Ricardo Domeneck 
Translator

on Lyrikline: 29 poems translated

from: البرتغالية, الألمانية, الهولندية, الأيسلاندية to: الانجليزية, البرتغالية

Original

Translation

Linear

البرتغالية | Ricardo Domeneck

De boca em boca
o mundo mostra
os dentes e a garganta
infecciona-se em resposta.
Atento ao ambiente como
o ambiente ignora a
minha vontade.
Mesmo equivalências
geram colisões e o eixo
do sal denuncia
o doce na boca.
“.”
O herói contra
a corrente, o herói
à vela.
Não há apoteose
suficiente para todos,
a chuva muitas vezes
cai antes
da hora,
quer-se os créditos
e eles não sobem.
Beethoven
ludibriou-nos.
É claro que em Who´s
Afraid of Virginia Woolf?

Richard Burton, não,
George, recorre ao
útero vazio
de Elizabeth Taylor,
não,
Martha, para a
ofensa última.
A escala da
nutrição não
recomeça a cada
meia-noite, segue
a continuidade
do esôfago, do
termômetro, da
maré, da
infecção, da
ascensão e queda
dos efeitos
da cocaína, da cafeína.
Filiação da fome e
as ilusões da higiene.

© Cosac Naify
from: Sons: Arranjo: Garganta
São Paulo: Cosac Naify, 2009
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin 2008

Linear

الانجليزية

Mouth to mouth

the world shows

its teeth and the throat

responds with infections.

Attentive to the world

as the world ignores

my will.

Even equivalence

produces collision and the axis

of salt unmasks

the sugar in a mouth.

"."

The hero against

the stream, the sailing

hero.

Not enough apotheosis

for all, rain

falls often

before schedule,

we expect the credits

and they do not roll upwards.

Beethoven

had us fooled.

Of course in Who´s

afraid of Virginia Woolf?

Richard Burton, no,

George, resorts

to the empty womb

of Elizabeth Taylor,

no,

Martha, for the

final assault.

The scale of

nutrition does not

restart every

midnight, follows

the flow

of the esophagus, of

the thermometer, of

the tides, of

scars and its wounds, of

the rise and fall

of the effects

of cocaine, of caffeine.

The heredity of hunger

and the illusions of hygiene.

Translated by the author

Tage

الألمانية | Max Sessner

Wo sind die Tage hin gibt es sie noch
irgendwo den Hochzeitstag all die
Geburtstage einen Friedhof für Tage
kann es nicht geben und wer sollte
dort auch die Gräber pflegen niemand

könnte je damit fertig werden Blumen
auf ein jedes zu pflanzen aber ich
habe gehört dass sie als kleine Häuser
in einer Vorstadt stehen dicht aneinander
die Straßen schlecht beleuchtet wie in

einem alten amerikanischen Film jemand
den der Zufall dorthin verschlug erzählte
die Türen waren nur angelehnt und
alle Häuser sahen gleich aus von außen
sodass man leicht die Orientierung

verlor auch gab es keine Geschäfte
nichts wo man ein bisschen plaudern
konnte so fuhr er mit Schrittgeschwindigkeit
immer weiter ließ das Radio laufen bis
ihm das Benzin allmählich knapp wurde

er hätte gern seinen zehnten Geburtstag
noch einmal erlebt von allen Tagen
konnte er sich an diesen am besten
erinnern aber wo sollte er suchen also
drehte er um dachte an diesen Tag vor

fünfundvierzig Jahren an seine Mutter
die dort  womöglich immer noch stand
und bis in alle Ewigkeit den einen Satz
immer und immer wiederholen musste
Jetzt blas doch endlich die Kerzen aus

© Max Sessner
from: Langsame Männer
Wenzendorf: Stadtlichter Presse, 2015
Audio production: Haus für Poesie / 2017

DIAS

البرتغالية

Aonde foram os dias existem ainda

em algum lugar o dia do casamento

todos os aniversários um cemitério

para os dias não há como haver quem

cuidaria dos túmulos ninguém


conseguiria terminar de plantar flores

em cada um deles mas eu ouvi dizer

que eles existem como casas pequenas

numa cidade satélite apertadas umas

às outras as ruas mal iluminadas como


num velho filme americano alguém

que acabou lá por acaso relatou que 

as portas ficam só encostadas e todas

as casas pareciam iguais por fora

então se perdia muito fácil a orientação


também não havia qualquer comércio

lugar nenhum onde se pudesse fofocar 

um pouco então ele dirigiu à velocidade

de um passo sempre adiante a rádio

ligada até que a gasolina foi acabando


ele teria adorado reviver seu décimo

aniversário de todos os dias vividos

era deste que ele mais se lembrava

mas onde deveria procurar ele se 

virou e pensou outra vez neste dia


quarenta e cinco anos atrás na sua

mãe que provavelmente ainda estava

lá parada por toda a eternidade forçada

a repetir aquela mesma frase para todo 

o sempre mas sopre logo estas velas

Tradução de Ricardo Domeneck

Der Goldzahn

الألمانية | Max Sessner

Wissen Sie das Glück ist ein
Idiot es weiß nie so recht
wohin es sich setzen soll sitzt
es endlich steht es oft gleich
wieder auf läuft durch die
Straßen als nicht mehr ganz

junger Mann in fadenscheiniger
Kleidung vorstellen kann man
sich dass er in Hauseingängen
schläft aber es gibt diesen
magischen Moment dieses
Aufblitzen eines Goldzahns

im Abendlicht wenn er sich
doch einmal niederlässt und
jemanden am Ärmel zupft
vielleicht ja doch kein Idiot nur
einer der zu schüchtern ist um
laut in die Hände zu klatschen

