Rosa Oliveira
botânica caseira
botânica caseira
foi no ano de magnólia, o filme
foi nesse longínquo ano em que ficámos encandeados a ver
a julianne moore a entrar e sair de farmácias para comprar morfina
e o tom cruise mais baixo que nunca num palco de onde cuspia labaredas
nesse ano distante ficámos confusos com as histórias cruzadas
ouvimos aquela música carregada de droga metálica
e regressou do nada uma jóia kitsch dos anos 70
os supertramp vinham como aliens
numa cena sentimento-pirosa
como lhes convinha
foi nesse ano nebulosa distante
no verão uma vaga de calor como não havia há 60 anos
(é o que dizem sempre)
os termómetros mantinham-se em incêndio permanente
eu emagrecera para engordar e voltar a emagrecer
tudo isto sem pensar muito
tudo isto mecanicamente
apenas para me manter a boiar à superfície da vida
a personagem mais só repetia comigo
«há um milhão de anos eu costumava ser inteligente»
oscar wilde cantava em reading
it’s not going to stop
‘til you wise up
as pessoas trabalhavam urinavam e voltavam a trabalhar
os dias seguiam em frente agarrados à flecha disparada
a magnolia grandiflora era um travesti da magnolia macrophyla
hoje vemos só bocas contorcidas
e acenamos à lombriga do tempo
arrastando-se penosamente
até ao take final
so just give up