Ricardo Domeneck
Texto em que o poeta medita sobre a fuga inexeqüível da História como turista em Budapeste, Hungria
Texto em que o poeta medita sobre a fuga inexeqüível da História como turista em Budapeste, Hungria
Oblivion não
me assusta,
Claudette Colbert.
Evito praticar o
nado-sincronizado
no formol das evidências
fotográficas de
moi même & myself.
Se possuísse na geografia
residência fixa em Twin Peaks,
sei que talvez os tupiniquins
elegessem os tons e timbres
de minha sinfonia de ossículos
para martelo, bigorna e estribo:
echolalaica
do silenciável
se a alfândega
rege as adegas
da anomalia.
Meus autobiógrafos
impossibilitados de
narrar meu martírio
em Montmartre,
se não houve
sobreviventes
com meu nome
em Guernica
ou Treblinka.
Em meio à hipoteca
dos meus despejos
não invoco
Hiroshima mon glamour.
Escuta aqui, Titanic:
tão Aristóteles quanto
Heródoto ou aritmético
o erótico,
todo mundo
sabe que o manual
de dança
conspira pelo decreto
dos pés
como obsoletos.
Não venha
mimetizar-me o miasma.
Qualquer Xerxes
a chicotear o mar
sabe que olvido de Myrna Loy
nao é ouvido de Mina Loy
e Góngora não serve gôndolas
a canais de televisões, jornais
vespertinos em dia
crônico do hodierno
se é
hipótese a manhã.
Tal qual
este planeta
aceita satélites
ou ser terceiro
em relação
a um sol
localizável mesmo
em seu espiralar
de eixo,
que não
pausa a cada
0:00
ou advoga o
stand-by
do meu sono.
Buda não
é Manhattan,
feito aquele Guesa
em vertigem no Stock
Market ou Lorca
histérico no Harlem.
Narrar o passado
é tal ginástica odisséica,
& ! que ginga, que físico
deste acrobata do empírico.
Eu aceito, sim, da totalidade,
o resquício, poderia escrever
sobre Nova Iorque,
Manaus ou Poughkeepsie
mas nunca o pús nos pés
lá, isto aqui é Budapeste,
não Ilhas Mauritius.
Hoje em 1956 jamais
corresponder-se-ia
Reverdy a O´Hara,
aceito a ladainha
da lingüeta sem chave
à resistência da História
e a cartografia
inelegível, o mundo.
Sim, Budapest não é New York
& meu miocárdio está no bolso:
pocket book de Miklos Radnóti.