© Max Sessner
Audio production: Haus für Poesie / 2017

O dente de ouro

البرتغالية

Você sabia que a felicidade 

é uma idiota ela nunca sabe 

direito onde ela deveria se 

sentar quando se senta quase 

sempre logo se levanta anda 

pelas ruas qual homem já não


tão jovem vestido em trapos 

e farrapos pode-se imaginar 

que ele durma diante das 

entradas de prédios mas há 

este momento mágico este 

lampejo de um dente de ouro


na luz noturna dos postes

quando ele finalmente para

e puxa alguém pela manga

da camisa talvez idiota

nenhuma só alguém tímido

demais para bater palmas

Tradução de Ricardo Domeneck

Halbfertige Zeichnung

الألمانية | Max Sessner

Sterben niemals aber eins werden
mit dem Bezug des Sofas bietet
eine Möglichkeit des sanften
Verschwindens mit einem Lächeln
und die Hände in den Taschen bin
ich kaum mehr sichtbar nur die

mich lieben erkennen noch meine
Züge im Muster des Stoffes Abende
gibt es da sieht man mich etwas
deutlicher ob es am Wetter liegt ich
weiß es nicht dann sitzt du neben
mir die Hand auf meinem Knie und

kaum lesbar erscheint auf deinem
Handrücken eine winzige Schrift
du bewegst stumm deine Lippen
als du zu lesen versuchst dein Herz
klopft stark es klopft außerhalb von
dir irgendwo in diesem Zimmer

© Max Sessner
from: Langsame Männer
Wenzendorf: Stadtlichter Presse, 2015
Audio production: Haus für Poesie / 2017

DESENHO INACABADO

البرتغالية

Morrer nunca mas tornar-se 

um com o forro do sofá 

oferece a possibilidade do 

sumiço macio com sorriso

e as mãos nos bolsos eu mal

permaneço visível só aqueles


que me amam ainda reconhecem

meus traços na estampa do tecido

há noites em que se me distingue

mais se depende do clima eu não 

sei então você se senta ao meu 

lado as mãos no meus joelhos e


quase ilegível aparece nas costas

das suas mãos um escrito minúsculo

você move em silêncio seus lábios

como se tentasse ler seu coração

bate com força ele bate fora de 

você em algum lugar deste cômodo

Tradução de Ricardo Domeneck

Schiffe

الألمانية | Max Sessner

Spät ist es in den Wörtern wo
ganze Mannschaften träumen
wo man Lieder singt kurz
vorm Morgengrauen sprich
sie ruhig aus sie treiben die
Straße hinunter Schiffe die
Segel gebläht und am Mast

flattert der Totenkopf mit den
gekreuzten Säbeln sprich
sie ruhig aus oder aber sei
einfach still dann tümpeln
die Schiffe im Hafen laufen
nicht aus Steuermänner
spucken ins Wasser und die
 
Leere im Frachtraum ist nicht
zu ertragen es liegt an dir
ob du hinabsteigst barfüßig
über die Planken läufst hin
und her immer wieder bis
du das Meer fühlst dunkel
und tief unter deinen Füßen

© Max Sessner
Audio production: Haus für Poesie / 2017

BARCOS

البرتغالية

É tarde nas palavras onde 

tripulações inteiras sonham

onde você canta canções

logo antes do amanhecer

as pronuncie elas vagam

rua abaixo barcas as velas

cheias e no mastro


treme o crânio com os 

sabres cruzados as pronuncie 

baixinho ou fique só quieto 

então empoçam os barcos 

no porto não içam vela 

e partem os timoneiros 

cospem nas águas e o


vazio no porão de carga

não é tolerável depende

de você desembarcar ou 

não descalço sobre as 

pranchas de novo e de novo 

até que você sinta o mar 

escuro e pesado sob os pés

Tradução de Ricardo Domeneck

Ballade

الألمانية | Max Sessner

Dann geht man eines schönen
Tages verloren du hörst womöglich
eine Melodie kommst ab vom
Weg und plötzlich sitzt du bei den
Bauarbeitern mit am Grill es gibt
 
viel Bier und überm Feuer liegen
dicke Scheiben Fleisch so nach
der vierten Flasche erscheint auf
deinem Unterarm die Tätowierung
eines nackten Mädchens es scheint
 
dir unentwegt zu winken doch kannst
du jetzt nicht weg du machst ihr klar
dass du hier leben willst in einer
dieser stickigen Baracken die du
seit Monaten vom Sehen kennst
 
schon bald ist Herbst der Mond wird
langsam blasser und nur damit
du's weißt in diesem Männermief
wirst du zu Grunde gehen es sei
denn du besinnst dich wieder auf
 
das Mädchen noch vor dem ersten
Schnee wenn niemand euren Spuren
folgen kann und all die Kerle vor
Eifersucht ganz krank am Bauzaun
um ein schwaches Feuer stehen

© Max Sessner
from: Langsame Männer
Wenzendorf: Stadtlichter Presse, 2015
Audio production: Haus für Poesie / 2017

BALADA

البرتغالية

você um belo dia então se 

perde talvez ouça uma melodia 

se desvia do caminho e de 

repente senta-se com pedreiros 

frente a uma churrasqueira há


muita cerveja e sobre o fogo estão

fatias grossas de carne então após

a quarta cerveja aparece em seu

antebraço a tatuagem de uma

menina nua ela parece estar


acenando para você sem parar 

mas você agora não pode sair 

você deixa claro a ela é aqui que

você quer viver nesses muquifos

que há meses conhece de vista


em breve será outono devagar 

a lua empalidece e saiba que

você há de perecer nessa morrinha 

de machos a não ser que se 

relembre da menina logo antes


da primeira neve quando ninguém

pode seguir o rastro de vocês 

e todos os caras ficam nas grades

doentes de tamanha inveja 

ao redor de um fogo brando

Tradução de Ricardo Domeneck

[was übrig bleibt, wenn man das fell gegen den strich bürstet]

الألمانية | Ronya Othmann

was übrig bleibt, wenn man das fell
gegen den strich bürstet: ich ordne die
plastiktüten der größe nach, schiebe den
karren. ich warte an still gelegten
bahnhöfen. meine katze ist in ein
anderes haus gezogen. ich bin zu müde,
um zu kontrastieren. mir fällt nichts ein,
außer-. dein geschorenes haar finde ich
an allen knotenpunkten. ausfallstraßen,
nahverskehrsadern. es ist die falsche
fährte. die karten beschreiben den weg
zur wassertränke. mir fehlen die kamele,
um zu bestreiten, dass-. ich hebe mich
auf und bespreche mit der kommunalen
landschaftspflege. hier gibt es nichts
zurechtzuschneiden, wegzufegen, in den
rinnstein, kopfstein, asphaltierstein. sie
hat sich zurechtgelegt einen schleich-
weg, meine treulose katze, durch den
park und weiter. ich sehe nicht durch.
meine flüche habe ich restlos
aufgebraucht.

