: Francoforte
Não se espelha no Meno
O rio aqui se espelha na cidade
[dass es abstrakter ist]
german | Martin Piekar
dass es abstrakter ist, wenn ich
vom Ficken spreche, weißt nur du
es ist ein geschollener Traum
zwischen uns
mit Widerhaken häkeln wir in Emotionen
und widersprechen Epikur
so ein bisschen punkromantisch
die panchromatische Frankfurternacht
stellt die Zeit aufs Abstellgleis
und uns die Weichen, frivol und sorglos
zu entgleisen in Nebengassen
Schattengraffito tätowiert
und die kredenzen uns ein Pendelschwingen
von Ideen, bis wir vom Grat der Straßenwoge
in den Morgen schlingern
ich wünschte Caravaggio könnte uns so malen
nein, nur er, nachts vertanzt besoffen
hey – hey du, deine Träume
wandern wie Spinnen ausm Kopf
durch dein wehendes Haar als Schraffur
from: Bastard Echo
Berlin: Verlagshaus Berlin, 2014
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2015
[que é tão abstrato]
portuguese
que é tão abstrato quando eu
falo sobre fodas, só você sabe
é um sonho de gelo à deriva
entre nós
com barbelas bordamos em emoções
e contradizemos Epicuro
um pouco assim punk-romântica
a pancromática noite frankfurtiana
trilha o tempo a desvios mortos
e a nós as agulhas, frívolas e negligentes
para descarrilharmos em ruas paralelas
grafito de sombras tatuado
e os donaires são um pêndulo de ideias
até das lombadas de ondas de asfalto
balouçarmos para dentro da manhã
queria que Caravaggio assim nos pintasse
não, só ele, exdançado bêbado à noite
ei – ei você, os seus sonhos
perambulam como aranhas da sua cabeça
por seu cabelo ondulado qual hachura
BUCH DER UNRUHE
german | Manfred Peter Hein
Aufgelassener Ölmühle Schilfdach
Schatten der fällt wo ich lese
im Buch der Unruhe während
langstreift am Strandgemäuer
wie gestern das Maultier
sich scheuernd am Ölbaum
Stimme des Schattens schürft
im Schatten
zu gleicher Stunde
Wo
mögen die wahrhaft
in Wahrheit lebendig
Lebenden sein
from: Über die dunkle Fläche. Gedichte 1986 - 1993
Zürich: Ammann Verlag, 1994
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin
LIVRO DO DESASSOSSEGO
portuguese
sombra do telhado de junco
do moinho aberto que incide onde leio
o Livro do Desassossego enquanto
roça a murada à beira-mar
como ontem a mula
coçando-se na oliveira
a voz da sombra esfola
na sombra
à mesma hora
onde
estarão os vivos
verazmente vivos
de verdade?
[es gibt kein richtiges Leben im Falschen]
dutch | Frank Keizer
es gibt kein richtiges Leben im Falschen
leer ik van Adorno, en daar heb ik
een tijdlang gezwegen
en toch doorgeleefd
hoe kan ik zo veel lullen
in mijn vastlopen
ik schrijf mijn affecten
dat ze me pijn doen
en vraag ze waarom ze me niet willen veranderen
daarna heb ik veel gezocht met Google
dat ook niet weet hoe het voelt
leven in de eenentwintigste eeuw
bedoel ik, dat is iets proberen
je stoten aan verbanden en buigzaamheid
hoe voelt dat?
from: Onder normale omstandigheden
Uitgeverij Polis, 2016
Audio production: Literaturwerkstatt / Haus für Poesie, 2016
[Es gibt kein richtiges Leben im Falschen]
portuguese
Es gibt kein richtiges Leben im Falschen
ensina-me Adorno, e logo em seguida
fiquei em silêncio por um tempo
você continuou vivendo
como posso tagarelar tanto
enquanto me afundo
escrevo a minhas afeições
que elas me machucam
e pergunto por que se recusam a mudar-me
e então faço uma pesquisa rigorosa no Google
que também não sabe como é o sentimento
de viver no início do século XXI,
quer dizer, significa ao menos tentar,
chocando-se em relações e maleabilidade,
como se sente isso?
