Inês Pedrosa 
Translator

on Lyrikline: 6 poems translated

from: الانجليزية, الأسبانية, الفرنسية to: البرتغالية

Original

Translation

[Kissing the stomach]

الانجليزية | Michael Ondaatje

Kissing the stomach
kissing your scarred
skin boat. History
is what you've travelled on
and take with you

We've each had our stomachs
kissed by strangers
to the other

and as for me
I bless everyone
who kissed you here

© Michael Ondaatje
Published with permission of the author
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin 2010

[Beijando o estômago]

البرتغالية

Beijando o estômago
beijando o teu cicactrizado
barco de pele. A História
é aquilo em que viajaste
e trazes contigo.

Tivemos os nossos estômagos
beijados por estranhos
ao outro

e por mim
abençoo cada um
dos que te beijou aqui.

Tradução de Inês Pedrosa

[De acuerdo …]

الأسبانية | Ana María Rodas

De acuerdo
soy arrebatada  celosa
voluble
y llena de lujuria

¿Qué esperaban?

¿Que tuviera ojos
glándulas
cerebro  treinta y tres años
y que actuara
como el ciprés de un cementerio?

© A.M.R.
from: Poemas de la Izquierda Erótica.
Guatemala: Testimonio del Absurdo Diario, 1973
Audio production: 2005, M.Mechner / Literaturwerkstatt Berlin

[De acordo… ]

البرتغالية

De acordo
sou arrebatada ciumenta
volúvel
e cheia de luxúria

Que esperavam?

Que tivesse olhos
glândulas
cérebro trinta e três anos
e que agisse
como o cipreste de um cemitério?

Tradução de Inês Pedrosa

The Cinnamon Peeler

الانجليزية | Michael Ondaatje

If I were a cinnamon peeler
I would ride your bed
and leave the yellow bark dust
on your pillow.

Your breasts and shoulders would reek
you could never walk through markets
without the profession of my fingers
floating over you. The blind would
stumble certain of whom they approached
though you might bathe
under rain gutters, monsoon.

Here on the upper thigh
at this smooth pasture
neighbour to your hair
or the crease
that cuts your back. This ankle.
You will be known among strangers
as the cinnamon peeler's wife.

I could hardly glance at you
before marriage
never touch you
- your keen nosed mother, your rough brothers.
I buried my hands
in saffron, disguised them
over smoking tar,
helped the honey gatherers . . .

When we swam once
I touched you in water
and our bodies remained free,
you could hold me and be blind of smell.
You climbed the bank and said

                    this is how you touch other women
the grass cutter's wife, the lime burner's daughter.
And you searched your arms
for the missing perfume

                                      and knew

                  what good is it
to be the lime burner's daughter
left with no trace
as if not spoken to in the act of love
as if wounded without the pleasure of a scar.

You touched
your belly to my hands
in the dry air and said
I am the cinnamon
peeler's wife. Smell me.

© Michael Ondaatje
Published with permission of the author
from: The Cinnamon Peeler: Selected Poems
New York: Knopf, 1991
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin 2010

O descascador de Canela

البرتغالية

Se eu fosse um descascador de canela
cavalgaria a tua cama
e deixaria o pó da casca amarela   
na tua almofada.

Os teus seios e os teus ombros cheirariam a canela
nunca mais poderias atravessar os mercados  
sem a profissão dos meus dedos
flutuando sobre ti. Os cegos
tropeçariam à tua aproximação
por mais que te banhasses
nas caleiras da chuva, na monção.

Aqui no cimo da coxa
neste pasto macio
vizinho do teu cabelo
ou do sulco
que te divide as costas. Este tornozelo.
Serás conhecida entre os estranhos
como a mulher do descascador de canela.