© Ronya Othmann
Audio production: Haus für Poesie, 2018

[o que sobra quando se escova o pelo]

البرتغالية

o que sobra quando se escova o pelo

contra o risco: eu organizo as 

sacolas de plástico por tamanho, empurro

as carroças. eu espero em estações

de trem desativadas. minha gata

mudou-se para outra casa. estou cansada

demais para contrastar. nada me ocorre,

a não ser: teus cabelos tosados encontro

em todas as intersecções. Rodovias marginais,

as artérias viárias. é a via falsa. 

os mapas descrevem o caminho

ao bebedouro. faltam-me os camelos

para contestar, que: eu me ergo

e dialogo com o paisagismo 

comunal. nada há por aqui

para endireitar à tosa, à vassoura, no

meio-fio, no paralelepípedo, no asfalto. ela

preparou para si um escape, 

minha gata infiel, pelo 

parque e além. minha visão embaçou-se.

inquieta gastei minhas

maldições.

Tradução de Ricardo Domeneck

[draußen geht der wind wie fliehende gänse]

الألمانية | Ronya Othmann

draußen geht der wind wie fliehende
gänse. es fehlt mir der regen, um das zu
erklären. ich brauche ihn, um die
atemlücken zu füllen. ich frage mich,
wie ordnet man seine zähne im schlaf.
was tut man gegen den hohlraum, den
mund. wohin mit der zunge. es gibt
keine ordnung im blau. das wetter ist
durcheinander geraten. ich klopfe in den
putz. du hörst nicht zu. mir fehlt der
hunger am abend. ohne ihn kann ich
tagsüber nicht schlafen.

© Ronya Othmann
Audio production: Haus für Poesie, 2018

[lá fora há o vento como gansos]

البرتغالية

lá fora há o vento como gansos

em voo. faz falta a chuva para poder

explicar. preciso dele para preencher

as pausas na respiração. eu me pergunto

como organizar seus dentes no sono.

o que fazer contra as cavidades, a

boca. para onde com a língua. não

há ordem no azul. o clima 

acabou confundido. dou batidas

no reboco. Tu não ouves. Faz-me falta

a fome à noite. sem mim não posso

dormir durante o dia.

Tradução de Ricardo Domeneck

[aus dem naturkundemuseum weiß ich]

الألمانية | Ronya Othmann

aus dem naturkundemuseum weiß ich:
zerreibe ich sand zwischen meinen
fingern, erde und kohle, ziert das die
rebe nicht, der eber reizt sich, zeigt sich,
schert zeit um sich. wie sind diese
bäume zu verstehen. und machen die
haare auf meinem körper schon eine
wiese. am einfachsten liebt es sich
rückwärts. nimmt man beim singen
einen vogel hinzu, kann man den
pfeifton weglassen. aus dem naturkunde-
museum weiß ich nicht: ist das mein
wald oder deiner. und ein rückstoß der
sich in den gräsern zeigt, wie ein
geräusch, in einer esche grau, eine
scherge auch, einen sucher, schauer, eine
ursache aus. wohin mit dem schorf.

© Ronya Othmann
Audio production: Haus für Poesie, 2018

[do museu de história natural eu sei]

البرتغالية

do museu de história natural eu sei:

se esfrego areia entre meus

dedos, solo e carvão, a videira

não se enfeita, se espicaça o porco, mostra-se, 

tosa o tempo ao redor. como se compreende

essas árvores. e bastam os pelos 

do meu corpo para formar

um relvado. a maneira mais fácil de amar

é de marcha à ré. adiciona-se ao canto

um pássaro, pode prescindir 

do assovio. do museu de história

natural eu não sei: essa é minha

floresta ou a sua. e um solavanco

que se mostra no relvado como um 

som, em um freixo cinza, também 

um algoz, um argaço, aguaceiro, um 

ardil a menos. onde por a crosta.

Tradução de Ricardo Domeneck

[wirf die löwenmäulchen hinter dich]

الألمانية | Ronya Othmann

wirf die löwenmäulchen hinter dich. du
darfst dich nicht umdrehen. lass alles
zurück, was dich an sie erinnert. den
kehricht vor dem tor, den buchstabierst
du im winter, wie ein sperling den märz.
schon weißt du nicht mehr, was es war.
schnee, als wäre er nie hier gewesen.
leere hofeinfahrten, eine fälschliche
behauptung, die schwarzäugige susanne
hinter deinem rücken. kein name für
dein mädchen. das dorf hat kein haus für
dich. nicht einmal im wald lässt es sich
wohnen. du fragst dich, während du
gehst, ob es das pflaster ist, das deine
schuhe nicht trägt oder deine schuhe
nicht das pflaster.

© Ronya Othmann
Audio production: Haus für Poesie, 2018

[joga para trás as bocas-de-leão]

البرتغالية

joga para trás as bocas-de-leão. tu

não podes virar o rosto. deixa tudo

para trás o que te lembra delas. dejeto

frente ao portão que soletras

no inverno, como um pardal soletra março.

já não sabes mais sequer o que era.

neve como se nunca houvesse ali.

entradas de pátio vazias, afirmação

equivocada, susanne de olhos pretos

às tuas costas. nome nenhum

para tua menina. casa nenhuma na vila

para ti. nem mesmo na floresta pode-se 

morar. tu te perguntas, ao partir,

se é o pavimento que não veste

teus sapatos, se teus sapatos

é que não vestem o pavimento.

Tradução de Ricardo Domeneck

[womit soll man beginnen]

الألمانية | Ronya Othmann

womit soll man beginnen, wenn man die monde
abgelaufen ist wie ein alphabet. mit diesem weiler, dieser
hofleere, zwischen scheune und wald, nicht mal wind und.
was der nebel hervorwürgt, hängt am morgen in den gräsern.
eine feuchte, eine schwere, dein in der mitte geteiltes haar. es sickert
und ich streiche aus, fades licht. ich schlucke nicht. worauf ich warte, 
tritt nicht ein. mit welchem pronomen soll ich dich versehen und
zu welchem ende soll ich atmen. ein zucken in den halmen, bevor ich vergesse,
von welchem tier oder war da eins. in der ferne ein gewitter, das sich in sich
zusammenzieht und wohin. du zählst, ein abgebranntes haus und darin
war nichts außer ein bett, ein stuhl, ein tisch und mein bett, mein stuhl,
mein tisch. mein schlaf ist in eine schieflage geraten. von da an
lässt sich nicht bleiben, nur fragen. wohin trägt man diese gegend.
und womit füttert man den nebel.