wenn ich groß bin
german | Max Czollek
wenn ich groß bin
fürchte ich mich nicht
vor überlandflügen
spiele ich ein lied
auf der wirbelsäulenflöte
meiner ersten liebe
wenn ich groß bin
fange ich dorftrottel
mit diesen vogelhänden
lasse sie eine autobahn
ausrollen auf das meer
für meine wolkenpanzer
from: Jubeljahre
Berlin: Verlagshaus Berlin, 2015
Audio production: Haus für Poesie, 2017
quando eu crescer
portuguese
quando eu crescer
eu não terei medo
de voos continentais
tocarei uma canção
na flauta-vértebra
do meu primeiro amor
quando eu crescer
prendo idiotas da vila
com mãos de pássaro
deixo-os estender
uma rodovia na água
a meus tanques-nuvem
an einen vorgeborenen
german | Max Czollek
I.
in die städte kam ich zur stunde
der hochzeiten als da
freude herrschte
unter den menschen
ich tanzte mit ihnen
schlief unter den stummen
ohne sprache den mund voll
gestopft mit brücken
die kraft meiner arme
ging in koffern
trug ich die angst
II.
es ist wahr
ich tauchte im großen meer
verlor mein haar dabei
getragen von glück
als das aussetzte
war ich unterwegs
die hoffnung dünn wie ein blatt
im wald (ich rede von bäumen
rede ich)
und kann den weg nicht finden
zu den häusern aus luft
III.
wirklich ich lebe in zeiten
wo die unglücklichen nicht
mehr weinen wir einfach
weiterschreiben – überall
die finger am abzug wer
kann da noch freundlich
bleiben was hilft es wozu
sind wir geworden am ende
der eismeere
wohin die straßen führten
from: Druckkammern
Berlin: Verlagshaus J. Frank, 2012
Audio production: Haus für Poesie, 2017
àquele que nasceu antes
portuguese
I.
cheguei às cidades à hora
das bodas quando
ali a alegria imperava
entre os homens
eu dancei com eles
dormi entre os mudos
sem língua a boca cheia
entupida de pontes
a força dos meus braços
foi-se em malas
carreguei o medo
II.
é verdade
mergulhei no mar cheio
perdi nisso os cabelos
carregado pela sorte
quando isso falhou
eu estava de partida
a esperança magra feito folha
na mata (eu falo de árvores
eu falo)
e não encontro o caminho
para as casas de ar
III.
de verdade vivo em tempos
em que os infelizes nem
choram mais nós somente
escrevemos adiante – por todo
lado os dedos em gatilhos quem
pode seguir simpático de que
adianta por que nos tornamos
ao fim do oceano ártico
aonde levavam as ruas
para o meu tempo
jubiläum
german | Max Czollek
durch meine wohnung
wandern schatten
trinken auf gestern
hinter den wänden
ruft es nach ihnen
kann sein: schweigen
oj, ich habe flaschen
geleert für das meer
morgen fahre ich hin
bis dahin sterben
meine väter in weiß
sie werden das nicht verstehen
from: Jubeljahre
Berlin: Verlagshaus Berlin, 2015
Audio production: Haus für Poesie, 2017
aniversário
portuguese
pelo meu quarto
vagam sombras
brindam ao ontem
atrás das paredes
elas são invocadas
pode ser: silêncio
oi, esvaziei garrafas
para o oceano
amanhã sigo para lá
antes morrem
meus pais em branco
vocês não entenderão isso
& dann fing ich noch einmal mit der Zeile an
german | Odile Kennel
auf einmal, da war ich
an dieser Stelle aus meinem Leben
heraus, an dieser Stelle war
wenn man genau hinsah, nichts
Nennenswertes, kein Nennwert, kein
Ding, kein Name für das Ding.
