Matilde Campilho

portugiesisch

Niki Graça

deutsch

M

Porque tinha sal em minhas pestanas, porque existe um salmão dourado onde o amor sempre dança, porque a ideia de ir até o mar de metrô era a oração que nos fazia ficar acordados até de manhã, porque há um osso se estilhaçando constantemente dentro das paredes mestras e nós já sabíamos isso, porque a paixão não é de todo a coisa mais importante mas é sim o canudinho através do qual dá para ver que o mundo é muito feito de construções de papel - celulose que vem da árvore e que depois se transforma em lista telefônica de onde alguém arranca a página e logo transforma em veleiros e montanhas. Talvez porque na porta do restaurante habitual alguém toca clarinete ao sol, porque até as ruínas podemos amar nesta cidade, porque eu tenho um olho em você e você tem um dedo em mim, porque para chegar no telhado do aqueduto é preciso percorrer a estreita escadaria de pedra e é impossível não esfregar as costas nas paredes húmidas. Porque atingir o ponto de rebuçado significa simplesmente abandonar todas as coisas e dedicar-se só à concentração, mesmo que todasascoisas sejam um olho preto e um olho castanho e sua dissociação seja a possível causa para a avalanche. Porque a palavra Bushboy não existia até aqui mas agora sim, porque fazer equilibrismo sobre a corda amarela dentro do apartamento é tudo o que já imaginávamos que ia ser, mesmo antes de acontecer. Porque no interior do pulmão do cervo tem a carne que brilha, brilha tanto como o sol que se espelha na ponta da seta. Porque acreditamos, você e eu, que a razão final é que a erva cresça muito acima de nossas cabeças.

© 2014, Matilde Campilho e Edições tinta-da-china
Aus: Jóquei
Lisboa: Tinta-da-china, 2014
Audioproduktion: Literaturwerkstatt Berlin, 2015

M

Weil Salz in meinen Wimpern hing, weil es einen goldfarbenen Lachs gibt, bei dem die Liebe immer tanzt, weil die Vorstellung, mit der U-Bahn zum Meer zu fahren, das Gebet war, das uns bis zum Morgen wach hielt, weil da ein Knochen in den Hauptmauern sitzt, der unaufhörlich am Splittern ist und wir wussten das schon, denn die Leidenschaft ist überhaupt nicht das wichtigste sondern nur der kleine Strohhalm, der uns klar macht, dass die Welt vor allem aus Papier gebaut ist – Zellulose, die vom Baum kommt und sich danach in ein Telefonbuch verwandelt, aus dem jemand eine Seite heraus reißt, um sie zu Segelschiffchen und Bergen zu formen. Vielleicht, weil am Eingang des Stammrestaurants jemand in der Sonne Klarinette spielt, weil wir in dieser Stadt sogar die Ruinen lieben können, weil ich ein Auge auf dich habe und du einen Finger in mir, weil man, um zum Dach des Aquädukts zu gelangen, die enge Steintreppe hinaufsteigen muss und sich dabei zwangsläufig an den feuchten Wänden den Rücken scheuert. Denn auf den Gipfel zu gelangen bedeutet einfach, alle Dinge aufzugeben und ganz in Konzentration zu versinken, auch wenn alle Dinge ein schwarzes und ein braunes Auge sind und ihre Trennung vielleicht die Ursache für die Lawine ist. Weil es das Wort Bushboy bisher nicht gab, jetzt aber wohl, weil in der Wohnung über ein gelbes Seil zu balancieren genau so ist, wie wir es uns vorstellten, bevor wir es taten. Weil es in der Lunge des Hirsches Fleisch gibt, das strahlt, so wie die Sonne strahlt, die sich auf der Pfeilspitze spiegelt. Weil wir – du und ich –  glauben: Am Ende wird das Gras hoch über unseren Köpfen wachsen.

Übersetzung von Niki Graça