© Ronya Othmann
Audio production: Haus für Poesie, 2019

[começar com o quê, se decorremos as luas]

البرتغالية

começar com o quê, se decorremos as luas

como a um alfabeto. com esse vilarejo, esse

vazio de pátio, entre celeiro e floresta, nem mesmo vento e.

o que a neblina esgana pra fora pendura-se de manhã nos gramados.

uma umidade, um peso, teu cabelo repartido no meio. infiltra-se

e eu aliso, luz opaca. não engulo. aquilo pelo que espero

não se dá. com qual pronome devo prover-te e

por qual razão devo respirar. os caules tremem, antes que me esqueça,

por causa de qual animal e se havia um. ao longe um temporal que em si se 

congrega e qual seu destino. tu contas, uma casa queimada e nada nela

além de uma cama, um cadeira, uma mesa e minha cama, minha cadeira,

minha mesa. meu sono entorta-se. daí por diante

não se fica, só se questiona. Aonde levar essa região.

e com o que se alimenta a neblina.

Tradução de Ricardo Domeneck

[Ich bin kein ElitePartner]

الألمانية | Martin Piekar

Ich bin kein ElitePartner, wusstest du,
Dass Ameisen Mikrowellenstrahlung sehen
Und überleben. Wenn ich dich
Zerstückelte und in die Mikrowelle steckte
Würdest du es nicht ausnutzen
Mir an die Wäsche zu gehen? Ich bin
Derart prätentiös unelitär, dass ich gerne
Saufe und Freunden dann sage, wie sehr
Ich sie liebe. Ich streite gern, auch nüchtern.
Ich will am Valentinstag zurückgelassen
Dieses Gedicht schreiben und mich
Ungeliebt fühlen. Ich baue nämlich nicht
Auf die Zukunft. Ich trage schwarz und nur.
Ich trage es ästhetisch und nur. Am besten
Trägst du es auch und nur, weil es dir gefällt.
Du sollst mir nicht gefallen, gefalle mir.
Wenn du einen Mann vergewaltigtst, dann
Ausdrücklich und lang, er könnte ein
Potential Rapist sein. Besser ist es.
Denn wenn wir Hobbys tauschen, hast du
Mir am besten eins verschwiegen, behalts
Für dich. Beziehungsstatus sollst du nicht
Teilen, du sollst ihn leiden. Leide mit mir
Einen. Verkupplung ist nur die Ausrede,
Wenn man nicht mehr voneinander loskommt.
Für Trotzficken hab ich keine Zeit übrig.
Wer will schon Krötenlecken statt
Der Partnerin. Und im Horoskop finde ich nur
Weitere Gründe gegen Online-Dating.
Wenn ich meine Ängste teile, möchte ich
Das du dich mit mir fürchtest.
Autophobie: die Angst alleine
Auf sich selbst gestellt zu sein. Liebe ist eine.
Die Wahrheit ist immer eine andere.
   

© Martin Piekar
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2015

Eu não sou ElitePartner

البرتغالية

Eu não sou ElitePartner algum, você sabia
Que formigas veem radiação micro-ondas
E sobrevivem. Se eu a picasse
Em pedaços e a pusesse no micro-ondas
Você não abusaria disso para
Abrir minha braguilha? Eu sou tão
Pretensiosamente antielitista que gosto
De beber e dizer aos meus amigos o quanto
Os amo. Brigo com gosto, mesmo sóbrio.
Quero, abandonado no Dia dos Namorados,
Escrever este poema e sentir-me
Desamado. Eu não deposito confiança
No futuro. Eu me visto de preto e só.
Eu me visto por estética e só. Melhor
Que você se vista assim porque gosta, e só.
Você não precisa me agradar, eu me agrado.
Se você estuprar um homem, então
Que seja explícito e forte, ele poderia
Ser um estuprador em potencial. É melhor.
Pois se trocarmos passatempos, eu prefiro
Que você me esconda um deles, guarde
Para si. Estado civil não se compartilha,
Tolera-se. Tolere um deles
Comigo. Namoro é apenas a desculpa
Quando dois já não se livram um do outro.
Não tenho mais tempo para trepar por despeito.
Quem quereria lamber sapos em vez
Da parceira. E no horóscopo acho apenas
Mais argumentos contra online dating.
Quando compartilho meus medos, quero
Que você tenha medo deles comigo.
Autofobia: o medo de sozinho
Acabar por conta própria. Amor é uma coisa.
A verdade é sempre outra coisa.

traduzido por Ricardo Domeneck

Hauptbahnhof Frankfurt am Main I

الألمانية | Martin Piekar

I

Meine Perspektiven enden dort
Die Mutter meiner Bahnhöfe
Was hier keimte, kam immer zurück
Zu oder mit mir (immer hat
Eine blinde Quote, aber eine Quote)
A million faces, each a million lies
Schrieb ich im ICE, dann kommen
Die Brücken, die Boote, ich glaube
Sie fahren immer im Kreis – fast
Im geometrischen – Ich schwöre
Bei all meinen Fetischen: Frankfurt
Spiegelt sich nicht im Main
Der Fluss spiegelt sich hier in der Stadt

© Verlagshaus Berlin
from: Bastard Echo
Berlin: Verlagshaus Berlin, 2014
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2015

Ferroviária Central de Francoforte do Meno I

البرتغالية

I

Meus pontos de vista acabam ali 
A mãe de todas as minhas estações
O que aqui floresceu, sempre voltou
Para mim ou comigo (há sempre
Uma taxa cega, mas uma taxa)
A million faces, each a million lies
Eu escrevi num ICE, então vêm
As pontes, os botes, eu creio
Que sempre andem em círculo – quase
Geométricos – eu juro
Por cada fetiche meu: Francoforte
Não se espelha no Meno
O rio aqui se espelha na cidade

traduzido por Ricardo Domeneck

[dass es abstrakter ist]