Hätte ich geklopft, man hätte mich vielleicht
hereingelassen. Ich brauche dieses blasse
Licht im März, sage ich, ich brauche es
am Samstagnachmittag das Klirren
der Glascontainer zu hören und dabei zu denken
dass ich an nichts denke, ich brauche es
dass ein Schuh nur ein Schuh ist
ein Kühlschrank ein Kühlschrank
und der Wecker da draußen
der jeden Tag um die gleiche Zeit piept
nur ein Wecker da draußen
der jeden Tag um die gleiche Zeit piept.
Diese neue Zeile, die ich beginne, endet
vielleicht nie, oder hebt ab
so wie ein Hund hinausliefe, nur
weil die Tür offen steht
nach Zeilen von Rolf Dieter Brinkmann
from: oder wie heißt diese interplanetare Luft.
München: dtv premium, 2013
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2014
E então começara de novo com o verso
portuguese
& então começara de novo com o verso,
de repente, lá estava eu, nesse ponto
em minha vida.
(Rolf Dieter Brinkmann)
De repente, lá estava eu,
nesse ponto, saída de minha própria
vida, nesse ponto, quando se
observava de perto, nada
havia de significante, não havia
signatário, coisa ou nome para a coisa.
Houvesse batido à porta, teria sido talvez
permitida minha entrada. Preciso, digo, dessa luz
pálida de março, preciso, nos sábados
à tarde, ouvir o tilintar
de vidro para reciclagem e então pensar
que não penso em nada, preciso
que o sapato seja apenas sapato,
uma geladeira, uma geladeira,
e o despertador, que algures
toca todos os dias à mesma hora,
apenas um despertador, que algures
toca todos os dias à mesma hora.
Esse verso novo que começo, talvez nunca
termine, ou fique, como
um cachorro escaparia, apenas
por estar aberta a porta.
Salbei denken
german | Odile Kennel
ich denke Salbei, wenn ich Salbei
sehe, denke grüngraue, samtene Blätter
paarweise gegenständig, Lippenblütler
bitter und würzig, oder ich denke nichts
nicht Salbei, nicht Pflanze, nicht Duft
weil vor lauter Denken der Salbei
wohl vorkommt am Fenster, doch
verkommt im Kopf, er also für mich
nicht existiert, er aber für sich
existiert und nicht weiß, wie er heißt
und nichts weiß von seiner Existenz
vermutlich gar nichts weiß.
Ich denke du wenn ich nicht
Salbei denke, nicht denke
dass die Mauersegler dösen
in den höheren Schichten der Luft
während wir wach liegen am Fenster
ich denke du, während der bittere
und würzige Duft in deine und meine
Existenz dringt, von der er nichts weiß
und so entsteht ein existenzielles
Ungleichgewicht im Nachmittagslicht
denn wir wissen, wir wissen sehr genau
dass alle Zeit nur eine himmelwärts stürzende
Tasse ist oder ätherisches Öl, oder
eine Apparatur der Einsamkeit, vermutlich
mit einem Zitat von Ulrike Draesner
from: oder wie heißt diese interplanetare Luft.
München: dtv premium, 2013
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2014
Pensar sálvia e você
portuguese
Eu penso sálvia quando eu
vejo sálvia penso folhas de veludo
verdes-cinzas pareadas opostas ou
labiadas ou temperadas e amargas
ou eu penso em nada nem sálvia nem
planta nem cheiro pois por tanto
pensar a sálvia se encontra
à janela se desencontra na mente pois
ela para mim não existe mas
existe para si nada sabe de
seu nome nada sabe de seu
existir presume-se que nonada sabe.
Eu penso você quando eu não
penso sálvia quando não penso que
os andorinhões cochilam nas altas
camadas do ar e nós deitadas
despertas à janela eu penso
você e o cheiro amargo
e temperado infiltra-se no seu
no meu existir de que nada sabe
e assim origina-se um desequilíbrio
existential na luz pós-meridiana
pois sabemos sabemos muito bem
que todo tempo é apenas uma xícara a
despenhar-se aos céus ou óleo etéreo
ou a maquinaria da solidão, presume-se.
