Luís Filipe Castro Mendes
A Bela Adormecida
A Bela Adormecida
Alguém dorme, respira,
Com o frio da mente a debruar-lhe o corpo
E os cegos desejos de si arredados.
Alguém a quem eu não diria palavras
que não fossem tardias e ausentes
como as da poesia.
Alguém que, como tu, me vai esquecer.
Alguém respira, o corpo contra a treva,
as palavras do esquecimento como faúlhas acesas
no coração da morte.
Dorme, silencia
- e quem irá depositar mais palavras
sobre as nossas cinzas?
Inventasse eu a noite, que ainda assim me esquecerias!
Desse-te eu todas as palavras que sobram do fim do mundo,
a ternura estremecida, a música mais leve –
- nada poderemos fazer. Deita-te ao meu lado.
O filme parou. As bobines giram no vazio
e só a luz fria arde sobre a tela. Amor que a nenhum amado
amor perdoa. A nenhum amado.
Esta mesma noite tu me irás esquecer.