الألمانية | Martin Piekar

dass es abstrakter ist, wenn ich
vom Ficken spreche, weißt nur du

es ist ein geschollener Traum
zwischen uns

mit Widerhaken häkeln wir in Emotionen
und widersprechen Epikur

so ein bisschen punkromantisch
die panchromatische Frankfurternacht

stellt die Zeit aufs Abstellgleis
und uns die Weichen, frivol und sorglos

zu entgleisen in Nebengassen
Schattengraffito tätowiert

und die kredenzen uns ein Pendelschwingen
von Ideen, bis wir vom Grat der Straßenwoge

in den Morgen schlingern
ich wünschte Caravaggio könnte uns so malen

nein, nur er, nachts vertanzt besoffen
hey – hey du, deine Träume

wandern wie Spinnen ausm Kopf
durch dein wehendes Haar als Schraffur

© Verlagshaus Berlin
from: Bastard Echo
Berlin: Verlagshaus Berlin, 2014
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2015

[que é tão abstrato]

البرتغالية

que é tão abstrato quando eu
falo sobre fodas, só você sabe

é um sonho de gelo à deriva
entre nós

com barbelas bordamos em emoções
e contradizemos Epicuro

um pouco assim punk-romântica
a pancromática noite frankfurtiana

trilha o tempo a desvios mortos
e a nós as agulhas, frívolas e negligentes

para descarrilharmos em ruas paralelas
grafito de sombras tatuado

e os donaires são um pêndulo de ideias
até das lombadas de ondas de asfalto

balouçarmos para dentro da manhã
queria que Caravaggio assim nos pintasse

não, só ele, exdançado bêbado à noite
ei – ei você, os seus sonhos

perambulam como aranhas da sua cabeça
por seu cabelo ondulado qual hachura

traduzido por Ricardo Domeneck

BUCH DER UNRUHE

الألمانية | Manfred Peter Hein

Aufgelassener Ölmühle Schilfdach
Schatten der fällt wo ich lese
im Buch der Unruhe während

langstreift am Strandgemäuer
wie gestern das Maultier
sich scheuernd am Ölbaum

Stimme des Schattens schürft
im Schatten
zu gleicher Stunde

                                          Wo

mögen die wahrhaft
in Wahrheit lebendig
Lebenden sein

© Ammann
from: Über die dunkle Fläche. Gedichte 1986 - 1993
Zürich: Ammann Verlag, 1994
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin

LIVRO DO DESASSOSSEGO

البرتغالية

sombra do telhado de junco 
do moinho aberto que incide onde leio
o Livro do Desassossego enquanto

roça a murada à beira-mar
como ontem a mula
coçando-se na oliveira

a voz da sombra esfola
na sombra
à mesma hora

                               onde

estarão os vivos
verazmente vivos
de verdade?

Tradução: Ricardo Domeneck

[es gibt kein richtiges Leben im Falschen]

الهولندية | Frank Keizer

es gibt kein richtiges Leben im Falschen
leer ik van Adorno, en daar heb ik
een tijdlang gezwegen
en toch doorgeleefd
hoe kan ik zo veel lullen
in mijn vastlopen
ik schrijf mijn affecten
dat ze me pijn doen
en vraag ze waarom ze me niet willen veranderen
daarna heb ik veel gezocht met Google
dat ook niet weet hoe het voelt
leven in de eenentwintigste eeuw
bedoel ik, dat is iets proberen
je stoten aan verbanden en buigzaamheid
hoe voelt dat?

© Frank Keizer & Uitgeverij Polis
from: Onder normale omstandigheden
Uitgeverij Polis, 2016
Audio production: Literaturwerkstatt / Haus für Poesie, 2016

[Es gibt kein richtiges Leben im Falschen]

البرتغالية

Es gibt kein richtiges Leben im Falschen
ensina-me Adorno, e logo em seguida
fiquei em silêncio por um tempo
você continuou vivendo
como posso tagarelar tanto
enquanto me afundo
escrevo a minhas afeições
que elas me machucam
e pergunto por que se recusam a mudar-me
e então faço uma pesquisa rigorosa no Google
que também não sabe como é o sentimento
de viver no início do século XXI,
quer dizer, significa ao menos tentar,
chocando-se em relações e maleabilidade,
como se sente isso?

traduções de Ricardo Domeneck

wenn ich groß bin

الألمانية | Max Czollek

wenn ich groß bin
fürchte ich mich nicht
vor überlandflügen

spiele ich ein lied
auf der wirbelsäulenflöte
meiner ersten liebe

wenn ich groß bin
fange ich dorftrottel
mit diesen vogelhänden

lasse sie eine autobahn
ausrollen auf das meer
für meine wolkenpanzer

© Verlagshaus Berlin
from: Jubeljahre
Berlin: Verlagshaus Berlin, 2015
Audio production: Haus für Poesie, 2017

quando eu crescer

البرتغالية

quando eu crescer
eu não terei medo
de voos continentais

tocarei uma canção
na flauta-vértebra
do meu primeiro amor

quando eu crescer
prendo idiotas da vila
com mãos de pássaro

deixo-os estender
uma rodovia na água
a meus tanques-nuvem

Tradução: Ricardo Domeneck

an einen vorgeborenen

الألمانية | Max Czollek

I.

in die städte kam ich zur stunde
der hochzeiten als da
freude herrschte
            unter den menschen

ich tanzte mit ihnen

schlief unter den stummen
ohne sprache den mund voll
gestopft mit brücken

die kraft meiner arme
ging in koffern
trug ich die angst

II.

es ist wahr
ich tauchte im großen meer
verlor mein haar dabei

getragen von glück
als das aussetzte
            war ich unterwegs
                                              
die hoffnung dünn wie ein blatt
im wald (ich rede von bäumen
rede ich)

und kann den weg nicht finden
zu den häusern aus luft

III.

wirklich ich lebe in zeiten
wo die unglücklichen nicht
mehr weinen wir einfach
weiterschreibenüberall
die finger am abzug wer
kann da noch freundlich
bleiben was hilft es wozu
sind wir geworden am ende
der eismeere

            wohin die straßen führten

© Verlagshaus Berlin
from: Druckkammern
Berlin: Verlagshaus J. Frank, 2012
Audio production: Haus für Poesie, 2017

àquele que nasceu antes

البرتغالية

I.

cheguei às cidades à hora
das bodas quando
ali a alegria imperava
entre os homens

eu dancei com eles

dormi entre os mudos
sem língua a boca cheia
entupida de pontes

a força dos meus braços
foi-se em malas
carreguei o medo

II.