Ég er bréfshaus
icelandic | Eiríkur Örn Norðdahl
Ég er dagsetning, staður
Ég er formlegt kurteisisávarp.
Ég er opnunarsetning. Ég er kynningarsetning. Ég er
setning sem rekur erindi, sem rekur erindi, rekur erindi. Ég er sár
bón örvæntingarfullrar manneskju. Ég er reiðinnar býsn af hógværð.
Ég er lýsing á stórkostlegum afrekum. Ég er ítrekun hógværðar. Ég
er upptalning, upptalning, upptalning.
Ég er frekari útskýring, nánari útlistun. Ég er ítrekun
sárinda, frásögn af eymd. Ég rek fingur í gröft opinna sára. Ég
höfða til mennskunnar. Ég höfða til samviskunnar. Ég höfða til
sektarkenndar vegna atburða horfinna tíma. Ég fer viljandi með
ósannindi.
Ég er upphaf frásagnar. Ég er útskýring á aðstæðum. Ég er
vísun í aðra sögu. Ég er miðja frásagnar. Ég er ris. Ég er uppgjör. Ég
er frágangur. Ég er málsháttur sem tekur saman söguþráðinn á
einfaldan hátt. Ég er ný túlkun á boðskap sögunnar.
Ég er uppástunga um málalyktir. Ég er enn frekari ítrekun
sárinda. Ég er bruðlun óljósra hótana. Ég er aumkunarvert
sársaukaóp. Ég er örvænting að níu tíundu hlutum og reiði að
einum tíunda hluta. Ég er boð um kynferðislega greiða. Ég er lýsing
á staðsetningu og tíma. Ég er símanúmer.
Ég er formleg kurteisiskveðja.
Ég er undirskrift
Ég er nafn
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin 2010
PAPEL TIMBRADO
portuguese
Eu sou um cabeçalho.
Eu sou uma data, um local.
Eu sou uma saudação formal.
Eu sou uma frase de abertura. Eu sou uma frase de apresentação. Eu sou uma frase que aborda negócios, aborda negócios. Eu sou uma súplica de um ser humano em desespero. Eu sou grandes esplendores de modéstia. Eu sou uma descrição de grandes conquistas. Eu sou reiteração de modéstia. Eu sou uma enumeração, uma enumeração, uma emuneração.
Eu sou explicações subsequentes, dissertação precisa. Eu sou reiteração de súplica, narração de miséria. Eu enfio um dedo no pus de feridas abertas. Eu apelo à humanidade. Eu apelo à culpa causada por eventos em tempos perdidos. Eu digo inverdades de propósito.
Eu sou o início de uma narrativa. Eu sou uma explicação de circunstâncias. Eu sou uma alusão a outra narrativa. Eu sou o meio de uma narrativa. Eu sou a ascensão de uma narrativa. Eu sou o lucro de uma narrativa. Eu sou uma conclusão. Eu sou um provérbio que resume de forma clara uma trama. Eu sou uma nova interpretação de uma narrativa.
Eu sou uma sugestão de retorno. Eu sou nova reiteração de súplica. Eu sou o desperdício de ameaças vagas. Eu sou um grito patético de dor. Eu sou nove décimos de desespero e um décimo de ira. Eu sou uma oferta de favores sexuais. Eu sou uma descrição de hora e local. Eu sou um número de telefone.
Eu sou uma saudação formal.
_____Eu sou uma assinatura_____
Eu sou um nome
[Sommerregen. Schwarzer Abend. An den Rand]
german | Jürgen Becker
Sommerregen. Schwarzer Abend. An den Rand
einer Todesmeldung gekritzelt die verfügbaren Daten,
die das Interview in Gang setzen, die Erinnerung
an entrückte Begegnungen, von denen
wir uns mehr Zukunft versprochen hatten.
Der neue New Yorker bleibt offen liegen.
Was heißt Zukunft, wenn sich das letzte Gespräch
per Bandschleife endlos wiederholen läßt
und ein Nachruf zehn Jahre liegt im Archiv.
