Catherine Dumas 
Übersetzer:in

auf Lyrikline: 2 Gedichte übersetzt

aus: portugiesisch nach: französisch

Original

Übersetzung

[Não há lugares, nunca houve, nem mesmo antigos]

portugiesisch | Rui Cóias

Não há lugares, nunca houve, nem mesmo antigos.
Há o que olhamos neles, a sua marca de pó de tijolo que os faz sumir.
Só assim conseguimos chegar. Só brandamente, para lembrarmos. 
Não para tocar as colunas liláses ou fazer a travessia no veleiro das tangerinas.
Só vagamente andamos. Não caminhamos, debaixo do sol.
Os pés dos nómadas não enegrecem com as areias e as águas de pequenos portos.
São os ulmeiros que nos protegem e não os seus terraços. A marca de pó fere-nos numa gota desmaiada, podemos entretê-la mesmo entre os dedos que não petrifica. Nada mudou desde o primeiro queixume: — foi com os olhos que partimos na linha do Mediterrâneo e são as oliveiras o seu diurno limite. 

© Rui Cóias
aus: A Ordem do Mundo
Edições Quasi, 2006
Audio production: Gravado nos Estúdios da Bica em Abril de 2017. Produção Alexandre Cortez. / Recorded at Estúdios da Bica, April 2017. Produced by Alexandre Cortez.

[Il n’est point de lieux, il n’en fut jamais, même les plus antiques]

französisch

Il n’est point de lieux, il n’en fut jamais, même les plus antiques.
Il y a ce que nous y voyons, la marque de poussière de la brique qui les fait disparaître. Juste ainsi nous pouvons arriver. Juste doucement, pour nous rappeler. Pas pour toucher les colonnes lilas ni faire la traversée sur le voilier des mandarines. Juste vaguement nous marchons; nous ne cheminons pas, sous le soleil.
Les pieds des nomades ne noircissent pas avec le sable et les eaux de petits ports.
Ces sont les ormes qui nous protègent et pas leurs terrasses. La marque de poussière nous blesse dans une goutte évanouie, nous pouvons l’entretenir comme ça entre nos doigts, elle ne pétrifie pas. Rien n’a changé depuis la première plainte: — c’est avec nos yeux que nous partîmes sur la ligne de la méditerranée et les oliviers sont leur limite diurne.

Traduit par Catherine Dumas

Canção de Brzezinka

portugiesisch | Rui Cóias

Leite negro da madrugada bebemo-lo ao entardecer
bebemo-lo ao meio dia e pela manhã bebemo-lo de noite
bebemos e bebemos  
Paul Celan


Onde vieres também tu a sussurrar nas valas, nem que faminta esteja a tua voz e se teus olhos os vir de madrugada, perdidos pelos campos, em sítios que estremecem, eu regresso, «eu  até nas ondas do meio-dia, na linha calma das cerejas,  se te vejo, Margarete, eu «escureço, e escureço  como o cabelo com o tom escuro dos violinos me escurece,  como escurece o vento nos bosques frios  em que morremos, escurecem as alamedas, escurece o leite negro que bebemos e bebemos.

Onde vieres também tu pelo adorno sublime do infortúnio, nem que franzido seja o teu sangue se teus lábios os vir ao entardecer, à hora mágica, lendo os poemas da Galícia, eu regresso, «eu até nos combóios que cavam um túmulo pelos ares,  se te vejo, Sulamith, eu «escureço, e escureço como o entardecer nas horas mais pequenas me escurece,  como escurecem as rugas pelos rostos que ardem sombriamente, escurecem os poemas, escurece o leite negro que bebemos e bebemos.

© Rui Cóias
aus: Europa
Edições Tinta da China, 2016
Audio production: Gravado nos Estúdios da Bica em Abril de 2017. Produção Alexandre Cortez. / Recorded at Estúdios da Bica, April 2017. Produced by Alexandre Cortez.

Chanson de Brzezinka

französisch

Lait noir du petit jour nous le buvons le soir
nous le buvons midi et matin nous le buvons la nuit
nous buvons et buvons  
Paul Celan


Où que tu viennes toi aussi murmurant  dans les fosses, tout affamée soit ta voix et si tes yeux je les vois à l’aube,  perdus dans les champs, en des lieux qui tressaillent, moi je reviens, «moi jusque dans les vagues de midi, sur la ligne calme des cerisiers,  si je te vois, Margarete, moi «j’obscurcis, et obscurcis comme les cheveux avec le ton sombre des violons m’obscurcissent,  comme obscurcit le vent dans les bois froids  où nous mourons, obscurcissent les allées obscurcit le lait noir que nous buvons et buvons.

Où que tu viennes toi aussi par l’ornement sublime  de l’infortune, tout plissé soit ton sang et si tes lèvres je les vois le soir, à l’heure magique, en lisant les poèmes de Galice, moi je reviens, «moi jusque dans les trains qui creusent une tombe dans les airs,  si je te vois, Sulamith, moi «j’obscurcis, et obscurcis comme le soir aux heures les plus petites m’obscurcit, comme obscurcissent les rides sur les visages qui brûlent sombrement, obscurcissent les poèmes obscurcit le lait noir que nous buvons et buvons.

Traduit par Catherine Dumas