é verdade
mergulhei no mar cheio
perdi nisso os cabelos

carregado pela sorte
quando isso falhou
eu estava de partida

a esperança magra feito folha
na mata (eu falo de árvores
eu falo)

e não encontro o caminho
para as casas de ar

III.

de verdade vivo em tempos
em que os infelizes nem
choram mais nós somente
escrevemos adiante – por todo
lado os dedos em gatilhos quem
pode seguir simpático de que
adianta por que nos tornamos
ao fim do oceano ártico

            aonde levavam as ruas
para o meu tempo

Tradução: Ricardo Domeneck

jubiläum

الألمانية | Max Czollek

durch meine wohnung
wandern schatten
trinken auf gestern

hinter den wänden
ruft es nach ihnen
kann sein: schweigen

oj, ich habe flaschen
geleert für das meer
morgen fahre ich hin

bis dahin sterben
meine väter in weiß
sie werden das nicht verstehen

© Verlagshaus Berlin
from: Jubeljahre
Berlin: Verlagshaus Berlin, 2015
Audio production: Haus für Poesie, 2017

aniversário

البرتغالية

pelo meu quarto
vagam sombras
brindam ao ontem

atrás das paredes
elas são invocadas
pode ser: silêncio

oi, esvaziei garrafas
para o oceano
amanhã sigo para lá

antes morrem
meus pais em branco
vocês não entenderão isso

Tradução: Ricardo Domeneck

& dann fing ich noch einmal mit der Zeile an

الألمانية | Odile Kennel

auf einmal, da war ich
an dieser Stelle
aus meinem Leben
heraus, an dieser Stelle war
wenn man genau hinsah, nichts
Nennenswertes, kein Nennwert, kein
Ding, kein Name für das Ding.

Hätte ich geklopft, man hätte mich vielleicht
hereingelassen. Ich brauche dieses blasse
Licht im März, sage ich, ich brauche es
am Samstagnachmittag das Klirren
der Glascontainer zu hören und dabei zu denken
dass ich an nichts denke, ich brauche es
dass ein Schuh nur ein Schuh ist
ein Kühlschrank ein Kühlschrank
und der Wecker da draußen
der jeden Tag um die gleiche Zeit piept
nur ein Wecker da draußen
der jeden Tag um die gleiche Zeit piept.

Diese neue Zeile, die ich beginne, endet
vielleicht nie, oder hebt ab
so wie ein Hund hinausliefe, nur
weil die Tür offen steht



nach Zeilen von Rolf Dieter Brinkmann


© dtv
from: oder wie heißt diese interplanetare Luft.
München: dtv premium, 2013
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2014

E então começara de novo com o verso

البرتغالية

& então começara de novo com o verso,
     de repente, lá estava eu, nesse ponto
                                       em minha vida.
(Rolf Dieter Brinkmann)



De repente, lá estava eu,
nesse ponto, saída de minha própria
vida, nesse ponto, quando se
observava de perto, nada
havia de significante, não havia
signatário, coisa ou nome para a coisa.

Houvesse batido à porta, teria sido talvez
permitida minha entrada. Preciso, digo, dessa luz
pálida de março, preciso, nos sábados
à tarde, ouvir o tilintar
de vidro para reciclagem e então pensar
que não penso em nada, preciso
que o sapato seja apenas sapato,
uma geladeira, uma geladeira,
e o despertador, que algures
toca todos os dias à mesma hora,
apenas um despertador, que algures
toca todos os dias à mesma hora.

Esse verso novo que começo, talvez nunca
termine, ou fique, como
um cachorro escaparia, apenas
por estar aberta a porta.

Traduzido por Ricardo Domeneck

Salbei denken

الألمانية | Odile Kennel

ich denke Salbei, wenn ich Salbei
sehe, denke grüngraue, samtene Blätter
paarweise gegenständig, Lippenblütler
bitter und würzig, oder ich denke nichts
nicht Salbei, nicht Pflanze, nicht Duft
weil vor lauter Denken der Salbei
wohl vorkommt am Fenster, doch
verkommt im Kopf, er also für mich
nicht existiert, er aber für sich
existiert und nicht weiß, wie er heißt
und nichts weiß von seiner Existenz
vermutlich gar nichts weiß.

Ich denke du wenn ich nicht
Salbei denke, nicht denke
dass die Mauersegler dösen
in den höheren Schichten der Luft
während wir wach liegen am Fenster
ich denke du, während der bittere
und würzige Duft in deine und meine
Existenz dringt, von der er nichts weiß
und so entsteht ein existenzielles
Ungleichgewicht im Nachmittagslicht
denn wir wissen, wir wissen sehr genau
dass alle Zeit nur eine himmelwärts stürzende
Tasse
ist oder ätherisches Öl, oder
eine Apparatur der Einsamkeit, vermutlich



mit einem Zitat von Ulrike Draesner

© dtv
from: oder wie heißt diese interplanetare Luft.
München: dtv premium, 2013
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin, 2014

Pensar sálvia e você

البرتغالية

Eu penso sálvia quando eu
vejo sálvia penso folhas de veludo
verdes-cinzas pareadas opostas ou
labiadas ou temperadas e amargas
ou eu penso em nada nem sálvia nem
planta nem cheiro pois por tanto
pensar a sálvia se encontra
à janela se desencontra na mente pois
ela para mim não existe mas
existe para si nada sabe de
seu nome nada sabe de seu
existir presume-se que nonada sabe.

Eu penso você quando eu não
penso sálvia quando não penso que
os andorinhões cochilam nas altas
camadas do ar e nós deitadas
despertas à janela eu penso
você e o cheiro amargo
e temperado infiltra-se no seu
no meu existir de que nada sabe
e assim origina-se um desequilíbrio
existential na luz pós-meridiana
pois sabemos sabemos muito bem
que todo tempo é apenas uma xícara a
despenhar-se aos céus ou óleo etéreo
ou a maquinaria da solidão, presume-se.

Traduzido por Ricardo Domeneck

Ég er bréfshaus

الأيسلاندية | Eiríkur Örn Norðdahl

Ég er dagsetning, staður

            Ég er formlegt kurteisisávarp.

