Miguel Manso
Surde no silêncio uma solidão anecóica
Surde no silêncio uma solidão anecóica
Surde no silêncio uma solidão anecóica. Pode ouvir-se o sangue bater nas paredes das artérias, o assobio nas esquinas nasais, o sacudir da folhagem respiratória. De pé, olhos cerrados, parados mas alargando sempre na quadrícula cósmica, atravessa-nos por dentro um pássaro pequeno, como fagulha, raio, incisão, ideia imprecisa ou disparo. No avesso das pálpebras, também alojado na cóclea do ouvido, uma salva de fosfenos e acufenos floreja nesses internos. Quando por fora, gregários, olhiagudos, o que nos separa uns dos outros é sempre um pequeno muro entre quintais. Intransponível.