Tony Tcheka
Zé da Tugalândia
Zé da Tugalândia
chamavam-lhe Zé
Zé sapateiro
Zé tuga
por vezes sô Zé
homem da Tugalândia
nhu Zé de bissau-velho
homi grandi
Ih!!!
Garandi nan!!!
ninguém se lembra quando chegou
diz-se que veio num navio-motor
sobre ondas adamansadas
vinha só
maleta de cartão na mão
duas, ou três palavras
eram o seu discurso
uma era certamente “senhor”
senhor sem cor
sem temor
e sem idade
um gesto feito tique
- um leve inclinar da cabeça
dispensava palavras vãs
dimensionava a grandeza
de homem de trabalho
bissau velho acordava
chamado pelo seu toc-toc
calcando pregos
cozendo rijos nós
fechando jambutas famintas
para basófias caminhadas na praça
ou bailes suarentos de fins de semana
nos novos tempos
com as naus fazendo
o caminho do regresso
levando-lhe mulher, filhos, netos
e clientes
e amigos
nem um queixume
nem um murmúrio
se ouviu
nem mesmo quando a doença
a ele se encostou
assim era
sô Zé
conheceu sargentos e comandantes
ingratos e devedores
administradores, impostores
nunca recebeu governadores
nem medalhas, nem diplomas
tinha dois amores
guiné
paixão sentida
cozida com nós fortes
a dez dedos
e
Tugalândia
eternamente a sua metrópole
madrasta
sô Ze de Bissau-velho
homi grandi
garandi nan!
Bissau