Eu quase não olharia para ti
antes do casamento
nunca te tocaria
- a tua arguta mãe,os teus toscos irmãos.
Enterrei as minhas mãos
em açafrão, disfarcei-as
com alcatrão de tabaco,
Ajudei os apicultores a colher o mel…

Uma vez quando nadávamos
toquei-te na água
e os nossos corpos permaneceram livres,
tu podias abraçar-me e continuar cega ao cheiro.
Saltaste para a margem e disseste


           é assim que tocas as outras mulheres
a mulher do cortador de relva, a filha do queimador de limões.
E procuraste nos teus braços
o perfume em falta

                         e percebeste

           como é bom
ser a filha do queimador de limões
sem qualquer vestígio
como se não te falassem durante acto do amor
como se ferida sem o prazer de uma cicatriz.


Tocaste
o teu ventre com as minhas mãos
no ar seco e disseste
sou a mulher do descascador
de canela. Cheira-me.

Tradução de Inês Pedrosa

SOBRE LA ESPERA

الأسبانية | María Eloy-García

en la fila el último espera que alguien entre y pregunte
quién es el último para dejar de serlo
el primero tiene la ventaja de mirar hacia atrás
el segundo es siempre el que recoge la espera que deja
el primero que se va
la cadena de la espera nunca acaba
en nada que existes dejas de ser el último
y en nada que lo piensas eres terriblemente el primero


© María Eloy-García
from: Cuánto dura cuánto
Almería: ed. El Gaviero, 2007
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2010

Sobre a espera

البرتغالية

na fila o último espera que alguém entre e pergunte
            quem é o último para deixar de o ser
      o primeiro tem a vantagem de olhar para trás
o segundo é sempre o que recolhe a espera que deixa
                      o primeiro que se vai
         a cadeia da espera nunca acaba
         em nada que existes deixas de ser o último
e em nada que pensas és terrivelmente o primeiro.

Tradução de Inês Pedrosa

Jalousie

الفرنسية | Guy Goffette

Il lui arrive de plus en plus souvent la nuit
de descendre dans la cuisine
où fument en silence sous la lune
les statues que le jour relègue parmi les meubles
les habits, sous l’amas des choses
rapportées du dehors et vouées à l’oubli.
Il n’allume pas mais s’assied dans sa lumière
comme un habitué au milieu des filles
et leur parle d’une voix triste et douce
de sa femme qui se donne là-haut, dans sa propre chambre
à de grands cavaliers invisibles et muets
— Et c’est moi qui garde leur chevaux, dit-il
en montrant l’épais crin d’or enroulé
à son annulaire.

© Guy Goffette
from: Éloge pour une cuisine de province
Seyssel : Champ Vallon, 1988
Audio production: 2002, M.Mechner / Literaturwerkstatt Berlin

Ciúme

البرتغالية

Acontece-lhe cada vez mais, à noite
descer até à cozinha
onde fumam em silêncio sob a lua
as estátuas que o dia relega para trás dos móveis,
das roupas, sob a pilha das coisas
trazidas de fora e votadas ao esquecimento.
Não acende a luz mas senta-se na sua luz
como um cliente habitual entre as raparigas
e fala-lhes com uma voz triste e doce
da sua mulher que se oferece lá em cima, no seu próprio quarto,
a grandes cavaleiros invisíveis e mudos
- E sou eu quem guarda os seus cavalos, diz ele,
mostrando a espessa crina de ouro enrolada
no seu anelar.

Tradução de Inês Pedrosa

el miedo en el sofá

الأسبانية | Gabriela Puente

el miedo está sentado en el sofá,
un hombre que no invitaste llama a la puerta.

el miedo es el hombre sentado en el sofá,
el hombre es el miedo sentado en el sofá

el hombre se sienta en el sofá
y el miedo llama a mi puerta.

© Gabriela Puente

o medo no sofá

البرتغالية

o medo está sentado no sofá,
um homem que não convidaste toca à porta.

o medo é o homem sentado no sofá,
o homem é o medo sentado no sofá

o homem senta-se no sofá
e o medo toca à minha porta.

Tradução de Inês Pedrosa