Jussara Salazar
oh senhor! (I)
I
o modo como ela ouvia a chuva
um último momento e o rapaz lhe salva
quase sempre ele
vai requebra pela calçada
calça justa cabelos negros
sobre a pista de dança daquele modo
como ele
o rapaz
dançava
o corpo nos 70 aquele rapaz
o modo como agora ela reza senhor
saída de um retábulo hieronymus
sobre a mesa da sala
os pássaros monstros voando como balas
estilhaçando as janelas de um céu azul
os pássaros sem modos do amanhecer
os estridentes “eles"
cristais presos ao vidro
as balas azuis as balas
os cavaleiros com suas caras
a cruz no peito estilhaçado pelos mesmos pássaros
a sala a vala rasa a vara dos
treze anjos no teto a casa
são anjos com olhar afiado
de oh piedade senhor tende de nós
o modo como ela sabia das flores dias
e dias lilases branco pálidos como seu rosto
e as flores até enegrecerem secarem
vivas como velas
tremulando sobre as paredes
bebendo as noites de celan
o modo como ela atravessava e bebia o corredor
e a noite varava
oh senhor!