Trockener Sommer. Der Abend ist hell.
Eine Reise ist vorzubereiten. Man muß
durch eine Nebelfront, deren Weiß so weiß
wie chinesische Trauer ist. Bitte keine Zitate.
Thema vom Tisch. Die Gerstenfelder sind leer,
und man liest, kompliziert sind die Städte.
In memoriam Donald Barthelme
from: Das englische Fenster. heute in: Die Gedichte
Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag , 1995
ISBN: 3-518-39096-1
Audio production: 2000 M. Mechner, literaturWERKstatt berlin
Chuva de verão. Noite negra. No canto
portuguese
Chuva de verão. Noite negra. No canto
de um obituário as datas disponíveis rabiscadas
que deram andamento à entrevista, a lembrança
de encontros de sonho, dos quais
nos prometêramos mais futuro.
A nova edição da New Yorker fica aberta.
O que significa futuro, quando a última conversa
deixa-se repetir eternamente na fita rotatória
e um necrológio fica dez anos em arquivo.
Verão de seca. A noite tão clara.
Uma viagem espera os preparativos. Tem-se
que atravessar o nevoeiro, do qual o branco
é tão branco quanto o luto chinês. Sem citações,
por favor. Assunto encerrado. Os campos de cevada
vazios, e lê-se que complicadas são as cidades.
Was zu erreichen ist
german | Jürgen Becker
Die nächste Stunde. Als würde man warten. Aber
die Beschäftigungen gehen weiter, von den Altlasten wollen wir
gar nicht erst reden.
Hell genug ist es draußen. Es bedarf keiner
Aufforderung kein Motiv für den Leitartikel; ich sag dir
alles früh genug.
Es ist wirklich ganz einfach. Mit dem Rücken zur Wand,
zum Fenster, zum Bildschirm, zur Tür. Nichts mitbringen,
der Tisch bleibt jetzt leer.
from: Journal der Wiederholungen. Gedichte
Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1999
ISBN: 351841026-1
Audio production: 2000 M. Mechner, literaturWERKstatt berlin
O que há por ser alcançado
portuguese
A hora seguinte. Como se alguém fosse esperar. Mas
as obrigações não param, sobre os dejetos não queremos
nem falar.
Lá fora está claro bastante. Não se exigem
requisições nenhum assunto para o editorial; eu direi tudo
com bastante antecedência.
É realmente muito simples. De costas para a parede,
para a janela, para a tela, para a porta. Não traga nada,
a mesa agora ficará vazia.
MEILERRAUCH
german | Manfred Peter Hein
Hier wo nichts als dies hier
ins Bild kommt
sitz nieder
am Meiler beim dritten
Glas Tee frag
den Köhler
Nach Lamponia mit Augen
zeichnet der Berg
Versfuß und Pfad
Vers
auf die Trümmer
der Stadt die reden
und reden im
Licht der
Pappel
Meiler
Glut und Rauch laß
Rauch und Asche uns sein
from: Über die dunkle Fläche. Gedichte 1986 - 1993
Zürich: Ammann Verlag, 1994
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin
FUMO DA CARVOARIA
portuguese
Aqui onde nada além disso aqui
adentra a imagem
sente-se
à carvoaria com a terceira
xícara de chá pergunte
ao carvoeiro
sobre Lamponia com os olhos
a montanha desenha
métrica e vereda
verso
sobre as ruínas
da cidade que falam
e falam à
luz do
choupo
brasa e fumo
da carvoaria deixa-nos
ser fumo e cinzas
green
german | Sabine Scho
jemand will, dass ich gras
sage und eine decke aus-
breite, gutes gras, die reine
üppigkeit der wiederkäuer
es ist nichts, gebe ich bereit-
willig zu verstehen, nichts als
wind in den weiden, marstaug-
lichkeit, ein blaumann aus der
schnellreinigung, vorzugsweise
photosynthese, stromatolithen-
felder, temperaturstürze in wüster
blüte, verkrustete aussicht, kosten-
lose lasergravur, nichts und kein
bisschen niederschlag
from: farben. Gedichte
Idstein: kookbooks, 2008
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin
green
portuguese
alguém quer que eu diga
erva e uma toalha es-
tenda, erva da boa, a pura
opulência dos ruminantes
não é nada, dou voluntaria-
mente a entender, nada mais que
vento nos salgueiros, aptidão
para Marte, macacão azul
lavado a seco, de preferência
fotossíntese, campos de
estromatólitos, quedas de
temperatura em florescência
bravia, paisagem incrustada
gravura grátis a laser, nem nada
de nada de precipitações
VERSschmuggel de Poesiefestival Berlin 2008
chartreuse
german | Sabine Scho
glaub das doch bitte nicht
was man sagt, was man sieht
die abgewedelten deprivationen
der aufgehellte fleck, und frag
nicht nach fahnen, am malen
ist doch was dran, man kann
auch taschenschirme klonen
und behaupten sie seien geklaut
bis davon was sichtbar wird
bleibt regen regen, »es läuft
es rollt die leere fassade«
hat es je jemanden interessiert
was man dahinter wie destilliert
from: farben. Gedichte
Idstein: kookbooks, 2008
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin
chartreuse
portuguese
não acredite, por favor
no que se diz, no que se vê
as privações subexpostas
a mancha clareada, e não peça
por correções, a pintura
tem sim seu valor, pode-se clonar
miniguarda-chuvas também
e alegar que são roubados
até que se torne visível
chuva continua chuva, “corre
rola, a fachada vazia”
será que jamais interessou a alguém
o que se destila atrás e como?
VERSschmuggel de Poesiefestival Berlin 2008
Autobahnring
german | Jürgen Becker
Hochblickend, die Kette der Kraniche,
sie wechselt gerade die Keilspitze aus,
die Flugrichtung bleibt, die Geschwindigkeit
ändert sich nicht, einige schreien, dann
schreien andere, die Kette entfernt sich zwischen
den Städten, die still sind in der Luft.
from: Journal der Wiederholungen. Gedichte
Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag , 1999
ISBN: 351841026-1
Audio production: 2000 M. Mechner, literaturWERKstatt berlin
Anel Viário
portuguese
Ergo os olhos, a formação de grous
troca a base do seu V, a direção
do voo segue a mesma, a velocidade
não muda, alguns gritam, então gritam
outros, a formação distancia-se entre
as cidades que estão em silêncio no ar.
atomic tangerine
german | Sabine Scho
eine tür, was für ein gebrauch
ein schloß, scharnier, kragen-
stäbchen, damit misst man
stahlzargen aus, beton, akten
und, ja, akten. »so machen wir
das licht aus«, auf stapeln von
papier, aber grauen ist doch auch
eine farbe, betont sachlich mit dem
besenstiel, beinahe wie zuhaus, nur
höher, der dritte teil des karma-
spiels fiel aus, no alarms and
no surprises, ein korridor, was
für ein schlauch, pizza aus der
plätzchendose, und da draußen
wird es immer weißer, an weih-
nachten, heißt es, sei das so brauch
glitzerzäune, ein letztes umschlussbier
but, please, couldn’t you let me out of here
from: farben. Gedichte
Idstein: kookbooks, 2008
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin
atomic tangerine
portuguese
uma porta, mas que função
um cadeado, dobradiça, esticador
de colarinho, com isso se mede
um caixilho de aço, concreto, atas
e, sim, atas. “assim é que
apagamos a luz”, sobre pilhas de
papel, mas cinerário também
é uma cor, enfatiza bem concreto
com a vassoura, quase em casa, só
que mais alto, excluiu-se o terceiro
ato duma peça de carma, no alarms and
no surprises, um corredor, mas
que distensão, pizza na lata
de biscoito, e lá fora
cada vez mais branco, na noite
de Natal, diz-se, costuma ser assim
grades brilhantes, última cerveja
entre detentos, but, please, couldn't you
let me out of here
VERSschmuggel de Poesiefestival Berlin 2008