(EXCURSÃO PELO RIO CONGO EXCURSÃO PELA MEMÓRIA)

Nesta hora do pôr-do-sol
sobre o barco e águas
corredoras
algas caladas
aves acocoradas,

eu sei simplesmente
que sou um dos convivas
a bordo da alegria de Maio de 1987
pelos mistérios do rio Congo.

na memória desenha-se minha gente:
crianças guardando a fome, a sede, o luto,
por detrás do amargo sorriso.

a bordo desta efémera alegria
sei apenas que sou um dos convivas
de entre os que trazem na lembrança
seus sonhos, suas bandeiras
suas chagas abertas ao tempo.

agora que importa falar do vento,
das águas, do sol, dos pássaros?
ignoro a natureza das coisas.


falo apenas desta dor que me acompanha,
do sangue que me nasce do Índico
e desagua no meu coração.

o barco e as águas correm...
segredo é a mensagem
que elas me anunciam.
meu rosto denuncia certa impaciência
e meus olhos trémulos nada ocultam
e nada dizem, apenas calam

(agora que é noite
há menos dureza na lembrança
somente alguns versos
e alguns rostos que contemplei.)

© Armando Artur
From: O Hábito das Manhãs
Maputo: Associação dos Escritores Moçambicanos, 1990
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin

Ex Voto

Schreib, was dir keiner glauben wird,
schreib, als wäre nichts passiert, schreib
über Geister, an deren Existenz
du auch nicht geglaubt hättest, doch.

Schreib, was dir niemand verzeihen wird.
Nein, nicht dort unten, auf das Blatt schreib
dass du dir selbst deine Heimat bist
und dass rein ist dein Herz.

Schreib, wofür man dich auslachen wird.
Warte nicht auf Begeisterung, schreib hemmungslos
über die alltägliche ungerechte Niedertracht
und über deinen kreuzverwerflichen Glauben.

Was noch? Schreib auch über die Liebe
und sag, dass du das Geheimnis erfuhrst –
dass Gedichte vor der Liebe geschrieben
und nach der Liebe gelesen werden.

Aus dem Georgischen übersetzt von Tengis Chatschapuridse