            Ég er opnunarsetning. Ég er kynningarsetning. Ég er
setning sem rekur erindi, sem rekur erindi, rekur erindi. Ég er sár
bón örvæntingarfullrar manneskju. Ég er reiðinnar býsn af hógværð.
Ég er lýsing á stórkostlegum afrekum. Ég er ítrekun hógværðar. Ég
er upptalning, upptalning, upptalning.
            Ég er frekari útskýring, nánari útlistun. Ég er ítrekun
sárinda, frásögn af eymd. Ég rek fingur í gröft opinna sára. Ég
höfða til mennskunnar. Ég höfða til samviskunnar. Ég höfða til
sektarkenndar vegna atburða horfinna tíma. Ég fer viljandi með
ósannindi.
            Ég er upphaf frásagnar. Ég er útskýring á aðstæðum. Ég er
vísun í aðra sögu. Ég er miðja frásagnar. Ég er ris. Ég er uppgjör. Ég
er frágangur. Ég er málsháttur sem tekur saman söguþráðinn á
einfaldan hátt. Ég er ný túlkun á boðskap sögunnar.
            Ég er uppástunga um málalyktir. Ég er enn frekari ítrekun
sárinda. Ég er bruðlun óljósra hótana. Ég er aumkunarvert
sársaukaóp. Ég er örvænting að níu tíundu hlutum og reiði að
einum tíunda hluta. Ég er boð um kynferðislega greiða. Ég er lýsing
á staðsetningu og tíma. Ég er símanúmer.


            Ég er formleg kurteisiskveðja.

                                    Ég er undirskrift
                                    Ég er nafn

© Eirikur Örn Norddahl
Audio production: Literaturwerkstatt Berlin 2010

PAPEL TIMBRADO

البرتغالية

Eu sou um cabeçalho.

            Eu sou uma data, um local.

            Eu sou uma saudação formal.

            Eu sou uma frase de abertura. Eu sou uma frase de apresentação. Eu sou uma frase que aborda negócios, aborda negócios. Eu sou uma súplica de um ser humano em desespero. Eu sou grandes esplendores de modéstia. Eu sou uma descrição de grandes conquistas. Eu sou reiteração de modéstia. Eu sou uma enumeração, uma enumeração, uma emuneração.
            Eu sou explicações subsequentes, dissertação precisa. Eu sou reiteração de súplica, narração de miséria. Eu enfio um dedo no pus de feridas abertas. Eu apelo à humanidade. Eu apelo à culpa causada por eventos em tempos perdidos. Eu digo inverdades de propósito.
            Eu sou o início de uma narrativa. Eu sou uma explicação de circunstâncias. Eu sou uma alusão a outra narrativa. Eu sou o meio de uma narrativa. Eu sou a ascensão de uma narrativa. Eu sou o lucro de uma narrativa. Eu sou uma conclusão. Eu sou um provérbio que resume de forma clara uma trama. Eu sou uma nova interpretação de uma narrativa.
            Eu sou uma sugestão de retorno. Eu sou nova reiteração de súplica. Eu sou o desperdício de ameaças vagas. Eu sou um grito patético de dor. Eu sou nove décimos de desespero e um décimo de ira. Eu sou uma oferta de favores sexuais. Eu sou uma descrição de hora e local. Eu sou um número de telefone.


            Eu sou uma saudação formal.

            _____Eu sou uma assinatura_____
                          Eu sou um nome

Tradução de Ricardo Domeneck

[Sommerregen. Schwarzer Abend. An den Rand]

الألمانية | Jürgen Becker

Sommerregen. Schwarzer Abend. An den Rand
einer Todesmeldung gekritzelt die verfügbaren Daten,
die das Interview in Gang setzen, die Erinnerung
an entrückte Begegnungen, von denen
wir uns mehr Zukunft versprochen hatten.

Der neue New Yorker bleibt offen liegen.
Was heißt Zukunft, wenn sich das letzte Gespräch
per Bandschleife endlos wiederholen läßt
und ein Nachruf zehn Jahre liegt im Archiv.
Trockener Sommer. Der Abend ist hell.

Eine Reise ist vorzubereiten. Man muß
durch eine Nebelfront, deren Weiß so weiß
wie chinesische Trauer ist. Bitte keine Zitate.
Thema vom Tisch. Die Gerstenfelder sind leer,
und man liest, kompliziert sind die Städte.


In memoriam Donald Barthelme

© Suhrkamp Verlag Frankfurt am Main 1990
from: Das englische Fenster. heute in: Die Gedichte
Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag , 1995
ISBN: 3-518-39096-1
Audio production: 2000 M. Mechner, literaturWERKstatt berlin

Chuva de verão. Noite negra. No canto

البرتغالية

Chuva de verão. Noite negra. No canto
de um obituário as datas disponíveis rabiscadas
que deram andamento à entrevista, a lembrança
de encontros de sonho, dos quais
nos prometêramos mais futuro.

A nova edição da New Yorker fica aberta.
O que significa futuro, quando a última conversa
deixa-se repetir eternamente na fita rotatória
e um necrológio fica dez anos em arquivo.
Verão de seca. A noite tão clara.

Uma viagem espera os preparativos. Tem-se
que atravessar o nevoeiro, do qual o branco
é tão branco quanto o luto chinês. Sem citações,
por favor. Assunto encerrado. Os campos de cevada
vazios, e lê-se que complicadas são as cidades.

Tradução: Ricardo Domeneck

Was zu erreichen ist

الألمانية | Jürgen Becker

Die nächste Stunde. Als würde man warten. Aber
die Beschäftigungen gehen weiter, von den Altlasten wollen wir
gar nicht erst reden.

Hell genug ist es draußen. Es bedarf keiner
Aufforderung kein Motiv für den Leitartikel; ich sag dir
alles früh genug.

Es ist wirklich ganz einfach. Mit dem Rücken zur Wand,
zum Fenster, zum Bildschirm, zur Tür. Nichts mitbringen,
der Tisch bleibt jetzt leer.

© Suhrkamp Verlag Frankfurt am Main 1999
from: Journal der Wiederholungen. Gedichte
Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1999
ISBN: 351841026-1
Audio production: 2000 M. Mechner, literaturWERKstatt berlin

O que há por ser alcançado

البرتغالية

A hora seguinte. Como se alguém fosse esperar. Mas
as obrigações não param, sobre os dejetos não queremos
nem falar.

