Ana Paula Tavares
Os novos cadernos de Fabro
Os novos cadernos de Fabro
I
Não demore. A palavra de brilho está à espera. Por si
encontro novos caminhos e antigas fontes de beber
sedes e sorrisos. De tinta não há notícias mas sinais
velhos sinais perdidos nas dunas e na areia.
Sou o deserto
sem as palavras.
II
Vou pelos passos das crianças gritar num sul mais
novo. Se demorar espere por mim.
Aqui as crianças estão escondidas e espreitam
o dia
com seus pezinhos de lã.
Amanhã preparo o corpo
De perfume e água fria
e vou
rumo ao sul no rasto delas.
Talvez entretanto no pátio dos olhos tenha
Nascido a buganvília.
III
Aqui algumas árvores cobriram-se de flores
para
impedir o choro e o canto das raízes.
O jacarandá invadiu devagarinho
as esquinas da cidade.
Ninguém
deu conta
mas uma luz azul tomou conta de tudo
durante uns tempos.
Doença assim é p’ra fazer gritar de
prazer.
IV
Aqui a música pode ouvir-se na mão
curvada
búzio
sobre
o ouvido. O que sobra são os sinos às
seis da tarde.
Quando se colhe a roupa fica de linho
o mar.
V
Aqui as pedras já não são pedras. O
sopro de vida que as
habita é um resto da fala antiga
de que são feitos
os versos. Fios de pólen
e líquenes
recriam
antigas danças de floresta. O mar
deixa o cheiro pelas mãos.