Lá fora está claro bastante. Não se exigem
requisições nenhum assunto para o editorial; eu direi tudo
com bastante antecedência.

É realmente muito simples. De costas para a parede,
para a janela, para a tela, para a porta. Não traga nada,
a mesa agora ficará vazia.

Tradução: Ricardo Domeneck

MEILERRAUCH

الألمانية | Manfred Peter Hein

Hier wo nichts als dies hier
ins Bild kommt
sitz nieder
am Meiler beim dritten
Glas Tee frag
den Köhler

Nach Lamponia mit Augen
zeichnet der Berg
Versfuß und Pfad

Vers
auf die Trümmer
der Stadt die reden
und reden im
Licht der
Pappel

Meiler
Glut und Rauch laß
Rauch und Asche uns sein

© Ammann
from: Über die dunkle Fläche. Gedichte 1986 - 1993
Zürich: Ammann Verlag, 1994
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin

FUMO DA CARVOARIA

البرتغالية

Aqui onde nada além disso aqui
adentra a imagem
sente-se
à carvoaria com a terceira
xícara de chá pergunte
ao carvoeiro

sobre Lamponia com os olhos
a montanha desenha
métrica e vereda

verso
sobre as ruínas
da cidade que falam
e falam à
luz do
choupo

brasa e fumo
da carvoaria deixa-nos
ser fumo e cinzas

Tradução: Ricardo Domeneck

green

الألمانية | Sabine Scho

jemand will, dass ich gras
sage und eine decke aus-
breite, gutes gras, die reine
üppigkeit der wiederkäuer
es ist nichts, gebe ich bereit-
willig zu verstehen, nichts als
wind in den weiden, marstaug-
lichkeit, ein blaumann aus der
schnellreinigung, vorzugsweise
photosynthese, stromatolithen-
felder, temperaturstürze in wüster
blüte, verkrustete aussicht, kosten-
lose lasergravur, nichts und kein
bisschen niederschlag

© 2008 kookbooks, Idstein
from: farben. Gedichte
Idstein: kookbooks, 2008
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin

green

البرتغالية

alguém quer que eu diga
erva e uma toalha es-
tenda, erva da boa, a pura
opulência dos ruminantes
não é nada, dou voluntaria-
mente a entender, nada mais que
vento nos salgueiros, aptidão
para Marte, macacão azul
lavado a seco, de preferência
fotossíntese, campos de
estromatólitos, quedas de
temperatura em florescência
bravia, paisagem incrustada
gravura grátis a laser, nem nada
de nada de precipitações

Traduzido por Ricardo Domeneck
VERSschmuggel de Poesiefestival Berlin 2008


chartreuse

الألمانية | Sabine Scho

glaub das doch bitte nicht
was man sagt, was man sieht
die abgewedelten deprivationen
der aufgehellte fleck, und frag
nicht nach fahnen, am malen
ist doch was dran, man kann
auch taschenschirme klonen
und behaupten sie seien geklaut
bis davon was sichtbar wird
bleibt regen regen, »es läuft
es rollt die leere fassade«
hat es je jemanden interessiert
was man dahinter wie destilliert

© 2008 kookbooks, Idstein
from: farben. Gedichte
Idstein: kookbooks, 2008
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin

chartreuse

البرتغالية

não acredite, por favor
no que se diz, no que se vê
as privações subexpostas
a mancha clareada, e não peça
por correções, a pintura
tem sim seu valor, pode-se clonar
miniguarda-chuvas também
e alegar que são roubados
até que se torne visível
chuva continua chuva, “corre
rola, a fachada vazia”
será que jamais interessou a alguém
o que se destila atrás e como?

Traduzido por Ricardo Domeneck
VERSschmuggel de Poesiefestival Berlin 2008


Autobahnring

الألمانية | Jürgen Becker

Hochblickend, die Kette der Kraniche,
sie wechselt gerade die Keilspitze aus,
die Flugrichtung bleibt, die Geschwindigkeit
ändert sich nicht, einige schreien, dann
schreien andere, die Kette entfernt sich zwischen
den Städten, die still sind in der Luft.

© Suhrkamp Verlag Frankfurt am Main 1999
from: Journal der Wiederholungen. Gedichte
Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag , 1999
ISBN: 351841026-1
Audio production: 2000 M. Mechner, literaturWERKstatt berlin

Anel Viário

البرتغالية

Ergo os olhos, a formação de grous
troca a base do seu V, a direção
do voo segue a mesma, a velocidade
não muda, alguns gritam, então gritam
outros, a formação distancia-se entre
as cidades que estão em silêncio no ar.

Tradução: Ricardo Domeneck

atomic tangerine

الألمانية | Sabine Scho

eine tür, was für ein gebrauch
ein schloß, scharnier, kragen-
stäbchen, damit misst man
stahlzargen aus, beton, akten
und, ja, akten. »so machen wir
das licht aus«, auf stapeln von
papier, aber grauen ist doch auch
eine farbe, betont sachlich mit dem
besenstiel, beinahe wie zuhaus, nur
höher, der dritte teil des karma-
spiels fiel aus, no alarms and
no surprises
, ein korridor, was
für ein schlauch, pizza aus der
plätzchendose, und da draußen
wird es immer weißer, an weih-
nachten, heißt es, sei das so brauch
glitzerzäune, ein letztes umschlussbier
but, please, couldn’t you let me out of here

© 2008 kookbooks, Idstein
from: farben. Gedichte
Idstein: kookbooks, 2008
Audio production: 2008 Literaturwerkstatt Berlin

atomic tangerine

البرتغالية

uma porta, mas que função
um cadeado, dobradiça, esticador
de colarinho, com isso se mede
um caixilho de aço, concreto, atas
e, sim, atas. “assim é que
apagamos a luz”, sobre pilhas de
papel, mas cinerário também
é uma cor, enfatiza bem concreto
com a vassoura, quase em casa, só
que mais alto, excluiu-se o terceiro
ato duma peça de carma, no alarms and
no surprises
, um corredor, mas
que distensão, pizza na lata
de biscoito, e lá fora
cada vez mais branco, na noite
de Natal, diz-se, costuma ser assim
grades brilhantes, última cerveja
entre detentos, but, please, couldn't you
let me out of here

Traduzido por Ricardo Domeneck
VERSschmuggel de Poesiefestival Berlin 2008